Ricardo Bacelar, Delia Fischer e Gilberto Gil durante gravação de 'Prece': 'É a canção mais icônica e talvez a menos conhecida do álbum', diz a pianista

Ricardo Bacelar, Delia Fischer e Gilberto Gil durante gravação da música Prece no estúdio do cantor baiano no rio de janeiro

Nando Chagas/DIVULGAÇÃO


Com o objetivo de homenagear Gilberto Gil, a cantora, compositora e pianista carioca Delia Fischer e o cantor e multi-instrumentista cearense Ricardo Bacelar lançam nas plataformas digitais o álbum “Andando com Gil” (Jasmim Music). Produzido pelos dois, o disco traz nove músicas compostas pelo artista baiano, que participa nos vocais na faixa “Prece”, ao lado do violoncelista carioca Jaques Morelenbaum.

O repertório traz sucessos como “Palco”, “A paz”, “Aqui e agora”, “Se eu quiser falar com Deus”, “Cada tempo em seu lugar” e “Andar com fé”. “Oriente”, “São João Xangô menino” e “Prece” completam a lista.

Delia conta que o álbum é fruto do convívio intenso que ela e Bacelar, ex-integrante do grupo Hanoi-Hanoi, tiveram em estúdio. “Primeiramente, gravamos juntos as vozes e piano ao vivo, nas faixas ‘A paz’, ‘Oriente’ e ’Aqui e agora’ para capturar a emoção e o clima intimista das canções. A versão de ‘Palco’ também aconteceu com muita naturalidade”, garante a cantora.

Delia lembra que ela e Bacelar já haviam feito algumas colaborações pontuais, mas só agora decidiram lançar um álbum, totalmente concebido e gravado pelos dois. “Ficamos muito tempo pensando como seria o nosso primeiro trabalho. Tivemos a ideia de fazer uma releitura e o Gilberto Gil foi a primeira pessoa que pensamos. A escolha pelo recorte da espiritualidade foi muito feliz, porque privilegia o lado sensível e poético do compositor. É um disco sutil, no qual tocamos piano, teclado, instrumentos de percussão exóticos, tudo de forma minimalista”, revela Bacelar.

ARRANJOS 
A pianista conta que foi uma decisão dos dois, tanto o recorte da espiritualidade, quanto a questão do piano, instrumento que ambos têm em comum. “Como o Gil é um excelente violonista, quisemos criar novos arranjos a partir do piano que é o fio condutor de todo o álbum. Ricardo, que toca diversos instrumentos, trouxe ainda vários outros de percussão, além de teclados e cordas”. Ela lembra que o músico baiano, que comemorou 80 anos no ano passado, elogiou o título do álbum. “Gil adorou a história da espiritualidade e a escolha do repertório.”

Delia conta que o projeto começou com um desejo de Bacelar. “Somos amigos há muitas décadas e ele sempre me convidava para fazermos algo junto, mas dessa vez Ricardo foi mais tranquilo, porque ele construiu um baita estúdio lá em Fortaleza, o que facilitou bastante as coisas. Perguntava a ele: 'Vamos fazer o quê?' Aí, ouvi o álbum dele, ‘Congênito’, e vi que havia homenageado Caetano e Gil, entre outros nomes da MPB.”

A princípio, a ideia era homenagear a “galera oitentona” de 2022 – Gilberto Gil, Caetano Veloso e  Milton Nascimento –, mas o tributo geral foi descartado e a escolha pelo compositor de “Palco” foi movida a um desafio. “Todos são maravilhosos. Para o Milton, já fiz um musical, já arranjei e já escrevi, porém o Gil se tornou um desafio, porque ele também é um baita instrumentista”, explicou Delia. “Então, decidimos tocar somente músicas do Gil e somente no piano.” 

