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Estado de Minas MÚSICA

Margareth Menezes defende o afropop, Lula e a reconstrução do Brasil

Cantora baiana vai conversar com a plateia nesta quinta (10/11), em BH, a convite do projeto Salve Rainhas. E avisa: 'Racismo não é mimi'


10/11/2022 04:00 - atualizado 10/11/2022 00:50

Margareth Menezes sorri pra a câmera, usando blusa branca e colar com imensas pedras verdes
Margareth Menezes vai bater papo com o público e fazer pocket show no Sesc Palladium (foto: José de Holanda/divulgação)
 

''Não tem essa conversa de você foi, você acha. Eu não acho, acontece. No Brasil, só agora estamos começando a desconstruir a questão da representatividade negra nos lugares de comando''

Margareth Menezes, cantora e compositora

A vida da cantora e compositora Margareth Menezes rende boas histórias. A baiana, que completou 60 anos em outubro, coleciona uma dezena de hits do carnaval e nunca parou de produzir, nem mesmo ao longo dos oito anos em que ficou sem gravadora. A agenda é agitadíssima no Brasil e no exterior, mesmo sem o  destaque na televisão conferido às conterrâneas Ivete Sangalo e Daniela Mercury. Prêmios são muitos: Troféu Caymmi, indicações ao Grammy Awards e ao Grammy Latino.


Boa parte das histórias de Maga, como ela é conhecida por amigos e fãs, serão contadas nesta quinta-feira (10/11), às 21h, no Sesc Palladium, no encerramento do projeto Salve Rainhas. O bate-papo com a plateia será mediado pela jornalista Camila de Avila.


Intercalando a conversa, a baiana, acompanhada pelo violinista e guitarrista Alex Mesquita, apresentará “Faraó”, seu primeiro sucesso, lançado em 1987, além de canções de Gil, Caetano e Chico Buarque.

Show marcante no Sarará

Margareth volta a Belo Horizonte três meses depois de sua participação no Festival Sarará, na Esplanada do Mineirão, ao lado do grupo BaianaSystem. “Foi maravilhoso”, diz, elogiando o público e a música de Minas Gerais.


Para Maga, todos os músicos do país, principalmente os de sua geração, são influenciados pelo som de Minas. Os artistas mineiros tiveram, nos anos 1980, impacto muito grande na MPB com o Clube da Esquina e toda essa galera formada por Milton Nascimento e Lô Borges. Sem falar em Clara Nunes, filha de Ogum com Iansã”, diz.


Ao completar 35 anos de carreira, ela afirma se sentir potente, com vitalidade. “O etarismo tem muito a ver com essa coisa estabelecida pela sociedade como se fosse um limite. Não vejo limite para mim e para ninguém. O limite está na cabeça, está em regras impostas”, diz, contando que tem muitos projetos e continua aprendendo.

 

Nesta quarta-feira (9/11), dia triste para a música brasileira com a morte de Gal Costa, Margareth saudou a potência da vitalidade da conterrânea.


“Muito obrigada, Gal, por tantos caminhos que nos mostrou com sua figura maravilhosa, sua voz, sua ousadia, sua imagem, sua poesia, sua coragem, seus cabelos cacheados, a rosa vermelha nos cabelos arrepiados, sua barriga de fora, seus pés descalços, suas miçangas”, agradeceu, em post no Instagram.


“Você foi a voz dos nossos sonhos de juventude. Você foi a musa dos nossos desejos!. A boca do batom carmim que todo mundo queira beijar, mas muito mais a voz que todo mundo amava escutar. Essa nunca vai parar de cantar. Valeu demais!”, despediu-se. E concluiu: "Gal imortal."

 

''Desde 1992, falo sobre o afropop brasileiro, sobre a contemporaneidade da produção musical afro-brasileira. A influência não é só na Bahia, mas em Pernambuco, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro. O afropop é contemporâneo''

Margareth Menezes, cantora e compositora

 

A força do afropop

Margareth se orgulha de sua aposta no afropop brasileiro. “Isso me posiciona dentro da música produzida na Bahia, a música afro contemporânea. Sou artista negra da contemporaneidade.” Ela acredita que a indústria começou a compreender que o negro sempre marcou presença na contemporaneidade.


“As referências, as claves da música afro, renovaram a música popular brasileira. Isso é uma realidade, mas nunca foi considerado. Desde 1992, falo sobre o afropop brasileiro, sobre a contemporaneidade da produção musical afro-brasileira. A influência não é só na Bahia, mas em Pernambuco, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro. O afropop é contemporâneo”, aposta.

 

 


Margareth critica a barreira criada pelo próprio mercado, ao comentar os motivos de as negras não terem a mesma representatividade de cantoras brancas no afropop. A pauta do racismo se impõe em todas as classes, afirma.


