Juliette enfrenta haters

Juliette enfrenta haters, machismo e xenofobia em seu novo single

Juliana Rocha/divulgação


“Você é um fenômeno. No palco montado pelo público, você nunca saiu do primeiro lugar”, disse Tiago Leifert para Juliette quando ela venceu o “Big Brother Brasil 21”, há pouco mais de dois anos. Pois a paraibana nunca mais deixou esse palco, onde, nas palavras dela, trilha “o sonho de criança adormecido”: cantar.
 
 
“Escolhi esta música pela mensagem: ‘sai da frente que eu tô chegando’, ‘eu corri mais do que falam por aí’. Vou mostrar quem sou, uma Juliette forte, assertiva e firme”, diz. A letra autobiográfica vem embalada pelo “pop sutil, com elementos de pífano e triângulo”, detalha Juliette.
 

"Pode aperrear o povo aí para me chamar - contratantes, prefeitura, governo, todo mundo. Quero conhecer cada pedacinho do Brasil e tenho carinho muito grande por Minas Gerais. Nesta fase da minha carreira, pretendo andar por mais lugares e conhecer mais pessoas e culturas"

 
 
Animada, a cantora comenta que o videoclipe “é um espetáculo à parte”. “A gente conseguiu unir tudo o que eu sou”, afirma. Ela aposta na mistura de “literatura, elementos regionais, clássicos antigos e modernos, além de muita moda”.

Cabe até Shakespeare no projeto de Juliette. “Ele é o meu maior ídolo, a gente fez uma releitura”. E garante: “Consegui passar a mensagem de uma forma original e muito bonita. Sou fã do clipe, ficou uma obra de arte.”
São muitas as referências nesse vídeo. Além de Shakespeare, uma outra é especial. “(O clipe) Começa tocando pífano dentro de um lugar como se fosse um casulo, referência a Zabé da Loca, musicista nordestina com história de resistência e força”, pontua.
 
“Depois, a cortina sobe e todo mundo está me observando, como se estivesse despida, à mostra, revelada ali”. Nesse momento, Juliette está diante de elementos que fazem menção aos haters, ao machismo, à xenofobia e ao preconceito que ela já enfrentou. “Tudo isso me julgando, mas eu tentando seguir, muito firme, tendo que resistir, armada de tudo o que eu sou. O clipe é muito complexo e profundo.”


 
Juliette se sente lisonjeada ao ser comparada à cantora pernambucana Duda Beat. “É uma artista que admiro muito. É inevitável que a obra de Duda ou de artistas nordestinos tão brilhantes quanto ela me influencie. Duda é uma referência para mim”, comenta.
 
A paraibana acredita que o sotaque nordestino das duas causou essa comparação. “As pessoas não estão acostumadas a escutar música pop com sotaque”, observa.
 
Lançado o primeiro single, a cantora revela detalhes de seu novo disco, que vem sendo elaborado há um ano e meio e entrou agora na fase de produção. Algumas canções estão prontas, enquanto “identidades visuais e outras coisas ainda estão sendo construídas”, diz ela.
 
A sonoridade terá um pouco de tudo. Diversos elementos se alternam, mas estarão conectados entre si. Podemos esperar pop, samba, pagode e funk na voz de Juliette. “Vou brincar com todos os ritmos que eu curto e gosto. Quero cantar da minha forma”, avisa ela.
 
Durante a conversa com o Estado de Minas, Juliette comentou que, naquele momento, se sentia inspirada por Alcione.
 
“Fui ao Prêmio da Música (Brasileira, realizado em 31 de maio) e vi a história inteira da Alcione. Ela pode cantar o que quiser, mas é sempre a Alcione. Com as devidas proporções e respeito, quero cantar e que as pessoas entendam que é a Juliette ali”, diz.
 
Tendência mundial na cena da música, a imagem é fundamental no projeto da ex-BBB. “Algumas faixas do álbum terão visualizers e talvez tenhamos outros clipes. A gente só está decidindo as formas, vai ser tudo conectado”, adianta.
 
Também haverá a participação de outros artistas. “Acho que quatro feats bem variados, de diversos estilos, com pessoas com quem tenho conexão”, ela deixa escapar.
 
O objetivo de Juliette é que as pessoas sintam o álbum como um todo, degustando-o por partes. “A cada música que escutarem, terão consciência de que aquilo é um pedacinho de um projeto maior”, comenta ela.

Desafio

Consolidar a carreira como cantora é algo desafiador para esta advogada e maquiadora de 33 anos. Durante o “Big brother”, ela soltou a voz, fazendo com que canções como “Deus me proteja”, de Chico Cesar, e “Dona Cila”, de Maria Gadú, ganhassem adeptos nas plataformas digitais. Não deu outra: com o fim do reality, o público quis continuar ouvindo aquele timbre suave.
 
Nesse processo, Juliette teve de se reinventar. “Foi tudo muito diferente, depois dos 32 anos reaprender uma profissão, uma rotina, um universo totalmente novo, com que eu nem sonhava. Todos os dias foram um aprendizado, uma lição. Um erro, um acerto aqui, e a gente vai se adaptando”, afirma.
 
Ela jura que não chegou ao “BBB” com a intenção de ser cantora. “Gostava de reality musical quando era criança, mas era um sonho muito adormecido. Sabe quando você é criança e sonha em ser astronauta, cantora, diva pop? Esse sonho ficou dormindo enquanto eu precisei acordar, estudar e trabalhar”, relembra.
 
Cantar durante o programa era uma forma de buscar companhia, diz ela. “Queria me conectar com o povo aqui de fora. Acabou que as pessoas se conectaram com a minha música. Quando eu saí (do “BBB”) e vi que já me enxergavam como cantora, uma artista, fico emocionada. Viram o sonho que estava dentro de mim quando criança. Costumo dizer que viram a minha criança.”
 
Poucos meses depois da final do “BBB 21”, ela lançou EP com seis faixas. “Ele estava semipronto quando saí do reality. Tinha algumas escolhas minhas, a equipe selecionou outras. Fiz o filtro final, alterei algumas coisas de ritmo, letra, sonoridade e a gente lançou”,conta.
 
Atualmente, Juliette vê aquele trabalho como algo “introspectivo”. “Eu estava um pouco fragilizada. Mas escuto o EP em um lugar de carinho, como se estivesse olhando para a Juliette machucada, um pouco mais frágil, tentando se encontrar e cantando como se fosse boia de salvação. Parece que uma criança machucada canta ali”, comenta. “Hoje me empoderei, me sinto mais segura e canto com o peito aberto.”

A ex-BBB paraibana conquistou muitos fãs em Minas. No Spotify, por exemplo, Belo Horizonte aparece em terceiro lugar no ranking de seus ouvintes mensais, que somam quase 1 milhão no total. Ela pede aos “cactos” mineiros (apelido dos fãs) que se empenhem em pedir shows de Juliette no estado.
 
“Pode aperrear o povo aí para me chamar – contratantes, prefeitura, governo, todo mundo. Quero conhecer cada pedacinho do Brasil e tenho carinho muito grande por Minas Gerais. Nesta fase da minha carreira, pretendo andar por mais lugares e conhecer mais pessoas e culturas, me conectar. É só mandar me contratar que eu vou”, garante.

“SAI DA FRENTE”
Single de Juliette
Canção de Carol Biazin, Paiva, Lucas Vaz Nave, Pump Killa e Nairo
Disponível nas plataformas musicais