As atrizes Jamie Lee Curtis e Michelle Yeoh sentadas em sala com dedos de salsicha em cena de 'Tudo em todo lugar ao mesmo tempo'

As atrizes Jamie Lee Curtis e Michelle Yeoh, ambas indicadas, contracenam em cena ambientada num dos universos paralelos de "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo"

Diamond Films/Divulgação

Finalmente chegou o Oscar do pós-pandemia. Na noite deste domingo (12/3), a partir das 21h (horário de Brasília), a nova e a velha Hollywood se reúnem em Los Angeles para celebrar o cinema. Três anos depois da crise sanitária, a indústria, ainda fortemente impactada, mais uma vez tenta provar ao mundo que, sim, muita coisa mudou, mas que o cinema deverá prevalecer.

A corrida da 95ª edição da cerimônia da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood é encabeçada por “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, nomeado em 11 categorias. 
Com elenco majoritariamente asiático, falada em inglês, cantonês e mandarim, a comédia dramática com altas doses de ficção científica representa a nova Hollywood, aquela que entendeu que o mundo vai muito além das fronteiras americanas. 

Os outros dois concorrentes com maior número de indicações, o irlandês “Os Banshees de Inisherin” e o alemão “Nada de novo front”, também fogem do padrão hollywoodiano. 

No entanto, não há como negar que a indústria tem que reconhecer seus sustentáculos. E as duas maiores bilheterias do último ano foram devidamente valorizadas. “Top Gun: Maverick” compete em seis categorias e “Avatar: O caminho da água” (a terceira maior bilheteria de todos os tempos), em quatro.
 
Tom Cruise dentro de caça no filme Top Gun: Maverick

"Top Gun: Maverick": Tom Cruise liderou a bilheteria em 2022

Paramount/divulgação
 

Outro pilar, o da tradição, está muito bem representado. Com sete indicações, “Os Fabelmans”, de Steven Spielberg, é a arte de contar histórias em sua melhor forma. Com oito nomeações, “Elvis” está bem na corrida: é uma bela (e triste) cinebiografia de um ícone norte-americano com influência global.
 

Ainda há tempo para quem quiser assistir aos filmes antes de  torcer pela corrida de estatuetas (são 23 categorias). Todos os principais concorrentes estão disponíveis no Brasil, seja na sala do cinema ou na de casa. No Oscar, nunca há certezas absolutas. Mas como é a premiação que encerra a temporada, dá para fazer algumas apostas diante do resultado dos prêmios anteriores. 

OSCAR 2023

• O canal TNT e a plataforma HBO Max começam a exibição às 20h. 
A cerimônia começa às 21h. O canal E! Entertainment transmite, das 18h às 21h, a chegada dos convidados ao tapete vermelho.

MELHOR FILME

» “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” 
(Cine Pátio Savassi, Prime Video e aluguel e compra por VOD)
O campeão de indicações do Oscar virou o filme-sensação desta temporada, com ótima aceitação em plateias de todo o mundo. Mas é a quantidade de prêmios dos sindicatos – PGA, dos produtores; SAG, dos atores, e DGA, dos diretores – que credencia o longa dos Daniels a levar o principal troféu nesta noite. 
 
No entanto, ainda que venha se renovando nos últimos anos, a Academia ainda conta com um número grande de membros mais velhos e conservadores. E “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, com sua narrativa febril, por vezes abilolada e com várias referências sobre o meio digital, é um filme voltado para plateias mais jovens.  
Soldado no meio da guerra, com rosto assustado, em cena do filme Nada de novo no front

'Nada de novo no front' disputa as estatuetas de melhor filme e melhor filme internacional

Netflix
 
 
Com menos chances estão os longas “Os Banshees de Inisherin”, “Nada de novo front”, que surpreendeu e saiu do Bafta (o Oscar britânico) como o grande vencedor, com sete troféus, e “Top Gun: Maverick”. Sim, o blockbuster de Tom Cruise, o último superstar de Hollywood, está entre os mais cotados em várias listas. 
 
