Bailarinas com expressão séria, em pé, dentro de armário, em cena de pavillon noir

"Pavillon noir" é um dos filmes da mostra "Paisagens coreográficas contemporâneas", que será exibida no VAC

VAC/Divulgação

Após dois anos sem ser realizado na capital mineira em razão da pandemia de COVID-19, o Verão Arte Contemporânea (VAC) está de volta para sua 15ª edição, a partir desta segunda-feira (16/1), até 5 de fevereiro próximo.

O foco primordial do festival é a formação de artistas por meio da realização de residências. Com entrada franca, serão oferecidas 12 atividades, durante 21 dias, em sete espaços culturais de Belo Horizonte,  compreendendo as áreas de música,  teatro, literatura, dança e cinema, com mostras de filmes desses dois últimos temas.  

“Queremos destacar por meio dessas atividades a importância do conhecimento, da pesquisa e da aquisição de novas experiências como essência do processo de criação artística”, diz Ione de Medeiros, diretora do Grupo Oficcina Multimédia, que idealiza o evento.

Ela comemora o retorno do VAC. “Com a pandemia, a produção cultural ficou muito prejudicada, muitos grupos foram desfeitos, muitas pessoas perderam o espaço, como foi o nosso caso. Então, muita gente migrou para projetos audiovisuais. Mas nossa prioridade foi, e sempre será, a arte presencial, o contato do artista com o público”, afirma.

Nesse contexto de mudanças, Ione explica que achou “mais interessante focar nesse contato de mestres, professores e pessoas com ideias que estão surgindo agora e unir ideias, experiências para dar um ‘start’ com novas influências”.

Segundo ela, a ideia é que os artistas sejam multiplicadores das experiências e informações adquiridas no processo. “Serão somente residências, porque é o formato mais adequado agora. E pedimos que as pessoas que vão participar tenham experiências prévias nas artes para poderem ser multiplicadores, levando o que irão aprender para outros grupos ou para a sua arte pessoal. Estamos pensando em algo para ter continuidade e fomentar trabalhos que serão formativos para o futuro”, diz.

Casarão fora de foco em cena de O suposto filme

Rafael Conde será homenageado com retrospectiva de sua obra no Cine Humberto Mauro, e fará no ciclo a estreia de "O suposto filme", realizado durante a pandemia

VAC/Divulgação

Teatro

Para as oficinas na área de teatro, o VAC convidou os diretores Márcio Meirelles, de Salvador, e Altemar di Monteiro, de Fortaleza. A residência oferecida por Altemar, conforme ele explica, precisou passar por mudanças. 

“A residência que eu tinha pensado para o ano passado precisou de alguns ajustes porque tínhamos um contexto diferente. Agora, em 2023, estamos o tempo todo mudando no nosso país nesse território das artes”, comenta.

“Durante cinco dias, estaremos experimentando a noção de jogo a partir de uma perspectiva afrodiaspórica, afroindígena, pensando na nossa relação com o mundo como um processo que pode contribuir para nossa produção artística em teatro”, afirma.

Segundo ele, é uma proposta para qualquer público que se interessar por pensar o mundo a partir de outras perspectivas. “Pode interessar para encenadores e encenadoras, atores e atrizes, mas não só eles. Estaremos pensando no contexto que a gente vive no mundo contemporâneo e, sobretudo, a partir de uma perspectiva negrorreferenciada e que está pautando também as cosmopercepções de mundo afroindígenas”, diz. 

DANÇA Na área da dança, a bailarina e coreógrafa Dudude Herrmann e o bailarino Léo Garcia apresentarão propostas de improvisação e criação cênica com foco na dança contemporânea. 

O VAC exibe também a mostra “Paisagens coreográficas contemporâneas”, no Cine Humberto Mauro. Composta de videodanças francesas e com curadoria do Grupo Oficcina Multimédia, a mostra apresenta um recorte das coleções francesas “Paisagens coreográficas contemporâneas” e “Dança na tela”. Os 14 títulos escolhidos fazem um panorama da dança contemporânea no país europeu.

Já no Teatro Marília, serão exibidos filmes de dança de renomados coreógrafos que integram o acervo Portrait do Centre Nacional de la Danse (CND), de Paris.

Patrícia Manata, do CRDança BH, que apoia a iniciativa, assim como o projeto Terça da Dança, comenta sobre a expectativa para a atividade: “Vamos apresentar os filmes em parceria com o Centro de Referência de Paris. A gente já fez uma exibição em 2020, foi lindo, muito interessante. Então convido todos, todas e todes para estarem no Teatro Marília”. 

