De Belo Horizonte a Ouro Preto, ex-capital de Minas, um banho de arte, história, conhecimento e, claro, muita diversão – afinal, tanto nos dois polos culturais como ao longo dos 95 quilômetros de estrada, há belas paisagens entre montanhas, comida típica da boa, artesanato criativo e muita conversa para guardar na cabeça ou na memória digital.

Nesse percurso de mergulhos culturais, o Estado de Minas apresenta museus com ricos acervos, além de exposições temporárias, indicando caminhos para aguçar os sentidos que podem ser trilhados no feriado de Corpus Christi, nas férias de julho ou em qualquer época.

As primeiras portas se abrem no Memorial Minas Gerais Vale, na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul da capital. Entre salas expositivas e espaços de convivência, há 31 ambientes à disposição no prédio da antiga Secretaria da Fazenda, inaugurado junto de BH, em 12 de dezembro de 1897. “Este equipamento cultural é um cartão de visita do estado”, orgulha-se o diretor Wagner Tameirão.

Peça do Museu do Oratório

Museu do Oratório, em Ouro Preto, guarda peças centenárias

Larissa Kumpel/EM/D.A Press


Destacando o Memorial como “grande guardião da cultura mineira”, com acervo distribuído por três pisos e mais 56 horas de vídeo, Tameirão informa que o espaço próprio do Instituto Cultural Vale em Minas contempla as diversas regiões, de forma especial o Vale do Jequitinhonha.

Desde a inauguração há 13 anos, 1,1 milhão de moradores e visitantes aceitaram o convite para entrar e se sentir à vontade. Atualmente, 30% do público vêm de fora de BH.

Diálogo entre séculos

No passeio pelos três pisos interligados pela escadaria forjada em Bruges, na Bélgica, o visitante constata a força da cultura mineira e pode se emocionar em muitos momentos – basta observar algumas das mais representativas tradições de Minas, a exemplo da cerâmica do Jequitinhonha, dos altares de devoção popular, das imagens de festas religiosas no interior.
 
Eder Santos, pioneiro da videoarte

Em "Retro/ativa", Eder Santos, pioneiro da videoarte, convida o público a mudar sua relação com a imagem. Trabalhos dele estão expostos no Memorial Vale, em BH

Memorial Vale/divulgação
“Existe um diálogo permanente entre passado e presente, para contar a história das Gerais do século 18 ao século 21”, observa o diretor.

Nessa ponte entre os tempos, a tecnologia conecta ambientes sensoriais e atividades educativas, com exposições combinando cenários, luzes, sons, vídeos, imagens e permitindo interação e experiências. Atualmente, está em cartaz a mostra temporária “Retro/ativa”, de Eder Santos, um dos pioneiros da videoarte mundial.

Museu do Oratório guarda mobiliário do Brasil Colônia

Museu do Oratório guarda mobiliário do Brasil Colônia

Larissa Kumpel/EM/D.A Press


A viagem cultural segue para Ouro Preto, Patrimônio Mundial, atrativo para todas as gerações. A parada inicial é no Museu do Oratório, que completa 25 anos em 2023, tem gestão do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, presidido pela empresária Angela Gutierrez, e patrocínio master do Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Com acervo pertencente ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o museu localizado no Adro da Igreja do Carmo, no Centro Histórico, encanta os turistas. Cerca de 1,8 milhão de pessoas o visitaram em 25 anos. O belo conjunto de 120 oratórios e 300 imagens do século 17 ao 20 se divide entre subsolo, térreo e primeiro pavimento.

Moradores de Sete Lagoas, na Região Central de Minas e casados há 42 anos, Luciano Reis, bancário aposentado, e Ilsa Reis, dona de casa, gostaram de tudo o que viram, elogiando a organização e o espaço arejado, claro e iluminado.

“Como é bom estar num lugar elaborado com tanto zelo, dotado de boa ventilação e janelas”, afirmou Ilsa Reis. Atento a todos os detalhes, Luciano, diante dos oratórios, encontrou na palavra “maravilhosos” a melhor para descrever o acervo.
 
