Quadro de Manuel Carvalho traz a figura abstrata de um homem vestindo camisa de mangas curtas

Quadros de Manuel Carvalho se inspiram em histórias ditadas pela memória, com suas lacunas

Centro Cultural Unimed/reprodução

Grosso modo, anacoluto, figura de linguagem, é uma frase quebrada – como sua estrutura sintática foi interrompida, ela é continuada de forma alternativa. “Um desvio de pensamento que Guimarães Rosa usava em seus textos”, comenta o artista plástico Manuel Carvalho.

Vinte anos atrás, estudante na Escola Guignard, Carvalho ouviu de sua então professora Sônia Labouriau, quando apresentava um trabalho, que estava utilizando anacolutos. A expressão acabou dando início à série a que ele se dedica desde 2014. Parte dessas telas está na exposição “Memória não é história”, em cartaz na galeria do Centro Cultural Unimed-BH Minas.

Com curadoria de Catarina Duncan e expografia de Sara Fagundes de Oliveira, a mostra reúne cerca de 20 pinturas a óleo. É a primeira exposição da galeria em 2023, ano comemorativo para o centro cultural, que está completando uma década de atuação.

São também 20 anos desde a primeira individual de Manuel Carvalho, “Arquivos lidos e experimentados” (2003), no Galpão Cine Horto, em BH.

“A história é contada a partir da memória. Uma história pode ser contada a partir da maneira como os documentos, objetos, pinturas são articulados”, afirma o artista. O conceito do trabalho surgiu a partir de observações de Carvalho sobre as relações interpessoais. “A gente acaba criando uma lacuna na comunicação e as palavras não bastam mais (para chegar a um acordo). As histórias que cada um imagina sobre as outras partem da memória, que é sempre dinâmica”, acrescenta.
 
Figura feminina em amarelo ganha contornos abstratos em tela de Manuel Carvalho

Abstração e figuração se contrapõem na pintura de Manuel Carvalho

Bruno Duque/divulgação
 

Dessa maneira, ele diz, seus trabalhos ficcionalizam a memória. A curadoria fez um recorte da série “Anacolutos”, que já atingiu 120 telas. Para a exposição, foram selecionadas duas dezenas. 

Há trabalhos de pequeno porte, de 20cm por 13cm, e outros de grande formato, podendo atingir 4m por 2m.

“A ideia da série é contrapor abstração e figuração. Elas acabam se misturando e se confundindo, como se fosse um desvio”, explica Carvalho.

A mostra conta ainda com três exemplares de uma série anterior de Manuel Carvalho, “Empate”, em que o excesso de cores permeia padronagens, personagens e retratos.
 
 
Nascido em Lavras, Carvalho, depois da graduação na Guignard, fez mestrado em artes visuais na mesma instituição e foi assistente de Adriana Varejão.
 
De acordo com a curadora Catarina Duncan, o trabalho do artista “une questões formais e da técnica da pintura a questões conceituais profundas sobre identidade nacional e história”.

“MEMÓRIA NÃO É HISTÓRIA”

Pinturas de Manuel Carvalho. Galeria de Arte do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Visitação de terça-feira a sábado, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h. Entrada franca. Até 2 de junho.