Corpo de Dança do Amazonas

Corpo de Dança do Amazonas vai apresentar "TA/ Sobre ser grande", coreografia de Mário Nascimento, no Palácio das Artes

Michael Dantas/divulgação

Criado em 2018, em Belo Horizonte, o Simpósio Internacional de Dança (SID) carrega em sua essência o que se poderia chamar de visão holística sobre esta expressão artística. 

O evento, que tem base formativa mas também conta com apresentações, abarca desde o balé clássico de repertório até a dança contemporânea, passando por sapateado, jazz e as danças urbana, folclórica e de salão.

A quinta edição do simpósio começa nesta sexta-feira (2/6), ocupando diferentes espaços da capital mineira com vasta programação, que se estende até o próximo dia 11. Oficinas, cursos, audições e palestras envolvem profissionais de Minas Gerais, de outros estados brasileiros e do exterior. Estão programadas quatro apresentações destinadas ao público.

Na abertura oficial, nesta sexta à noite, ocuparão o palco do Teatro do Centro Cultural Unimed Márcia Jaqueline e Cícero Gomes, primeiros bailarinos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O público ainda vai conferir dois solos e dois pas de deux de bailarinos do Dance Alive National Ballet, da Flórida (EUA), e da academia Toute Forme.

“Este ano, o simpósio amplia seu olhar, valorizando outros setores que fazem parte da engrenagem que movimenta o mercado da dança no Brasil”, diz a coreógrafa e bailarina Elaine Reis, idealizadora e diretora do evento.

Tatiana Leskova, a dona Tânia, mestra de várias gerações de bailarino

Tatiana Leskova, a dona Tânia, mestra de várias gerações de bailarinos, ganha homenagem em Belo Horizonte

Acervo

Homenagens

Concebido com o propósito de valorizar os mestres da dança, o SID presta tributo a Tatiana Leskova, considerada a grande dama do balé, que completou 100 anos em 2022; à pesquisadora e crítica de arte Helena Katz; à maitre Maria Clara Salles; à pianista Anna Maria Ferreira, que se apresenta habitualmente junto a importantes companhias de Belo Horizonte; e ao Festival de Dança de Joinville, que completa 40 anos e é a grande inspiração do Simpósio.

No próximo domingo, também no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, a dançarina e coreógrafa Júnia Bertolino apresenta “Corporeidades negras”, o dançarino Dewson Masconte mostra o solo “Negro drama” e a Cia. de Jazz Emaline Laia executa a coreografia “Pérola negra”.

No dia 8, dançarinos se reúnem para a noite de homenagens no Palácio das Artes. A atração principal será a dupla formada pela espanhola Lucia Lacarra e o canadense Matthew Golding – ambos pela primeira vez no Brasil. 

Também vão subir ao palco Juliana Macedo e Jomar Mesquita, da Mimulus Cia. de Dança, de BH; André Valadão, diretor do Dance Alive National Ballet; e Elaine Reis, com um solo. No segundo momento, a Cia. de Dança do Palácio das Artes fará a intervenção “(In)tensões”.

O encerramento caberá ao Corpo de Dança do Amazonas, com a coreografia “TA/ Sobre ser grande”, de Mário Nascimento, no Palácio das Artes.

“Nessas quatro apresentações, teremos os mestres na plateia, recebendo as homenagens, e também no palco, porque é um elenco de profissionais experientes, todos eles com mais de 45 anos e muito prestigiados no Brasil e no mundo”, diz a diretora do evento.
 

Profissionais ligados à dança ministrarão aulas e participarão de debates e palestras. “A gente tem essa questão de criar um espaço que abrace várias vertentes. É um guarda-chuva, então teremos cursos nas áreas técnicas, como elaboração de projetos, iluminação, psicologia da dança, fisioterapia, prevenção de lesões. Tudo em diálogo com as diversas formas de dança. A ideia é ampliar a comunidade”, aponta Elaine Reis.
 
Elaine Reis dança. Na foto ela está de perfil

Criadora do Simpósio Internacional de Dança, Elaine Reis diz que evento abre espaço para bailarinos mais experientes

Acervo pessoal

'Com mais de 30 anos, eu queria continuar dançando, viajando para estudar, mas nem sempre havia essa possibilidade. É uma área difícil para quem já não está mais no auge da forma física. Ia a eventos de dança, queria fazer cursos, mas só tinha espaço para jovens'

Elaine Reis, bailarina

 

Jovens talentos que estão despontando na seara das danças urbanas estarão presentes, mas o cerne, ressalta Elaine, é valorizar quem escreveu a história da dança. A criação do SID com esse direcionamento tem a ver com a própria trajetória de sua organizadora.

“Já adulta, com mais de 30 anos, eu queria continuar dançando, viajando para estudar, mas nem sempre havia essa possibilidade. É uma área difícil para quem já não está mais no auge da forma física. Ia a eventos de dança, queria fazer cursos, mas só tinha espaço para jovens. Participei de dois congressos internacionais direcionados a públicos menores e pensei em fazer algo do tipo, só que ampliado, com espaço para o profissional maduro se reciclar sob orientação dos mestres”, diz.

