compositor argentino  Rufo Herrera

"Faço música pensando no valor que ela tem para o ser humano", diz Rufo Herrera, sobre as homenagens que está recebendo pelos seus 90 anos

Paulo Lacerda/divulgação

Músico argentino que desenvolveu a maior parte de sua trajetória artística em Belo Horizonte, onde está radicado desde 1963, Rufo Herrera está às voltas com duas efemérides importantes. Além das seis décadas de atuação na capital mineira, 1mostrando sua arte e formando gerações, ele completa 90 anos de vida em 2023.

As comemorações em torno de tais datas têm início com a apresentação que a Orquestra Ouro Preto faz nesta quarta-feira (12/4), às 20h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas. Batizado “Concertango – Tributo a Piazzolla e Rufo Herrera”, o concerto passeia pelas obras dos dois compositores, que, segundo o maestro Rodrigo Toffolo, são, ao mesmo tempo, opostas e convergentes.

Responsável pela regência do concerto de amanhã, ele observa que as composições de Herrera são meditativas, têm algo de mantra, o que reflete o “espírito e a aura filosofal” do artista. “Rufo tem uma música controlada, na qual a atmosfera sonora é muito importante. É um mundo de timbres, de sonoridade muito bem elaborada”, diz.

Já a música de Piazzolla é, segundo o maestro, mais tipicamente argentina, com “aquela selvageria, aquele sangue quente, um fervor característico”. Ele destaca que o ponto de encontro entre a obra de um e de outro compositor é uma visão latino-americana e antropocêntrica da música. “Ela fala do homem, da pessoa, é uma música feita para dentro, com as cores da América Latina. Isso se aplica a Rufo e a Piazzolla”, pontua.

 maestro Rodrigo Toffolo e músicos da Orquestra Ouro Preto

Com regência do maestro Rodrigo Toffolo, concerto da Orquestra Ouro Preto passeia pelas obras de Herrera e Piazzolla

Íris Zanetti / divulgação

Relação íntima

Toffolo tem uma relação íntima e histórica com a obra de Rufo Herrera. O músico argentino foi, ao lado de seu pai, Ronaldo Toffolo, um dos fundadores da Orquestra Ouro Preto, no início dos anos 2000. O maestro ressalta que Herrera é a pedra fundamental, foi quem estabeleceu os pilares de sustentação do grupo, com base na música brasileira, na música latino-americana e na criação de repertório original.

“Tudo veio da cabeça do Rufo. A cara que a Orquestra Ouro Preto tem hoje, o caminho que ela percorreu ao longo desses 23 anos, foi um caminho vislumbrado e desenhado por Rufo Herrera”, aponta. Ele destaca, a propósito, que as primeiras obras que a orquestra executou foram compostas e arranjadas pelo músico argentino.

“Crescemos musicalmente tocando a música de Rufo Herrera, então cada nota é muito especial e cada concerto se relaciona com a maneira como a Orquestra Ouro Preto se desenvolveu”, diz. Ele considera que seja natural incluir Piazzolla na celebração pelos 90 anos de Herrera.

Mentor

Toffolo diz tratar-se de uma justa lembrança do grande músico, responsável por revolucionar a linguagem do tango. “Ele também foi uma espécie de mentor, uma figura pela qual Rufo nutre um carinho muito especial. Piazzolla deixou um traço forte na formação do próprio Rufo”, diz.

Ele adianta que o programa do concerto é composto pelos temas “Suíte do anjo”, de Piazzolla, seguido por “Concertino para vibrafone”, de Rufo, e o “Concerto duplo para violino e violoncelo”, também de autoria do homenageado. “Ao final, Rufo se junta a nós para fazermos a peça ‘Pequena história do tango’, que são três obras dele que contam o percurso do gênero, desde a milonga até o novo tango, proposto por Piazzolla”, revela.

Rufo se diz um tanto encabulado com a homenagem – prefere pensar que é uma celebração em torno da música e do que ela representa. “Tendo a não receber esse tipo de coisa como um merecimento próprio. Faço música pensando no valor que ela tem para o ser humano e se ainda hoje, com quase 90 anos, sigo produzindo, é porque sempre tive isso em mente”, aponta.

Didático

Ele destaca que, atualmente, desenvolve um trabalho “quase didático” sobre o tango, por perceber que o gênero portenho passa por um momento sem precedentes de renascimento. “Já tiveram muitos altos e baixos na história do tango, mas nada como o que está havendo agora, porque é gente do mundo inteiro, uma garotada entre 15 e 20 anos, muito interessada, estudando o bandoneón e tocando muito bem, na Europa, na Ásia, em todo os lugares”, diz.

O concerto de amanhã se insere numa programação em torno dos 90 anos de Rufo Herrera que prevê a realização de diversas outras atividades. A Fundação de Educação Artística vai receber, entre os dias 24 e 26 deste mês, palestras, debates e exibições de filmes.

A palestra “Rufo Herrera sobre Piazzolla” e uma sessão do documentário “Piazzolla: os anos do tubarão”, no dia 24; a mesa redonda “Rufo Herrera nas Gerais” e a exibição de um vídeo homônimo, no dia 25; e um recital reunindo diversos instrumentistas em torno das obras dos dois artistas argentinos, no dia 26, compõem essa programação.

“CONCERTANGO – TRIBUTO A PIAZZOLLA E RUFO HERRERA”
Com a Orquestra Ouro Preto, nesta quarta-feira (12/4), às 20h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244 – Lourdes). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) pelo Eventim ou na bilheteria local. Informações: (31) 3516-1360.