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Estado de Minas "QUE TAL UM SAMBA?"

Reencontro de fãs com Chico Buarque em BH é recheado de carinho e catarse

Público que lotou o Minascentro nas quatro noites se encantou com a performance do cantor e de sua convidada, Mônica Salmaso, e se expressou politicamente


10/10/2022 04:00 - atualizado 10/10/2022 09:10

Mariana Peixoto
 
Tocando violão sentado num banquinho no palco do Minascentro, Chico Buarque sorri
Chico Buarque, que costumava se apresentar no Palácio das Artes em BH, ocupa o palco do Minascentro na estreia da turnê "Que tal um samba?" na capital mineira, na quinta passada (foto: Marcos Vieira/EM/D.A.Press)
 

Bissexto no palco e autor de obra poética que cala fundo no Brasil dos últimos 50 anos, a cada nova turnê Chico Buarque fala de si e de todos. A catarse coletiva provocada pela passagem de “Que tal um samba?” por Belo Horizonte – quatro shows, encerrados no último domingo (9/10), no Minascentro – reuniu isto tudo: Brasil, Chico e cada um dos Joãos e Marias da plateia, cada qual com sua própria história com a obra do cantor e compositor.
 
O economista Sérgio Moraleida, por exemplo, o viu pela primeira vez quando tinha 12 anos, na antiga loja de departamentos Pep’s, na Rua da Bahia, em uma tarde de autógrafos. Comprou logo de pronto o compacto de “A banda” (1966) – o exemplar autografado, infelizmente,  desapareceu, mas, a partir deste primeiro encontro, Moraleida seguiu fielmente Chico em suas passagens por BH.

O primeiro show foi em 1973, no antigo ginásio do Minas Tênis Clube. Moraleida, recém-chegado ao curso de Economia da UFMG, o viu durante uma calourada promovida pelo DCE da universidade – o evento durou uma semana, como uma forma de tentar minar os trotes que assombravam os calouros da época.
 
De pé com instrumento musical nas mãos, Mônica Salmaso canta no palco do Minascentro
Convidada da turnê, a cantora Mônica Salmaso abre o show cantando "Todos juntos" (foto: Marcos Vieira/EM/D.A.Press)
 
 
Foi a praticamente todas as turnês desde então. “Eu não sabia como ia ser esta, não havia lido sobre o repertório. O show traz músicas de todas as épocas e suas principais parcerias – Jobim, Vinicius, Edu Lobo, Francis Hime. Mas muitas das músicas escolhidas não foram de grande sucesso, algumas até desconhecidas por grande parte, como ‘Desalento’ e ‘Mar e lua’. Foi uma escolha não de rever toda a carreira, mas de querer cantar aquelas músicas. Estava em um setor com gente jovem. Você via o espanto, no sentido de coisa bonita, de ver coisas que eles provavelmente não conheciam. Para mim não teve coisa melhor.”
 

Incomparável

Professora aposentada da PUC-Minas, Beth Marques compartilha com Moraleida este acompanhar de Chico Buarque desde a juventude – dela e dele. “Ele alimentou a minha vida do ponto de vista de perspectiva social, de liberdade. Nos anos 1960 e 1970, eu ia sempre ao Rio para vê-lo.” Há muitos anos sem ir a um show, ela maravilhou-se com o reencontro. “O Chico maduro tem domínio de palco, sabe o que fazer, traz segurança. Acho incomparável com o início da carreira.”
 
A participação de Mônica Salmaso na turnê foi aprovada pelo público. “Você via que a coisa ‘batia’ entre eles”, diz a produtora Daniele Pires. “Enriqueceu bastante o show. Gostei também de ele não ter cantado só as canções conhecidas. Tinha muito lado B ali”, completa a administradora cultural Daniela Meira, que entoou o coro que dominou o final do show, quando a plateia cantou, do início ao fim, “João e Maria”. “Você via que ele ficou emocionado com a manifestação do público.”
 
Emocionada também ficou Daniele, acrescentando que foi um “alento” ouvir Chico. “Ele sempre foi político, até as músicas românticas dele são. Eu não sabia que precisava ouvi-lo tanto neste momento.” Maura de Ávila, gerente financeira aposentada, compartilha desta opinião. “O homem, além de cantar, é muito coerente. Eu pus o meu ‘Lulalá’ pra fora’”, comenta ela, que se juntou à plateia que entoou, nas quatro noites, em todo o Minascentro, gritos de apoio ao candidato petista.
 
Este foi o quarto show de Chico que Maura assistiu com o marido, o contador aposentado Fausto Alves. “Cada show que vou fico mais louca”, diz ela. Na residência do casal, sempre só se ouve música brasileira – a exceção é a música clássica. “Na época da minha juventude, a moda era Roberto Carlos. Eu nem sabia quem era. O Chico é um dos maiores ídolos desde sempre”, comenta Alves, que se encantou com a execução da canção “Desalento”. “Nem imaginava que iria cantar. E a conheci do disco (‘Construção’) que minha mulher me deu de presente em 1971.”
 
Pároco da Paróquia Santa Edith Stein, na Sagrada Família, o padre Paulo José Lopes da Silveira havia assistido a um show de Chico anteriormente. Considera a turnê “Que tal um samba?” um marco por mais de uma razão. “Um show como o que assisti foi de lavar a alma”, comenta o religioso. 
 
Para ele, para além da música, ouvir Chico Buarque hoje e vê-lo ao vivo traz vários significados. “No início e no fim do show poder gritar o que quero para o país e fazer o "L" (símbolo de Lula) com as mãos foi libertador. Com sua arte e seu posicionamento, Chico é exemplo que motiva muitas pessoas na conscientização política, na empatia social, na sensibilidade com os sérios problemas do país. Foi resistência na ditadura que o tentou calar e ainda hoje é resistência diante das ameaças à democracia”, afirma padre Paulo José.


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