Ele tem apoio popular, foi o longa-metragem de maior bilheteria de 2022 (bateu US$ 1,5 bilhão) e surpreendeu no número de indicações: seis. E tem no próprio Cruise, seu maior garoto-propaganda. No almoço dos indicados, o astro de 60 anos concentrou as atenções: Austin Butler disse que o encontro foi “surreal” e Spielberg, que Cruise “salvou Hollywood”.

No páreo 
» “Avatar: O caminho da água” 
(Cines Cidade, Contagem, Del Rey, Estação, Itaupower, Minas e Monte Carmo)
» “Os Banshees de Inisherin” 
(Cines UNA Belas Artes, Pátio e Ponteio)
» “Elvis” 
(HBO Max e aluguel e compra por VOD)
» “Entre mulheres” 
(Cines UNA Belas Artes, Diamond e Ponteio) 
» “Os Fabelmans” 
(Cines Pátio e Ponteio e aluguel e compra por VOD)
» “Nada de novo no front” 
(Netflix)
» “Tár” 
(Cine Ponteio)
» “Top Gun: Maverick” 
(Paramount+, Telecine e aluguel e compra por VOD)
» “Triângulo da tristeza” 
(Cines UNA Belas Artes e Ponteio e Prime Video) 

Os diretores  Daniel Scheinert e Dan Kwan sorriem no palco ao agradecer o prêmio do DGA 

Daniel Scheinert e Dan Kwan foram premiados pelo Sindicato dos Diretores, no último dia 18 

Kevin Winter/Getty/AFP

MELHOR DIRETOR

» Daniel Kwan e Daniel Scheinert (“Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”)
As estatísticas apontam que o prêmio irá para a dupla Os Daniels. O mais forte indicativo foi o DGA Awards, o troféu do sindicato dos diretores. Com 75 anos de história, o DGA é um termômetro bastante confiável: apenas oito vencedores deste prêmio não levaram o Oscar. 
 
Os Daniels são jovens, fizeram um filme independente que foi muito além das expectativas e iniciaram sua trajetória no videoclipe. Ou seja, são opostos ao seu mais forte concorrente, Steven Spielberg, hoje o maior diretor de Hollywood em atividade.
 
Com dois Oscars, Spielberg fez de “Os Fabelmans” seu filme mais pessoal, ao contar a sua história e a de sua família nos EUA do pós-Segunda Guerra. O filme é também uma grande carta de amor ao cinema, com a perspectiva de um dos cineastas que mais contribuiram para a indústria nos últimos 50 anos. Mas a conta não está do lado dele: dos principais prêmios, Spielberg só levou até agora o Globo de Ouro de direção.

No páreo
» Martin McDonagh, por “Os Banshees de Inisherin”
» Ruben Östlund, por “Triângulo da tristeza”
» Steven Spielberg, por “Os Fabelmans”
» Todd Field, por “Tár”

O ator Brendan Fraser olha para o lado em A baleia

Brendan Fraser vive um professor com obesidade mórbida em "A baleia", filme que divide opiniões

A24/Divulgação
 

MELHOR ATOR

» Brendan Fraser, por “A baleia”
(Cines UNA Belas Artes, BH, Boulevard, Cidade, Diamond, Monte Carmo, Pátio, Ponteio, Unimed-BH Minas) 
 
Não pensar em Brendan Fraser como o provável vencedor desta categoria é algo difícil. Suas chances são enormes (e os troféus no SAG e no Critics Awards só referendaram isto), mas não são uma certeza. O longa de Darren Aronofsky é do tipo ame ou odeie. Além do mais, não foi indicado a melhor filme. Há mais de uma década a Academia não premia um candidato a melhor ator de um filme que não tenha sido nomeado ao troféu principal.
 