Apesar de se inspirar no Festival de Dança de Joinville, o SID tem formato, possivelmente, único no Brasil. Elaine observa que outros eventos mesclam diferentes estilos de dança, mas são direcionados aos jovens. “O Festival de Joinville, com 40 anos, é para todas as faixas etárias. Cada noite é dedicada uma modalidade ao longo de 10 dias. O nosso simpósio se distingue, porque promove vários cruzamentos em uma mesma noite”, salienta.
 
Cia. de Dança do Palácio das Artes

"(In)tensões", espetáculo da Cia. de Dança do Palácio das Artes, volta ao cartaz na próxima quinta-feira

Paulo Lacerda/divulgação
 

Diversidade amplia horizontes do artista

Integrante da Cia. de Dança do Palácio das Artes há 24 anos, o bailarino Ivan Sodré, que estará no palco no próximo dia 8, diz que a iniciativa mineira contribui decisivamente para o fortalecimento da cena local. “Acho importante a gente pensar eventos de dança como o SID, em que a formação e a informação sobre dança caminham juntas”, diz.

Separar os dois campos repete a dicotomia criada entre mente e corpo, observa Sodré. “Quando Elaine traz grupos, companhias e bailarinos com diversidade de pensamentos sobre dança, ela agrega a essa formação entendimentos plurais. Existem várias danças e, com elas, vários tipos de pensamento sobre o corpo do bailarino, sobre a coreografia, sobre a importância do fazer dança”, destaca.

Ao comentar a intervenção da Cia. de Dança do Palácio das Artes, ele explica que “(In)tensões” foi criado em 2019, quando o elenco feminino dirigiu o masculino. As bailarinas, então na função de diretoras, partiram de uma cena, intitulada “Box”, do espetáculo “22 segredos”, dirigido por Sônia Motta em 2009, na qual só homens atuavam.

“De lá para cá, o espetáculo mudou bastante, o elenco feminino foi incorporado ao trabalho, que tem como mote hoje a relação de tensionamento em que ninguém ganha. Um dos estímulos físicos é você encontrar dois pontos do seu corpo, como o cotovelo direito e o pé esquerdo, e estabelecer entre eles uma dinâmica de encontro e afastamento. É um trabalho estruturado, tem dramaturgia e roteiro, mas também o lugar da improvisação”, destaca Sodré.

Dona Tânia: referência para gerações

O bailarino carioca foi aluno de Tatiana Leskova, chamada carinhosamente dona Tânia, que durante anos manteve estúdio em Copacabana. Nascida na França e filha de pais russos, a veterana foi diretora da companhia do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e formou várias gerações de profissionais, tornando-se referência no universo do balé clássico.

Sodré adorava fazer aulas com ela, que teve grande importância para sua formação. Por essa razão, ele se diz emocionado em prestar, por meio de “(In)tensões”, homenagem à ex-professora. “Eu tinha vinte e poucos anos. Era uma formação clássica, vinculada à Ópera de Paris, e dona Tânia já era referência. Também era uma pessoa muito engraçada, a gente ria demais”, diz.

Ele não vê contradição entre o que Tatiana Leskova sempre professou e o trabalho atual da Cia. de Dança do Palácio das Artes, alinhado ao pensamento contemporâneo. “É justamente pelo pensamento que a gente se conecta. Dona Tânia sempre foi muito visionária nos seus projetos artísticos, digo que ela já fazia dança clássica com pensamento contemporâneo nos anos 1980. Trata-se de entender o corpo engajado no mundo em que ele está”, ressalta o artista.

CONFIRA

» Domingo (4/6)
Espetáculos “Corporeidades negras”, com Júnia Bertolino; “Pérola negra”, com Cia. de Jazz Emaline Laia; e solo “Negro drama”, com Dewson Mascote. Às 18h, no Teatro do Centro Cultural Unimed BH Minas. R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)

» Quinta-feira (8/6)
Apresentação de Lucia Lacarra e Matthew Golding, Juliana Macedo e Jomar Mesquita, André Valadão, Elaine Reis e Cia. de Dança do Palácio das Artes. Homenagem a Tatiana Leskova, Helena Katz, Anna Maria Ferreira e ao Festival de Dança de Joinville. Às 19h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)

» Dia 11/6
Corpo de Dança do Amazonas, com “TA/Sobre ser grande”, de Mário Nascimento, às 19h30, no Palácio das Artes

• Atividades no Palácio das Artes, Centro Cultural Unimed-BH Minas, Teatro Marília e Escola Livre de Artes. Informações sobre cursos, debates, audições e palestras pelo site https://sid.art.br/ ou pelo link na bio do Instagram @simposiodanca
 

5º SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE DANÇA

Abertura nesta sexta-feira (2/6), às 20h, com apresentação dos primeiros bailarinos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Márcia Jaqueline e Cícero Gomes, e de dançarinos da Escola Toute Forme e do Dance Alive National Ballet, de Gainesville, Flórida (EUA). Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)