“Não tem essa conversa de você foi, você acha. Eu não acho, acontece. No Brasil, só agora estamos começando a desconstruir a questão da representatividade negra nos lugares de comando.”


Apesar desse panorama, Margareth construiu sua carreira, criou o próprio selo. “Fiquei oito anos sem gravadora, mas continuei fazendo minha produção. Graças a Deus, construí carreira com alguma solidez com muita luta, muito esforço. Mas não me sinto minorizada. Sou artista que faz show em qualquer lugar do Brasil e fora do Brasil também”, afirma.

 

Luta saudável contra o racismo

O racismo impacta todas as relações no Brasil, principalmente as profissionais, lembra. “A luta é muito grande. A questão racial está sendo discutida, o que é muito saudável para todos nós”.


A baiana adverte: a luta contra o racismo não é mimimi. “É coisa séria”, diz, citando os 350 anos de escravidão no Brasil. O preconceito, segundo a cantora, foi endossado pelo Estado brasileiro e as pessoas se sentiram potentes para difundi-lo.


“Houve a abolição da escravatura, mas sem qualquer reparação. Não houve indenização para as pessoas que ficaram com esta dor. Então, o que se fala hoje não é mimimi, é dívida que o Estado tem com o povo negro do Brasil”, aponta.


“A sociedade brasileira ficou acostumada a tratar mal as pessoas negras, uma ação legalizada há 350 anos. Gente da minha família, por exemplo, foi assassinada pela polícia sem nenhum motivo. Racismo não é só pauta da pessoa negra, mas de todo ser humano”, defende.


Margareth está indignada com a atitude de comerciantes bolsonaristas que sugeriram colocar a estrela do PT em lojas no Rio Grande do Sul.


 “Foi assim que começou o nazismo. Por que a gente vai admitir isso no nosso país? Estamos vendo pessoas pedindo a legalização do nazismo, do fascismo. O que acontece com os negros aconteceu com os judeus. Se a gente não tiver essa memória, seremos capazes de cometer os mesmos erros”.

 

''Não é governo só do PT, é uma frente. Precisamos dar o nosso voto de confiança, pois a nossa democracia ainda está fragilizada. Precisamos ter um pouco de paciência''

Margareth Menezes, cantora e compositora

 

Frente ampla com Lula

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva é recebida com otimismo pela cantora. “Estou vendo um governo ser formado por várias frentes para salvar o país de desmandos. A educação foi desmontada, a ciência perdeu investimentos. Nenhum país vive sem isso. É preciso acesso à educação, acesso à alimentação”, defende.


“Não é governo só do PT, é uma frente. Precisamos dar o nosso voto de confiança, pois a nossa democracia ainda está fragilizada. Precisamos ter um pouco de paciência”, afirma.

 

Além da carreira artística, Margareth Menezes atua em projetos sociais. Ajuda a obra de Irmã Dulce, que ela conheceu ainda menina, e atualmente atravessa crise financeira. “Com a pandemia, deixou de receber apoios. Mas vamos conseguir retomar e equilibrar”, diz.


Há 18 anos ela é presidente da ONG criada com Jaqueline Azevedo, que oferece curso de empreendedorismo, além de investimentos a microempreendedores da região de Itapagipe, que reúne 14 bairros e tem 200 mil pessoas.

 

Margareth Menezes está sentada em sofá em cena da série Casa da vó
Margareth na série 'Casa da vó', produção da plataforma WoloTV, que reúne realizadores negros (foto: Reprodução)
 

Estrela de 'Casa da vó'

Ao comentar os projetos artísticos mais recentes, vibra ao comentar a estreia como protagonista da série “Casa da vó”, produzida durante a pandemia. “Já havia participado de 'Canto da sereia'. Foi uma participação curtinha como delegada. Agora, como protagonista, foi uma surpresa, uma experiência legal. A série, que conta a história de uma família negra, teve impacto interessante em países de língua portuguesa”, diz.

 

Produzida e elaborada por realizadores negros, o seriado faz parte do catálogo da plataforma de streaming WoloTV.


Como o leitor pode perceber, Maga tem muito para contar. A boa notícia é que uma biografia e um documentário, dirigido por Joelma Oliveira, estão no radar da estrela baiana. Claro, não podemos nos esquecer do carnaval, que promete surpresas e a participação dela no desfile da Mangueira, que em 2023 defenderá o enredo “As áfricas que a Bahia canta”.


“Temos muito o que festejar. Atravessamos uma pandemia grave. Neste momento democrático no Brasil, temos a oportunidade de fazer transformação profunda por uma sociedade mais justa para todos nós”, finaliza.

MARGARETH MENEZES

Projeto Salve Rainhas. Nesta quinta-feira (10/11), às 20h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Inteira: R$120 (plateia 1), R$ 100 (plateia 2) e R$ 80 (plateia 3). Meia-entrada de acordo com a lei. Vendas on-line pelo site Sympla. Informações: (31) 3270-8100.


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