Cena de Os Fabelmans mostra o filho adolescente sentado no cinema ao lado dos pais e deslumbrado com as imagens na tela

O pai engenheiro, a mãe pianista e o filho que se apaixona pela arte do cinema são o centro da história da família de origem judaica Fabelman, no roteiro escrito por Steven Spielberg

Universal Pictures/divulgação

“Os Fabelmans”, novo filme de Steven Spielberg, vencedor do Globo de Ouro na noite da última terça (10/1) e que estreia nesta quinta-feira (12/1) em todo o Brasil, começa de uma maneira pouco usual. Antes de a exibição ter início, o cineasta de 76 anos, em um vídeo curto, faz uma apresentação do longa, o 33º de sua carreira. Diz que é seu filme mais pessoal, e que trata de seu amor pelo cinema. Também agradece às pessoas que saíram de casa para assisti-lo.

A presença do diretor na tela tem mais uma razão. Projeto que marca o retorno de Spielberg ao roteiro (coisa que ele não fazia desde “A.I. Inteligência artificial”, de 2001), trata de sua infância e adolescência. 

Ao voltar a câmera para seus anos de formação, Spielberg trata tanto do antissemitismo quanto, principalmente, do casamento conturbado dos pais, o engenheiro elétrico Arnold Spielberg (1917-2020), pioneiro no desenvolvimento de computadores, e a pianista Leah Posner (1920-2017).

O projeto, que ele começou a elaborar em 1999, levou mais de duas décadas para ser realizado porque o cineasta temia pela reação dos pais. Em 2021, em meio à pandemia – e já sem a presença de Arnold e Leah – o cineasta deu início à produção. 

A crise sanitária colocou todos em xeque: “Senti que realmente precisava resolver as questões sobre minha mãe, meu pai e minhas irmãs”, afirmou Spielberg, em setembro de 2022, quando da première de “Os Fabelmans” no Festival de Toronto. O evento canadense, vale dizer, foi o primeiro para o qual um filme de Spielberg foi inscrito: e saiu de lá com o prêmio de público.
 
 

Convite pós-pandêmico ao público

Parte fundamental da era dos blockbusters, Spielberg é bicho de cinema. E as salas, esvaziadas com a pandemia e a explosão do streaming, ainda sofrem com a fuga do público. Aqui desarmado e, por vezes, dolorosamente íntimo, Spielberg faz com “Os Fabelmans” um convite para que o público retorne às grandes salas. 

A carreira do longa, que já soma 20 troféus, deverá ser acrescida de outras nomeações no próximo dia 24, quando saem as indicações para o Oscar.

É um vencedor do Oscar que dá início à narrativa da família Fabelman. Em 1952, em Nova Jersey, o pai, Burt (Paul Dano), e a mãe, Mitzi (Michelle Williams), insistem para que o filho mais velho, Sammy (Mateo Zoryan na infância e Gabriel LaBelle na adolescência) entre no cinema. “Filmes são sonhos que você nunca esquece”, diz Mitzi.

Naquela noite, Sammy assiste a “O maior espetáculo da Terra” (1952), de Cecil B. DeMille, vencedor dos Oscars de melhor filme e roteiro. A antológica cena de um acidente de trem se torna uma obsessão para o garoto, que, com a câmera do pai e a boa vontade da mãe, consegue repeti-la em casa. Com engenhosidade e inteligência – e a ajuda da família, logo completa com três irmãs mais novas – Sammy começa a fazer filmes caseiros para os amigos.

Como ocorreu com a família Spielberg, os Fabelmans se mudaram de Nova Jersey para o Arizona e, por fim, para a Califórnia. As mudanças ocorreram em decorrência da evolução da carreira de Burt. O longa acompanha 13 anos da vida dos personagens, de 1952 até 1965.    

Sammy não tarda a descobrir que uma câmera pode ser usada não apenas para contar histórias, mas para ganhar amigos; aplacar ou manipular os inimigos; mostrar às pessoas o que de melhor (ou pior) elas poderiam ter. E é também por meio das imagens em movimento que Sammy descobre um segredo de sua família – algo que Spielberg exorciza definitivamente com este filme. 

“Os Fabelmans” trata, sempre à maneira fabular de Spielberg, das dificuldades do casamento e de ser filho de alguém fora da curva. No caso de Sammy, Burt é um engenheiro genial, porém desinteressante, que acredita que a paixão do garoto é apenas um hobby.
 
