Filarmônica de Minas toca 'Assim falou Zaratustra' pela primeira vez
Poema sinfônico de Richard Strauss, peça complexa cuja abertura fez sucesso no cinema, faz parte dos concertos que serão realizados hoje (9/3) e amanhã (10/3)
Lilya Zilberstein, que escolheu os pianos instalados na Sala Minas Gerais, vai interpretar o 'Concerto para piano nº 2 em dó menor', de Rachmaninov
Andrej Grilc/divulgação
O repertório sinfônico é vastíssimo. Em seus primeiros 15 anos, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais já executou pouco mais de 1,2 mil obras. Há muito a explorar, como mostra a seleção das peças que serão executadas nesta quinta (9/3) e sexta (10/3), na Sala Minas Gerais.
O popularíssimo “Assim falou Zaratustra” (1896), poema sinfônico do compositor alemão Richard Strauss, permanecia inédito até agora no repertório da orquestra. Por uma razão prática, explica o maestro Fabio Mechetti, regente das duas noites.
Órgão digital
“A parte do órgão é bastante imponente e eu, com otimismo, achava que poderia ter um órgão na Sala Minas Gerais para poder executá-lo. Como parece que ele não virá tão cedo, vamos fazer versão mais econômica. O órgão digital não é o ideal, não é o que a peça pede, mas, para efeitos da nossa realidade, ele vai suprir, de alguma maneira, as expectativas.”
Mechetti brinca dizendo que todo mundo conhece os dois minutos iniciais da peça – sua introdução é o tema do clássico “2001 – Uma odisseia no espaço” (1968), filme de Stanley Kubrick –, mas poucos conhecem a meia hora restante.
“É uma peça dificílima, todo mundo (os naipes) toca coisas tecnicamente difíceis, incluindo um solo de violino (que será defendido pela spalla convidada, a norte-americana Libby Fayette). Você percebe que realmente existe um esforço quase de super-homem.”
A fala do maestro vai ao encontro à origem da peça. Richard Strauss tinha 31 anos quando compôs o poema sinfônico, inspirado pelas ideias lançadas pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche em “Assim falou Zaratustra, um livro para todos e para ninguém” (1883-1885).
“Nietzsche teve influência muito grande sobre a geração de compositores românticos. Ele acredita que a grande aspiração humana se dá pelas artes, então os artistas o tinham em alto conceito. Strauss tenta não traduzir, mas expor um pouco das questões de Nietzsche na música. É um gênio trabalhando em cima de outro. Strauss consegue, brilhantemente, falar de questões da humanidade, da natureza, do niilismo, deixar tudo para trás, para construir a ideia desse super-homem (o que Nietzsche chama de), o Übermensch”, acrescenta Mechetti.
Homenagem a Rachmaninov
“Assim falou Zaratustra” encerra as duas noites. Antes, a Filarmônica vai executar a “Abertura festiva” (1971), de Camargo Guarnieri, e o “Concerto para piano nº 2 em dó menor, op. 18” (1900/1901), de Rachmaninov. Ao longo deste ano, a orquestra vai tocar várias peças do compositor, pianista e maestro russo, cujos 150 anos de nascimento são comemorados em 2023.
A pianista alemã Lilya Zilberstein é a solista convidada para o concerto de Rachmaninov. É um novo encontro com a orquestra mineira. “Os pianos que temos na Sala Minas Gerais foram escolhidos por ela em Hamburgo”, diz Mechetti. Lilya lecionou na Universidade de Música e Teatro daquela cidade alemã.
Composta na virada do século 20, a obra veio depois de muita frustração – a “Primeira sinfonia” e o “Concerto para piano nº 1”, do final do século 19, não foram peças bem recebidas.
“Na época, ele estava um pouco deprimido e, para o ‘Concerto nº 2’, mudou seu sentimento em relação ao futuro. É hoje um de seus concertos mais celebrados, e será uma grande oportunidade ouvi-lo com uma grande pianista”, conclui o maestro Fabio Mechetti.
ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS
Concertos hoje (9/3) e sexta-feira (10/3), às 20h30, na Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto). Ingressos de R$ 50 a R$ 175 (valores de inteira). À venda na bilheteria e no site filarmonica.art.br
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