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Estado de Minas CINEMA

Mesmo contando com um elenco estelar, "Amsterdam" não brilha

Em cartaz em BH, filme ambientado nos anos 1930 tem trama rocambolesca e tenta misturar todos os gêneros, do suspense à sátira social


10/10/2022 04:00 - atualizado 09/10/2022 17:38

Os atores John David Washington, Margot Robbie e Christian Bale se abraçam em frente a uma bancada de drinques em cena de amsterdam
Filme ambientado nos anos 1930 tem trama rocambolesca e tenta misturar todos os gêneros, do suspense à sátira social (foto: Disney/Divulgação)

 
Eu já tinha lido algumas críticas de revistas e jornais americanos dizendo que "Amsterdam" era só chapéu e nenhum gado, como eles dizem por lá, quando uma pessoa tem pinta de fazendeiro de sucesso, mas é pura fachada. Duvidei de todos. Não podia ser. Com esse elenco, esse cineasta, não podia ser.
 
Devia ser coisa de americano "woke" —aqueles que problematizam questões como racismo e sexismo—, por causa das notícias de bastidores ou mesmo da vida pessoal, em que aparentemente David O. Russell, de 64 anos, tem o hábito de se comportar de maneira duvidosa. Uma sobrinha transexual o acusou de assédio em 2012, depois afirmou que o contato tinha sido consensual, mas que ela não tinha se sentido bem. O caso acabou não indo adiante.


 
A atriz Amy Adams disse em entrevista que o diretor a fazia chorar constantemente no set de "Trapaça", de 2013, porque tratava elenco e equipe técnica com desrespeito. Um vídeo que viralizou na primeira década dos anos 2000 mostrava uma discussão quente entre ele e a atriz Lily Tomlin no set de "Huckabees – A vida é uma comédia", de 2004.
 
Até o bonachão George Clooney chegou a trocar tabefes com Russell no set de "Três reis", de 1999, e jurou que nunca mais trabalharia com o cineasta, o que de fato nunca mais aconteceu.

Mas uma coisa são os dramas que rolam por trás das câmeras e outra, bem diferente, é o que chega às telas dos cinemas. E David O. Russell é o nome por trás de delícias como "Procurando encrenca", de 1996, com Ben Stiller, Patricia Arquette, Mary Tyler Moore e Alan Alda; "O lado bom da vida", de 2012, com Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Chris Tucker e Robert De Niro; e "Trapaça", que também tinha Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, além de Christian Bale — outro que já o conhecia desde "O vencedor", de 2010, que fez com Mark Wahlberg e Amy Adams, a mesma que depois chorou no set de "Trapaça".
 
Ou seja, ele deve ser um daqueles chefes geniais e geniosos, com quem dá para trabalhar quando tudo vai bem na vida pessoal, mas que, quando a pessoa está mais triste ou fragilizada, a coisa pega. Com sorte, alguns de nós tivemos ou teremos um desses. Não é segredo que chefe genial é coisa rara no mercado de trabalho.
 
Mas em "Amsterdam" a mágica simplesmente não acontece. E olha que acontece coisa para chuchu nesse longa-metragem de 2h14min de duração (já escrevi isso antes, vai virar um mantra, mas pelo menos não é uma série).

Trama confusa

A trama, cheia de twists e reviravoltas (tantas que dá para sair no meio do filme, tomar uma água e voltar não entendendo nada, mais ou menos como fica quem não faz uma pausa), pode ser resumidíssima desta maneira: dois amigos, interpretados por Christian Bale e John David Washington, testemunham um assassinato do qual acabam virando os principais suspeitos.
 
Para limpar seus nomes e não ser presos, se unem a uma amiga, papel de Margot Robbie, que conheceram anos antes em Amsterdã, durante a Primeira Guerra Mundial, e acabam desvendando uma louca conspiração para transformar os Estados Unidos em uma ditadura nos anos 1930.
"Muito dessa história realmente aconteceu", diz o cineasta nos créditos de abertura. Quem sabe não é esse o problema? Talvez, se ele tivesse deixado de fora as partes inventadas, não teria dado certo?
 
O problema aqui é justamente a tentativa de fazer um filme que é parte comédia, parte sátira social, parte drama, parte suspense, parte romance proibido, parte declaração de amor à amizade, parte apologia da democracia americana. São muitas partes para um filme só. Não cabe.
 
No trajeto, David O. Russell consegue o que parecia impossível: fazer a audiência se aborrecer na presença de Chris Rock e Taylor Swift, Christian Bale e Mike Myers, Robert De Niro e Anya Taylor-Joy, John David Washington e Margot Robbie, mais linda do que nunca.
 
Até o defunto é talentoso. Sim, a história tem também um homem morto em circunstâncias misteriosas, papel do incrível Ed Begley Jr. Timothy Oly- phant, Michael Shannon, Zoe Saldaña e Rami Malek também fazem parte do elenco.
 
Sabe uma festa incrível, num lugar lindo, cheia de gente legal, com música boa, som perfeito, mas que não tem bebida nem comida? É tipo assim. (Teté Ribeiro/Folhapress)


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