Mitzi é a típica mulher sonhadora e talentosa que teve a vida enquadrada pelos moldes da época – e se ressente disso, o que afeta tanto o casamento quanto a relação com os filhos.

É um tio distante, um personagem secundário, Boris (Judd Hirsch), que, numa única frase, explica o que Sammy não tinha conseguido entender: “Somos viciados. A arte é a nossa droga”. 

. É tudo verdade (ou quase)

Veja sequências de “Os Fabelmans” que aconteceram na vida de Spielberg e sua família (com spoilers)
•  A mãe do cineasta deixou o marido depois de se apaixonar pelo melhor amigo da família
•  Aos 16 anos, Spielberg descobriu, por meio de imagens caseiras que havia feito, o relacionamento da mãe com o melhor   amigo
•  Sua mãe foi pianista clássica que abandonou a música para criar os filhos
•  Em Phoenix, a mãe do diretor comprou um macaco
•  Spielberg tinha 15 anos quando conheceu o cineasta John Ford
•  Quando jovem, Spielberg sofreu bullying na escola por ser judeu
 

“OS FABELMANS”

(EUA, 2022, 151min). Direção: Steven Spielberg. Com Michelle Williams, Gabriel LaBelle e Paul Dano – Estreia nos cines Boulevard 4, às 15h45 (dub), 20h55 (leg); Cidade 3, às 11h (sab e dom) 13h50, 17h05 (dub) e 20h (leg); Contagem 7, às 14h15, 17h15 e 20h15 (dub); Del Rey 6, às 18h10 (dub) e 21h (leg); Diamond 1, às 12h15, 15h35, 18h45 e 22h (leg); Itaupower 2, às 18h10 e 21h (dub, exceto qua) e 16h45 e 20h20 (dub, qua); Minas 4, às 18h10 e 21h (dub); Pátio 7, às 14h (dub na sex, dom e ter), 17h20 e 20h50 (leg); Ponteio 2, às 13h30, 18h20 e 21h20 (leg); UNA Cine Belas Artes 1, às 14h20, 17h10 e 20h (leg).

SUCESSO NO GLOBO DE OURO

“Os Fabelmans” levou os troféus de melhor filme e melhor diretor no Globo de Ouro. Confira os principais ganhadores do prêmio da Associação de Correspondentes Estrangeiros em Hollywood

CINEMA 

Melhor filme - Drama
» "Os Fabelmans"
Melhor filme - Musical ou comédia
» "Os Banshees de Inisherin"
Melhor diretor
» Steven Spielberg, "Os Fabelmans"
Melhor ator - Drama
» Austin Butler, "Elvis" 
Melhor atriz - Drama 
» Cate Blanchett, "Tár" 
Melhor ator - Musical ou comédia
» Colin Farrell, "Os Banshees de Inisherin"
Melhor atriz - Musical ou comédia
» Michelle Yeoh, "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo" 
Melhor ator coadjuvante
» Ke Huy Quan, "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo"
Melhor atriz coadjuvante
» Angela Bassett, "Pantera Negra: Wakanda para sempre"
Melhor filme estrangeiro
» "Argentina, 1985" (Argentina)
Melhor filme de animação
» "Pinóquio por Guillermo del Toro"
Melhor roteiro
» Martin McDonagh, "Os Banshees de Inisherin"
Melhor trilha sonora
» Justin Hurwitz, "Babilônia"
Melhor canção original
» "Naatu Naatu", "RRR - Revolta, rebelião, revolução"

TELEVISÃO 

Melhor série - Drama
» "A casa do dragão" 
Melhor ator - Drama
» Kevin Costner, "Yellowstone"
Melhor atriz - Drama
» Zendaya, "Euphoria"
Melhor série - Musical ou comédia 
» "Abbott Elementary"
Melhor ator - Musical ou comédia
» Jeremy Allen White, "O urso"
Melhor atriz - Musical ou comédia
» Quinta Brunson, "Abbott Elementary"
Melhor série limitada, antológica ou filme para TV
» "The white lotus" 
Melhor ator em série limitada, antológica ou filme para TV
» Evan Peters, "Dahmer: Um canibal americano"  
Melhor atriz em série limitada, antológica ou filme para TV
» Amanda Seyfried, "The dropout"
Melhor ator coadjuvante em série limitada, antológica oufilme para TV
» Paul Walter Hauser, "Black bird"
Melhor atriz coadjuvante em série limitada, antológica ou filme para TV
» Jennifer Coolidge, "The white lotus"