"Foi um ano muito difícil para muita gente. E um projeto que é tão cuidadoso não vai manter um padrão. A gente muda. É por isso que assinamos o evento como Verão Arte Contemporânea, sempre atentos ao tempo em que vivemos. E o VAC deste ano é uma adaptação total ao momento. Mudamos tudo"

Ione Medeiros, fundadora da Oficcina Multimédia e idealizadora do VAC


Música

Para a área da música foi convidado o percussionista Mateus Bahiense, da cidade mineira de Milho Verde. Sua residência terá como foco o uso do tambor como instrumento referencial na percussão.

Júlia Tizumba trabalhará com a voz, enfatizando em sua residência o canto para mulheres artistas, visando ampliar o conhecimento e a experiência daquelas que já atuam nesta área.

Na área de cinema, a mostra “Perspectiva” tem como objetivo homenagear cineastas de carreira consolidada. Nesta edição será exibida uma seleção de filmes do mineiro Rafael Conde, homenageando sua trajetória, iniciada nos anos 1980. Os filmes poderão ser vistos no Cine Humberto Mauro.

Conde comenta que seus trabalhos vão ao encontro da proposta das atividades: “Fiquei muito feliz em poder apresentar esses trabalhos e ter a oportunidade de lançar publicamente ‘O suposto filme’, feito durante a pandemia e que está associado à questão da experimentação, diferentes linguagens e maneiras de abordar o filme e o ator”.

Ele comenta também a respeito de outros títulos presentes no ciclo. “‘A brincadeira’ experimenta essa ponte entre cinema e teatro. ‘Berenice e a Fundação da música’ é sobre a Berenice Menegale, que tem um trabalho muito importante na Fundação de Educação Artística. ‘Musika’ é um filme bem experimental, um dos meus primeiros. ‘Fronteira’ há muito tempo não é exibido e será uma oportunidade muito importante e também terá um debate.”

Literatura

Na literatura, o VAC 2023 realiza uma parceria com a Urucum, feira de arte impressa e de publicações de editoras e autores independentes, com foco em materiais com design diferenciado, livros de artistas, livros objetos, zines, artes gráficas, lambes, gravuras e artes impressas com formatos, acabamentos, papéis, conteúdo e formas diversas. 

Nesta edição, também será inaugurada uma parceria com o projeto ECOS - Modernismo Plural, a se realizar na Casa do Baile e entorno da Lagoa da Pampulha. Trata-se de um seminário que discute o movimento modernista e seu impacto.

“No ano passado, celebramos 100 anos da Semana de Arte Moderna. Houve um grande ciclo de debate nacional, seja por meio das instituições culturais ou da própria academia sobre o que foi realmente esse mito paulista. O que ficou de toda essa reflexão é que é necessário incluir outras vozes, outros protagonistas, para além daqueles artistas que se reuniram no Teatro Municipal em fevereiro de 1922”, afirma Lucas Amorim, responsável por este projeto.

Ele adianta que “o ECOS será composto por palestras, oficinas, intervenções urbanas, visitas mediadas no território da Pampulha”, acrescenta. E ainda: “A gente vai discutir o papel das instituições museológicas para preservação da cultura, a contribuição da literatura na consolidação das políticas de preservação do patrimônio cultural, o processo de musealização da igrejinha da Pampulha e os parâmetros do mercado de artes visuais que ainda contribuem com a manutenção de uma agenda econômica mantenedora de desigualdade e diversos outros temas”.

“Nesse final de pandemia, o que todo mundo quer é se alimentar de cultura. Saber que a gente tem a possibilidade desse retorno presencial dos eventos do VAC é algo incrível”, declara Eduardo França, diretor do UniBH,que patrocina o VAC por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

WORKSHOPS

Confira as residências oferecidas pelo VAC

»  Investigação da palavra como música: a palavra na cena - ministrada por Marcio Meirelles (Salvador)

»  Improvisação, uma zona determinada - ministrada por Dudude Herrmann (Belo Horizonte)

»  Encruzilhadas em movimento - ministrada por Léo Garcia (Rio de Janeiro)

»  Vozes-mulheres - ministrada por Júlia Tizumba (Belo Horizonte)

»  Poéticas da relação: da alegria de reencantar o mundo - ministrada por Altemar di Monteiro (Fortaleza)

»  O dialeto dos tambores - ministrada por Mateus Bahiense (Milho Verde)

15º VERÃO ARTE CONTEMPORÂNEA 
Realização de residências artísticas e mostras de filmes. Desta segunda (16/1) a 5 de fevereiro. Gratuito. Mais informações no site