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Estado de Minas CINEMA

Filme 'Paloma' revela a luta de mulher trans para se casar na igreja

Kika Sena vive a humilde agricultora que não se dobra ao preconceito para cumprir a tradição de se unir ao homem que ama no altar, de véu e grinalda


16/11/2022 04:00 - atualizado 16/11/2022 08:27

Atriz Kika Sena contra o sol em cena do filme Paloma
Kika Sena levou o prêmio de Melhor atriz no Festival do Rio por sua atuação em "Paloma" (foto: Pandora Filmes/divulgação )


“Era uma vez” mostra orgia na praia, com Verônica e seus amigos. Em “Paloma”, mulher trans está na cama com o namorado. Em ambos, há deleite, potência, alívio, transpiração. A câmera, jamais vulgar, parece menos um voyeur a observar a volúpia – é como estivesse prestes a entrar nas brincadeiras eróticas, a centímetros de peles e fios de cabelo.
 
As produções se assemelham nestes instantes iniciais, demonstrando a sensibilidade do diretor para filmar o sexo. No mais, há poucos pontos em comum entre eles. Verônica (Hermila Guedes) é uma médica recém-formada do Recife, repleta de dúvidas sobre a vida pessoal e a profissão. Paloma (Kika Sena) sabe bem o que quer: pretende se casar de vestido branco, com grinalda, como manda a tradição.

Será difícil, porque a cerimônia tem um custo razoável, e Paloma ganha pouco na colheita de mamões no sertão. O salário do namorado, o pedreiro Zé (Ridson Reis), também é baixo. 

Será especialmente difícil porque a Igreja Católica não admite casar mulheres trans. Paloma moldou sua história e seu corpo à margem das convenções – “nasci homem, mas sou mulher”, ela diz –, mas quer sacramentar seu amor por Zé no casamento de contos de fada. Por que não?
 
 

Simples assim...

Quase todos veem ali um impasse. Para Paloma, tudo soa, ou deveria soar, mais simples. O casamento é um desdobramento natural, afinal ela é mulher católica e ama o homem com quem pretende subir ao altar.

A personagem escapa de armadilhas frequentes em dramas como esse graças à direção firme e ao roteiro de Gomes, Armando Praça e Gustavo Campos, desenvolvido a partir de uma notícia de jornal. Paloma enfrenta diferentes formas de intolerância, mas não é tratada com vitimismo ao longo da trama. Tampouco é vista como heroína ou figura angelical.

Assim, o cinema de Gomes nos entrega mais uma protagonista com ambiguidades desconcertantes, o que ele já havia feito nos filmes “Cinema, aspirinas e urubus”, de 2005 e “Joaquim”, de 2017.

Mas não haveria tamanha força dramática sem uma grande atriz. O Festival do Rio deste ano reconheceu o talento de Kika Sena, dando a ela o prêmio nessa categoria – no mesmo evento, “Paloma” foi considerado o melhor longa da seção competitiva da Première Brasil.
 
Também chama a atenção a direção de fotografia de Pierre de Kerchove, que tira proveito da luz natural para registrar as oscilações dos personagens.

Em um depoimento na ocasião da morte do cineasta Eduardo Coutinho, Marcelo Gomes lembrou uma frase do documentarista: “Marcelo, o cinema não salva ninguém”. Filmes não têm esse poder, mas podem nos ajudar a compreender o outro e a nós mesmos, como faz “Paloma”.  

“PALOMA”

Brasil, 2022. De Marcelo Gomes. Com Kika Sena, Samya De Lavor e Ridson Rei. Mulher trans, a agricultora Paloma quer se casar na igreja com o namorado, Zé. Obstinada, enfrenta violência, traição e preconceito, mas não se rende à recusa do padre em aceitar seu pedido. Em cartaz nesta quarta (16/11) na sala 3 do UNA Cine Belas Artes, às 20h40.


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