Foto de Julia Baumfeld mostra mulheres de preto, usando o celular, no Oriente Médio

Inspirada em sua ascendência judaica, a fotógrafa Julia Baumfeld foi ao Oriente Médio pesquisar narrativas ligadas à mulher

Julia Baumfeld/divulgação

A Fundação Clóvis Salgado abre duas exposições resultantes do 3º Prêmio Décio Noviello de Fotografia, que ocuparão a CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais, a partir desta sexta-feira (10/3). Julia Baumfeld, de Belo Horizonte, e Bruno Barreto, natural de Dom Pedrito (RS), apresentam, respectivamente, as mostras “Entre cantos e lamentos” e “5 casas”.

“Entre cantos e lamentos” é fruto da viagem solitária de Julia ao Oriente Médio, em 2019, e se relaciona com pesquisas e reflexões acerca de sua ascendência judaica. Fotografias em 35mm exploram geografia, história, religiões e culturas locais.
 
“Fui ao Oriente Médio com a intenção de pesquisar, conhecer, explorar aquela região de tantos significados simbólicos e históricos. Levei câmeras fotográficas, filmadora e também gravei áudios”, diz Julia, comparando a exposição à ponta de um iceberg.

“Tenho muito material produzido durante a viagem e pretendo desdobrar esse trabalho. É algo que faz parte do meu processo como artista pesquisadora e artista multimídia. Trabalho com fotografia, vídeo, instalação e também com cinema, então minha ideia é fazer um livro e um filme a partir desses registros”, afirma.

O estímulo inicial para a jornada foi a ascendência judaica, por parte do avô materno, de quem herdou o sobrenome Baumfeld. Porém, seu interesse acabou se voltando para pensar o lugar das mulheres nas narrativas do berço da sociedade patriarcal.
 
Fotografia de Julia Baumfeld mostra mulheres de costas diante do Muro das Lamentações

Série de Julia Baumfeld retrata a relação das mulheres com o Muro das Lamentações

Julia Baumfeld/divulgação
 
 
As fotografias estão divididas em 10 séries – uma delas reúne imagens do lado reservado às mulheres no Muro das Lamentações, em Jerusalém.

O périplo passou por diferentes locais em Israel e na Palestina, incluiu a travessia por terra do Deserto do Sinai até chegar ao Egito. “Fiz o caminho oposto à peregrinação do povo judeu rumo à Terra Prometida. Fui ao encontro da grandeza do Cairo e das pirâmides de Gizé”, pontua a fotógrafo. As dez séries correspondem às etapas desse percurso.
 

Universo doméstico

Se as fotos de Julia partem de uma questão íntima rumo ao coletivo, as de Bruno Barreto são ainda mais radicalmente de dentro para fora. Em “5 casas”, que também se insere em um projeto maior, o gaúcho convida à imersão no universo da memória, abraçando sua própria história familiar e de sua cidade natal. Trata-se da busca pelas vivências da infância.
 
Foto de Bruno Barreto mostra parede repleta de quadros com fotos de família

Bruno Barreto voltou à cidade natal, Dom Pedrito, em busca de laços que rompeu quando os pais morreram de câncer

Bruno Barreto/divulgação
 

Barreto explica que o projeto – que gerou longa-metragem documental – é um extenso trabalho de arqueografia pessoal, no qual ele coleta fragmentos de sua própria história, marcada pela morte dos pais por câncer, quando ainda era criança. Órfão, Bruno se mudou de Dom Pedrito disposto a esquecer o passado.

“Quando parti, os únicos laços de amor e conforto que tinha com a cidade haviam sido abruptamente desfeitos. Ir para longe foi um alívio, pois finalmente poderia esquecer o passado. Esquecer o passado era libertador. No entanto, o curioso sobre a memória e? que ela não pode ser domesticada. Ao esquecer a dor do passado, acabei esquecendo muitas coisas boas junto com as ruins”, diz.

Impedir o processo de apagamento foi o estopim inicial para “5 casas”. “Fui tentar encontrar e recriar as imagens da minha infância, antes que fosse tarde”, destaca Barreto. Ele se deparou não apenas com a realidade dos lugares e pessoas que ficaram, mas com a possibilidade de redescobrir a própria história e esmiuçar as complexidades e contradições da pequena cidade.

Eduardo Hargreaves e Pedro Neves

Duas mostras do Prêmio Décio Noviello, na categoria artes visuais, serão abertas na próxima quarta-feira (15/3), nas galerias Genesco Murta e Arlinda Corrêa do Palácio das Artes. Eduardo Hargreaves, de Juiz de Fora (MG), apresentará “Brasil, Hy-Brasil”; Pedro Neves, de Imperatriz (MA), exibirá “Tripa”.

Hargreaves confronta múltiplos suportes – desenhos, pinturas, objetos, instalações multimídia, performances em vídeo e animações – com uma reflexão sobre as ações exploratórias e extrativistas que, aos poucos, vão consumindo paisagens e memórias.

Neves explora as possibilidades da pintura em obras que refletem sobre o conceito de “tripa”, tendo como base a materialidade da palha e da massa.

PRÊMIO DÉCIO NOVIELLO DE FOTOGRAFIA

Exposições “Entre cantos e lamentos”, de Julia Baumfeld, e “5 casas”, de Bruno Barreto. Em cartaz na CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais (Avenida Afonso Pena, 737, Centro). Funciona de terça a sábado, das 9h30 às 21h. Até 20 de maio. Entrada franca. Informações: (31) 3236-7400.