Luciano e Ilsa Reis veem peças dentro da vitrine do Museu do Oratório

Luciano e Ilsa Reis se encantaram com o acervo bem-cuidado do Museu do Oratório

Larissa Kumpel/EM/D.A Press
 

Ocupando a casa restaurada do Noviciado do Carmo, o Museu do Oratório, sob a coordenação geral de Ana Beatris Batista da Silva, abriga o acervo (genuinamente brasileiro, com destaque para Minas Gerais) doado ao Iphan por Angela Gutierrez.

Chama a atenção a diversidade de tipos, tamanhos e materiais contendo informações preciosas sobre arquitetura, pintura, vestuário e costumes da época em que as peças foram produzidas. O acervo evencia costumes, tradições, características do Ciclo do Ouro e dos Diamantes, além das contribuições afro-luso-ameríndias que se fundem na formação cultural brasileira.
 
Obras sacras expostas no Museu Boulieu

Caminhos da fé fascinam no Museu Boulieu

Larissa Kumpel/EM/D.A Press
 

Vasto mundo

O roteiro passa agora pela Praça Tiradentes e chega à Rua Padre Rolim para visita ao Museu Boulieu – Caminhos da Fé, perto da rodoviária. O acervo reúne peças de várias regiões do mundo (total de 2,5 mil; 1,2 mil delas expostas) nas quais se projetou a cultura ibérica levada por navegadores e conquistadores portugueses e espanhóis.

Nos ambientes, a arte barroca tem uma síntese de sua expressão global, com obras em marfim e prata, madeira e pedra, e terracota. Conta a história iniciada com as navegações de Vasco da Gama, Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral, a qual adquiriu novas feições e significados durante os séculos. A coleção doada pelo casal Jacques e Maria Helena Boulieu fica no edifício onde havia o Asilo São Vicente de Paulo.

O engenho popular e arte naïf ganham destaque no Paço da Misericóridia

O engenho popular e arte naïf ganham destaque no Paço da Misericóridia, em Ouro Preto

Larissa Kumpel/EM/D.A Press

Talento popular

Após a visita ao Museu Boulieu, basta dar alguns passos para conhecer a exposição temporária “A ferro e fogo – Arte naïf”, do projeto Arte nas Estações. Até o próximo dia 25, no Paço da Misericórdia, estarão expostos trabalhos com um recorte temático da coleção do Museu Internacional de Arte Naïf.

Em 2016, o equipamento cultural teve suas atividades encerradas no Rio de Janeiro (RJ). O acervo pertencente ao colecionador Lucien Finkelstein é considerado o maior do gênero no mundo, com mais de 6 mil peças.

A exposição tem agradado às crianças, que, com a ajuda da equipe de educadores, dá asas à imaginação para fazer desenhos e colagens, ficando alguns bem à vista na sala das oficinas. A mostra tem patrocínio integral do Instituto Cultural Vale ao projeto Arte nas Estações, via Lei Federal de Incentivo à Cultura.
 

EM BELO HORIZONTE 

• Memorial Minas Gerais Vale

Praça da Liberdade, Funcionários. Terça, quarta, sexta e sábado, das 10h às 17h30, com permanência até as 18h; quinta, das 10h às 21h30, com permanência até as 22h; domingo, das 10h às 15h30, com permanência até as 16h. Entrada franca

EM OURO PRETO

• Museu do Oratório

Adro da Igreja do Carmo, 28, Centro Histórico. De quarta a segunda-feira, das 9h30 às 17h30. R$ 5 (inteira) e R$ 2,50 (meia). Entrada franca para estudantes e professores

• Museu Boulieu – Caminhos da Fé

Rua Padre Rolim, 412, Centro Histórico. Quarta-feira, das 13 às 21h; de quinta a segunda-feira, das 10h as 18h. R$ 10. Estudantes e idosos pagam meia-entrada, crianças até 11 anos não pagam. Entrada franca às quartas-feiras.

• Exposição “A ferro e fogo – Arte naïf”
Projeto Arte nas Estações. Paço da Misericórdia, ao lado do Museu Boulieu. Rua Padre Rolim, no Centro Histórico. Até 25 de junho. De quinta a domingo, das 9h às 17h

>> Os jornalistas Gustavo Werneck e Larissa Kumpel viajaram convite do Instituto Cultural Vale