(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas MÚSICA

Gaúcho Vitor Ramil lança edição especial de 25 anos do disco 'Ramilonga'

Clássico da MPB, álbum foi o porta-voz da estética do frio, que trouxe novo olhar sobre o papel do Rio Grande do Sul na música brasileira


16/10/2022 04:00 - atualizado 16/10/2022 14:40

Músico Vitor Ramil veste poncho gaúcho e sorri, olhando para a câmera
Em Pelotas, no Rio Grande do Sul, Vitor Ramil desenvolve obra singular na música e na literatura (foto: Marcelo Soares/Divulgação )

Augusto Pio
Completando 25 anos, o álbum “Ramilonga – A estética do frio” (Satolep Music), do cantor e compositor gaúcho Vitor Ramil, acaba de ser relançado em edição física e nas plataformas digitais. Além das 11 faixas originais, a edição especial traz o bônus track “Milongamango”.

A faixa extra é a colagem das canções “Milonga”, “Indo ao pampa” e “Milonga de sete cidades”, esta última com a voz do poeta gaúcho João da Cunha Vargas (1900-1980).
 
Na multifacetada obra de Vitor Ramil, de 60 anos, a milonga – ritmo tradicional do Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai – ganhou novos contornos. Além de defendê-la no universo da MPB, o gaúcho ficou conhecido por sua “estética do frio”, voltada para ritmos sulistas no cenário da música brasileira.

Ramil conta que a voz de Vargas, declamando o poema “Mango”, foi extraída de uma fita cassete, enquanto “Milongamango” é homenagem ao poeta conterrâneo.
 
 
 
“Ramilonga” (1997), clássico da MPB, é disco fundamental na carreira de Vitor, irmão dos cantores e compositores Kleiton e Kledir. “Foi o momento em que consegui ajustar um foco, vamos dizer assim. Eu morava no Rio de Janeiro antes de fazê-lo. Tive o insight da estética do frio, como se tivesse olhado a mim mesmo e ao meu estado (Rio Grande do Sul) de longe. Tive distância para entender uma série de coisas, e o álbum acabou sendo o resultado da minha reação a elas”, conta.

Vitor, que mora em sua Pelotas natal, faz milongas desde a adolescência. “Compus a primeira aos 17 anos, ‘Semeadura’, gravada pela cantora argentina Mercedes Sosa (1935-2009). Depois musiquei uma milonga do Jorge Luiz Borges (1899-1986), o poeta argentino. Vinha musicando, mas não conseguia encaixar minhas milongas em meus discos ‘normais’, sempre achava que elas ficavam meio deslocadas”, conta.
 

''Eu morava no Rio de Janeiro. Tive o insight da estética do frio, como se tivesse olhado a mim mesmo e ao meu estado (Rio Grande do Sul) de longe. Tive distância para entender uma série de coisas, e o álbum acabou sendo o resultado da minha reação a elas''

Vitor Ramil, cantor, compositor e escritor

 

Ramil observa que a música do Rio Grande do Sul sempre lhe parecia “deslocada” do cancioneiro brasileiro.“Ramilonga” expressa a linguagem que Vitor encontrou para “trazer abordagem original desse imaginário e que, ao mesmo tempo, fosse crítica à cena.”

O álbum teve boa recepção no país e no exterior. “No Rio Grande do Sul, foi meio polêmico, pois as pessoas mais ligadas ao regionalismo, ao tradicionalismo, deram uma rechaçada inicial no trabalho, porque, acredito, não seguia os preceitos deles”, relembra.

Houve também estranhamento por parte dos fãs. “Pessoas que acompanhavam as minhas canções mais ‘brasileiras’, vamos assim dizer, acharam aquilo estranho. Muitos perguntaram: ‘o que houve, o Vitor vai fazer música regionalista agora?’. Foi uma espécie de dificuldade de aproximação, mas logo em seguida veio uma onda muito boa, porque as pessoas gostaram do repertório e da abordagem”, relembra.
 
 

Sem gauchão e clichês

Cantor, compositor e escritor, ele acredita que “Ramilonga”, à sua maneira, aproximou pessoas de outros lugares do país daquele imaginário regional do Rio Grande do Sul. “Eu cantava sem virar  personagem, um gauchão, sem que a minha música tivesse clichês da música regional e tal. Então, o disco se tornou marcante”, explica.

Naquela época, Vitor passou a usar violões de aço. “Isso foi muito determinante na minha maneira de compor até então. Comecei a usar afinações preparadas no violão”, diz, definindo todo esse processo como uma espécie de “marco zero” de sua trajetória.

O primeiro disco dele saiu aos 18 anos – tinha 35 quando veio “Ramilonga”. “Já são 25 anos desse trabalho, superquerido no Sul do país. Ele se tornou um superclássico, vamos dizer assim.”

A remixagem do álbum comemorativo coube a Walter Costa (Estúdio Gueto) e a rematerização à Classic Master, nos Estados Unidos. Além de Vitor (voz e violão), participaram Nico Assumpção (baixo) e Zé Gomes (violino), ambos falecidos, André Gomes (sitar), Alexandre Fonseca (tablas, percussão e bateria) e Roger Scarton (harmonium). Kleiton Ranil toca violão em “Deixando o pago”.
 
O gaúcho já planeja shows para divulgar o trabalho. “Fizemos a estreia aqui no meu estado e foi muito legal. Vamos ver se a gente consegue levá-lo a outros lugares. Tenho sempre uma limitação, pois não sou um artista popular e o meu show tem muita gente. São muitas passagens aéreas, então sempre complica. Mas quero fazer uma turnê”, afirma Ramil.

Canções para Leminski

Durante a pandemia, ele compôs 14 músicas com poemas do Paulo Leminski (1944-1989). 

“Tenho um álbum pronto com a poesia do Paulo. Pronto no sentido da composição. Também fiz algumas músicas que dariam para outro disco e voltei a escrever novela de ficção. Devo lançar pelo menos dois discos no ano que vem, vamos ver”, adianta Vitor Ramil.

Capa do disco Ramilonga traz o rosto de Vitor Ramil, fotografado de perfil
(foto: Satolep/reprodução)
“RAMILONGA – A ESTÉTICA DO FRIO”

Disco de Vitor Ramil, remasterizado e remixado, disponível nas plataformas digitais. Caderno de anotações, com papéis antigos e rascunhos em comemoração aos 25 anos do álbum, pode ser adquirido no site da Satolep Music.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)