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Estado de Minas BELO HORIZONTE

Jornalista Chico Brant lança livro com a história do Barro Preto

Passado e presente se encontram na pesquisa desenvolvida pelo autor sobre o bairro operário que abrigou imigrantes e hoje é polo de moda


13/08/2022 04:00 - atualizado 13/08/2022 00:08

Jornalista Chico Brant lê o livro Barro Preto na Praça Raul Soares, em BH. No primeiro plano veem-se flores vermelhas
Chico Brant fez pesquisa sobre as áreas de referência do Barro Preto, como a Praça Raul Soares (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )

''Adotei a metodologia do repórter andando pela cidade. Registrei, conversei e ouvi incontáveis pessoas, como médicos, pastores, ex-moradores, descendentes de italianos, de judeus e de espanhóis, além de comerciantes''

Chico Brant, jornalista


O resgate de lembranças afetivas pessoais, recordações emprestadas de antigos moradores e registros históricos são alguns dos recursos utilizados pelo jornalista Chico Brant para compor o livro “Barro Preto”, que será lançado neste sábado (13/8), na Livraria Quixote. É é o 36º título da coleção “BH. A cidade de cada um” (Conceito Editorial).

Brant se valeu das técnicas jornalísticas para reportar o passado e o presente por meio de testemunhos, além de revisitar lembranças dos anos 1950 e início dos 1960, quando morou no bairro. Ele percorreu 16 ruas, cinco avenidas e uma praça, extraindo fatos, revendo relações entre trabalhadores e moradores, acompanhando o processo de crescimento da região.

Perfil multifacetado

A partir de suas investigações, o autor aborda as múltiplas faces do Barro Preto, que foi não apenas bairro operário, lar de imigrantes, sede do Palestra Itália (atual Cruzeiro Esporte Clube). É também referência escolar, polo da moda, sede de instituições militares e área hospitalar.

Por meio de suas caminhadas sentimentais, o objetivo do jornalista era fazer uma reportagem de memórias e, ao mesmo tempo, um guia para conhecer a história do bairro.

“Adotei a metodologia do repórter andando pela cidade. Registrei, conversei e ouvi incontáveis pessoas, como médicos, pastores, ex-moradores, descendentes de italianos, de judeus e de espanhóis, além de comerciantes. Também fiz pesquisas bibliográficas e em jornais, visitei o Arquivo Público Municipal”, conta Brant.

Para construir narrativa organizada e que tivesse sentido, adotou como critério criar um mapa, o que pode ser observado no índice de “Barro Preto”, no qual ele retoma mais de um século de história e registra as mudanças do lugar.

“Não é só um bairro residencial, ele conta uma história que está além do habitacional. Isso o diferencia de outros bairros tradicionais e vizinhos, como o Santo Agostinho. Levantar todos os dados e juntá-los em um conjunto razoavelmente articulado foi uma das maiores dificuldades”, explica.

Casarão amarelo no Barro Preto, em BH
Antigo sobrado guarda a memória da vocação do Barro Preto para o comércio (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )

Norte, sul e "avenida do meio"

Enquanto a área ao norte é mais antiga, popular, boemia e comercial, aquela ao sul é mais modernizada e institucional. A separação desses dois polos foi feita pela “Avenida do meio”, mais conhecida como Augusto de Lima, que alinha, entre as ruas Araguari e Rio Grande do Sul prédios residenciais, órgãos públicos, galerias, comércio e o Hotel BH Palace.

Sobre a avenida, que por muito tempo abrigou o maior edifício do Barro Preto, o Randrade, o jornalista relembra fatos curiosos, como quando o local foi escolhido, em 1957, para a exibição do grupo de equilibristas Zugspitz Artisten. Os alemães já haviam atravessado de motocicleta e a pé um cabo fixado entre os edifícios Lavoura, na Praça Sete, e Acaiaca, localizado na Afonso Pena. Depois, selecionaram o prédio do Polo da Moda para o novo show.

Outro local importante é a Praça Raul Soares, projetada pelo arquiteto Eric de Paula, em 1936. O escritor a chama de “jardim de entrada”, destacando que o local foi referência da expansão da cidade, enquanto outros bairros da região cresciam, como a Barroca e o Santo Agostinho.

O desenvolvimento do Barro Preto, que ganhou este nome devido à composição do solo, terra preta e argilosa, foi peculiar. Tudo começou com uma vila operária e evoluiu para o misto de bairro residencial e comercial, onde se instalaram soldados e, sobretudo, imigrantes.

A partir da década de 1970, o Barro Preto ganhou perfil essencialmente comercial, sobretudo ao norte, abrigando fábricas como a Companhia de Cigarros Souza Cruz, Indústrias de Móveis Minart, Fábrica de Móveis Luso-Brasileira, as primeiras unidades da Lavanderia Eureka e das Massas Vilma. Nos anos 1980, o bairro se tornou polo de moda, concentrando cerca de 1 mil empresas do setor.

O Barro Preto oferecia à capital variedade de serviços e entretenimento. Além de restaurantes, padarias, casas noturnas, dancings, veículos de imprensa, como o extinto Diário de Minas, o Cine Democrata (aberto nos anos 1930 e sucedido pelo Roxy) e shoppings, o local abrigou instituições públicas e de segurança, escolas importantes e foi sede de clube de futebol.

Uma das características marcantes do Barro Preto se deve aos imigrantes e seus descendentes que viveram na região. Além de italianos, há judeus, árabes, portugueses e espanhóis. Isso foi decisivo para o perfil do comércio na Avenida Augusto de Lima e nas ruas Tupis e Goitacazes.
 

''JK criou meios para a construção da primeira Igreja Batista, localizada na Praça Raul Soares, e outra na Avenida Augusto de Lima. Além disso, foi instalada a segunda Igreja Presbiteriana. Então, por esse lado, ficou um bairro muito interessante''

Chico Brant, jornalista

 

JK, aliado dos evangélicos

O autor destaca que Juscelino Kubitschek tinha forte ligação com o Barro Preto. Ele apoiou a construção do estádio do Cruzeiro Esporte Clube e viabilizou a instalação de igrejas evangélicas.

“Embora a Igreja São Sebastião fosse e ainda seja referência religiosa, JK criou meios para a construção da primeira Igreja Batista, localizada na Praça Raul Soares, e outra na Avenida Augusto de Lima. Além disso, foi instalada a segunda Igreja Presbiteriana. Então, por esse lado, ficou um bairro muito interessante”, afirma.

Essa decisão não agradou a setores católicos tradicionais, que resistiram à chegada dos evangélicos. “Na época, até conseguiram embargar a obra, pois havia um conservadorismo muito forte. Mas JK, que era católico, negociou com a hierarquia da Arquidiocese de Belo Horizonte e ela foi inaugurada”, relembra.

“BARRO PRETO”

. De Chico Brant
. Conceito Editorial
. 168 páginas
. R$ 40
. Lançamento neste sábado (13/8), das 11h às 14h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria






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