 
O professor que sofre de obesidade mórbida é a redenção de Fraser em Hollywood. Ator-galã na década de 1990, passou os anos seguintes fazendo comédias e filmes de ação. Teve depressão, sofreu um bocado com seu divórcio, a morte da mãe e vários problemas de saúde. Voltou para sua segunda chance na meia-idade com uma grande interpretação em um filme divisivo, usando uma prótese que o deixou com um tamanho descomunal.
 
Ator Austin Butler como Elvis Presley

Austin Butler, como Elvis Presley, ganha elogios de crítica e público

Warner Bros/divulgação
 
 
Seu mais forte concorrente é Austin Butler, de 31 anos, que mesmerizou audiências em todo o mundo com sua interpretação de Elvis Presley (e olha que passou boa parte do tempo contracenando com Tom Hanks). Ele surpreendeu ao vencer o Bafta – no início do ano já tinha levado o Globo de Ouro. O longa de Baz Luhrmann fez ótima bilheteria nos cinemas e é um sucesso no streaming; concorre a oito estatuetas, incluindo a de melhor filme.
   
No páreo
» Austin Butler, por “Elvis”
» Bill Nighy, por “Living” (não disponível)
» Colin Farrell, por “Os Banshees de Inisherin”
» Paul Mescal, por “Aftersun” 
(MUBI e aluguel e venda por VOD)

Michelle Yeoh em pose de arte marcial, vestida de branco, em cena de Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

Michelle Yeoh, protagonista de "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo", venceu o prêmio do Sindicato dos Atores

A24/reprodução

MELHOR ATRIZ

» Michelle Yeoh , por “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”
» Cate Blanchett, por “Tár”
É fato de que o prêmio irá para uma ou outra. Depois de vencer o SAG Awards, o prêmio do Sindicato dos Atores, no último domingo, Michelle Yeoh se tornou a primeira mulher asiática a receber tal troféu. Quem vota no SAG são exclusivamente atores, também o maior grupo de votantes do Oscar. Desta maneira, a probabilidade de o vencedor deste prêmio levar a estatueta da Academia é sempre grande.
 
Sua interpretação como a imigrante chinesa dona de uma lavanderia que redescobre a si mesma depois de uma aventura no multiverso cala fundo em uma questão cara à Hollywood de hoje: dar voz aos excluídos. Na última década, a Academia tem se internacionalizado, com um número expressivo de votantes que fogem do padrão anglo-saxão. Um Oscar a Yeoh é reconhecer quão diverso é o mundo de hoje.
 
Por outro lado, a força de Cate Blanchett em “Tár” é indiscutível. A atriz, que afirmou que quer se aposentar após o papel, já venceu dois Oscars e levou a melhor em três prêmios deste ano: o Bafta, o Critics Choice e o Globo de Ouro. A atuação de Blanchett é a razão de ser do filme, em essência um retrato sobre o poder.
 
Atriz Cate Blanchett olha para partitura no filme Tar

Cate Blanchett, como a maestrina Lydia Tár, recebe elogios do regente José Soares, da Filarmônica de Minas

Universal/reprodução
 
 
Grandes interpretações são facilmente notáveis. Mas os detalhes que o papel da genial maestrina da Filarmônica de Berlim exigiram só um especialista pode confirmar. E ela passou com louvor, afirma José Soares, regente associado da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. 
 
“É notável o trabalho que a Cate Blanchett, que não é do mundo da música, realizou para se inteirar da linguagem. Traduzir uma peça é muito complicado, e a ‘Quinta Sinfonia’ de Mahler (pano de fundo do filme) não é fácil em nenhum sentido. Fica claro que ela está conectada com o que está regendo, cumpre todos os parâmetros. Um regente com mais experiência percebe que talvez ela não tenha o polimento de alguém que tenha prática de pódio, mas é visível a conexão do corpo dela com a música que está sendo tocada.”

No páreo
» Ana De Armas, por “Blonde”  (Netflix)
» Andrea Riseborough, por "To Leslie" (não disponível)
» Michelle Williams, por "Os Fabelmans"