TEMPERO INDIANO 
Segundo a cantoria, no novo álbum é trabalhado muito em cima do piano, o que é um desafio trazer a obra do Gil para esse tipo de instrumento que também é considerado de percussão. “É um disco minimalista, focado nas vozes, no piano e com poucos elementos, uma percussão aqui, outra acolá. A gente toca piano nas gravações e Ricardo usa algumas coisas de teclados, é tudo muito pontual. Somente a faixa ‘Oriente’, que já saiu como segundo single, é que tem umas coisas indianas que achei que combinava com esse ambiente. E o Ricardo trouxe o citar, o harmônio (órgão de fole), enfim, uma série de instrumentos para dar esse tempero indiano para a música.”

Delia explica que a escolha de repertório teve a ver com o que eles queriam falar no momento. “Diria que é uma obra do Gil, da letra dele. Na mensagem de Gil da paz, do amor, da amizade e da reflexão. Antes de tudo, ele é um filósofo também. Além de ser um instrumentista notável, é o letrista mais impressionante que a gente tem. Fomos pelo caminho das canções ‘A paz’, ‘Aqui e agora’, de músicas que fazem ficarmos mais com a gente e menos na briga, menos na raiva, menos na paixão, mais no autoconhecimento e mais na meditação, que é uma coisa que tenho praticado ao longo dessa correria toda e não entrar em paixões cegas, que nos façam pior.”

Delia e Bacelar sabem que é uma missão “quase que impossível” conseguirem trazer essa paz para todo mundo, mas, segundo a artista, “fazemos o que está ao nosso alcance”.

O disco começou a ser feito  no primeiro semestre do ano passado, sem pressa. “Pudemos nos dar ao luxo de gravarmos piano e vozes, já valendo o primeiro take”, detalha Delia. Sobre a participação de Gil, ela lembra: “A resposta da equipe dele dizia que o Gil estava sem tempo. Então, dissemos: 'Vamos esperá-lo'. Na hora em que ele puder, a gente estará disponível”.

PRESENTE ESPECIAL 
A pianista relembra que a escolha das músicas e o encantamento com uma delas. “Quando chegamos em ‘Prece’, ficou muito claro que é a canção mais icônica e talvez a menos conhecida do álbum. Isso, porque esse é um disco todo de clássicos dos anos 1970 e 1980. ‘Prece’ foi lançada em 2018, quando já é um Gil com maturidade e que havia tido problemas de saúde e que hoje está vendo a vida em um plano muito diferente.”

Gilberto Gil, então, aceitou o convite para gravar “Prece” com Delia e Bacelar. “Ricardo veio para o Rio de Janeiro, a gente gravou no estúdio do próprio Gil e tivemos a participação do Jaques Morelenbaum, no mesmo dia também. Isso foi um presente de fim de ano para mim. Gil foi ficando feliz e contente e percebemos que ele estava curtindo a homenagem e, naturalmente, a faixa. Ele mesmo nem lembrava tão bem da canção, certamente não é uma música que ele faça nos shows, pois é muito introspectiva. Então, foi muito especial para nós.”

REPERTÓRIO

- “ORIENTE” (Gilberto Gil)
- “SE EU QUISER FALAR COM DEUS” (Gilberto Gil)
- “ANDAR COM FÉ” (Gilberto Gil)
- “CADA TEMPO EM SEU LUGAR” (Gilberto Gil)
- “SÃO JOÃO XANGÔ MENINO” (Gilberto Gil e Caetano Veloso)
- “PRECE” (Gilberto Gil). Participação de Gilberto Gil (vocal) e Jaques Morelenbaum (violoncelo)
- “PALCO” (Gilberto Gil)
- “AQUI E AGORA” (Gilberto Gil)
- “A PAZ” (João Donato e Gilberto Gil)

capa do disco andando com gil, de Delia Fischer e Ricardo Bacelar

capa do disco andando com gil, de Delia Fischer e Ricardo Bacelar

Jasmim Music/DIVULGAÇÃO


“ANDAR COM GIL”
• Disco de Delia Fischer e Ricardo Bacelar
• Jasmim Music
• Disponível nas plataformas digitais