A flautista Nara Pinheiro de cabelos soltos e olhos fechados, de perfil, usando vestido bege de alcinhas

"Esse vendaval que transparece nas músicas retrata muito o meu desenvolvimento musical e artístico durante o processo de feitura do trabalho", diz Nara Pinheiro

Marcelo Calixto/Divulgação

Única mulher agraciada com o Prêmio BDMG Instrumental em 2022, a flautista Nara Pinheiro lança o single “Âmago”, preparando o terreno para o álbum “Tempo de vendaval”, que chegará às plataformas no próximo dia 27.

“Âmago” é o segundo single do disco. O primeiro, “Despertar”, chegou com o show que Nara apresentou no início de dezembro, no CCBB-BH. Todos seguem a linha de transpor para a música a estética montanhosa de Minas Gerais, que vai sendo desbravada pelas águas dos rios de maneira turbulenta.

Mestranda em música pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, bacharel em flauta transversal pela Universidade Federal de Juiz de Fora e formada em flauta transversal pela Bituca – Universidade de Música Popular, em Barbacena, Nara preparou seu segundo disco nos últimos quatro anos.



A flautista revela ter vivido um bonito processo de transformação durante a produção do trabalho, ao se tornar mãe e ressignificar o papel da música em sua vida. “Esse vendaval que transparece nas músicas retrata muito o meu desenvolvimento musical e artístico durante o processo de feitura do trabalho”, afirma.

Letras

Outra mudança foi passar a pôr letras nas melodias e vocalizá-las, processo que ela descreve como a materialização do sentimento e da imaginação que brotam da música instrumental. 

Parceira de vida de Márcio Guelber, também músico, Nara ganha a companhia dele em grande parte das faixas do novo disco. As canções foram compostas, executadas e produzidas pelos dois, ao lado de Antônio Loureiro, que assumiu piano e direção musical.

“As canções falam muito do nosso cotidiano, do que a gente faz enquanto músicos, mas também enquanto pais e companheiros”, diz ela. 

O novo single, composição de Márcio Guelber, faz parte da suíte “Paisagens possíveis”, instrumental para violão de sete cordas. A peça estreou na Bienal de Música Brasileira Contemporânea, na Sala Cecília Meirelles, no Rio de Janeiro. Posteriormente, virou parceria dos dois ao ganhar letra escrita a quatro mãos. No disco, ela terá nova versão.

“É uma música pela qual tenho muito apreço, porque eu vi essa suíte nascendo”, conta a artista. Entre os planos para 2023, a flautista conta com os frutos do Prêmio BDMG Instrumental, que trouxe visibilidade para ela e abre espaço para outras mulheres.

“Mulheres instrumentistas já são minoria. Há dificuldade muito grande de chegar nos festivais para poder mostrar o nosso trabalho. O BDMG vem se preocupando em inserir mais mulheres instrumentistas e compositoras nas seleções. Quanto mais mulheres vão aparecendo e sendo contempladas, mais elas inspiram outras mulheres a se inscreverem”, diz, citando artistas do instrumental, como Carol Panesi, Mariana Zwarg e Joana Queiroz.

“A gente percebe que não basta você ter talento e reconhecimento. Existe uma barreira que atrapalha a chegada desta música. É uma pena, pois há diferenciação e delicadeza na música feita por mulheres. Um colorido diferente que a gente não vê em outros trabalhos. Então, não incluir é uma grande perda”, conclui.

*Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes