(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CINEMA

Mostra Ecofalante traz 69 filmes sobre a crise ambiental a 12 espaços de BH

Evento gratuito começa nesta terça (9/8), no Cine Santa Tereza. Mineração, destruição da floresta e a luta dos indígenas estão entre os temas abordados


08/08/2022 04:00 - atualizado 08/08/2022 00:20

Cena do filme O território mostra crianças indígenas brincando no rio em um dia ensolarado
Filmado em Rondônia, "O território" abre a mostra em BH e aborda a luta de indígenas para proteger a floresta (foto: Ecofalante/Divulgação)
 
Realizada na capital paulista desde 27 de julho, a edição 2022 da Mostra Ecofalante de Cinema chega a Belo Horizonte nesta terça-feira (9/8). Totalmente gratuito, o evento ocupará até o final do mês as telas do Cine Santa Tereza, Sesc Palladium, Centro Cultural UFMG e nove centros culturais municipais, exibindo 69 filmes – representantes de 26 países – com foco em questões socioambientais.
 
Diferentes seções e eixos compõem a programação, que chega muito maior em relação à primeira edição realizada na capital mineira, em 2019. Os títulos se dividem entre o Panorama Internacional Contemporâneo, a Competição Latino-Americana e o Concurso Curta Ecofalante.

Oscar na programação

O Panorama Internacional Contemporâneo reúne 46 produções – entre elas os indicados ao Oscar “Ascensão”, de Jessica Kingdon, e “Escrevendo com fogo”, de Rintu Thomas, além de “Mil incêndios”, premiado no festival de Locarno.
 
“O território”, premiado no festival norte-americano de Sundance, abre a Ecofalante em Belo Horizonte, amanhã, às 19h, no Cine Santa Tereza.
 
A mostra faz homenagem ao diretor e ator Jacques Perrin, com quatro filmes que ele produziu e dirigiu; celebra os 40 anos do longa “Koyaanisqatsi”, marcante obra de estreia do diretor norte-americano Godfrey Reggio; e promove uma sessão especial de “Adeus, Capitão”, que fecha a trilogia desenvolvida pelo cineasta, antropólogo e indigenista Vincent Carelli, diretor dos premiados “Corumbiara” (2009) e “Martírio” (2016).
 

''Nos últimos 10 anos, passamos daquele público de 4 mil pessoas para 200 mil. Foi um dos festivais que mais cresceram. Hoje, a Mostra é uma das maiores do Brasil e certamente a maior realizada gratuitamente no país''

Chico Guariba, criador da Ecofalante

 
 
Na Competição Latino-Americana estão títulos como “Lavra”, do mineiro Lucas Bambozzi, sobre os impactos da mineração em Minas Gerais; “A praia do fim do mundo”, de Petrus Cariry, com Marcelia Cartaxo; e o argentino “Esqui”, que ganhou o prêmio da crítica na seção Fórum do Festival de Berlim, entre outros.
 
Criador e diretor Ecofalante, Chico Guariba destaca que a seleção dos títulos foi orientada por exaustivo trabalho de pesquisa e curadoria realizado junto a grandes festivais do mundo. “A gente cataloga uns 2 mil filmes e a equipe curatorial escolhe os 50 melhores, que discutem questões socioambientais. A partir desses títulos a gente vai compondo a programação”, diz.


Este ano, o Panorama Internacional Contemporâneo abordará os seguintes eixos temáticos: ativismo, biodiversidade, economia, emergência climática, povos & lugares e trabalho.
 
Cena do filme Lavra mostra balsa navegando em rio poluído pela lama da mineração
''Lavra'', filme do mineiro Lucas Bambozzi, registra o impacto da mineração sobre o meio ambiente (foto: Ecofalante/Divulgação)
 

Alerta pessimista

No eixo emergência climática, um dos destaques é “Uma vez que você sabe” (2020), do documentarista Emmanuel Cappellin. O longa focaliza um grupo de cientistas que acredita que a oportunidade de evitar mudanças climáticas catastróficas já passou. Exibido na Itália, Reino Unido e Hong Kong, o filme coloca a pergunta: como se adaptar ao colapso?
 
Já “O território” (2022), que integra o eixo ativismo, mostra a luta do povo uru-eu-wau-wau, em Rondônia, e de ativistas como Neidinha Suruí, que batalham para proteger a terra indígena e a floresta da invasão de grileiros. O longa é produzido por Daren Aronofsky (diretor de “Réquiem para um sonho” e “Mãe!”) e dirigido pelo norte-americano Alex Pritz.
 
Além do Panorama Internacional, Guariba chama a atenção para a Competição Latino-Americana. “Ela está cada vez mais forte, cresceu quantitativa e qualitativamente ao longo dos últimos anos. Os problemas ambientais no Brasil são tão grandes que, mesmo quando não são o foco, acabam aparecendo em segundo plano em várias produções”, diz. Ele destaca “Lavra”, que será tema de um debate, e outros filmes que abordam a mineração.

Cinco países na competição

Serão projetadas em Belo Horizonte 32 produções participantes da competição. Os 13 longas e 19 curtas representam Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba e México. Guariba salienta que o recorte da mostra em BH traz “a nata da programação” exibida em São Paulo, que conta com cerca de 100 títulos e segue até o próximo dia 17.
 
Entre os destaques, aponta a homenagem ao francês Jacques Perrin, que morreu em abril, aos 80 anos. Conhecido pelo papel de Totó em “Cinema Paradiso” (1988), de Giuseppe Tornatore, ele participou de cerca de 130 filmes e séries. Indicado ao Oscar por “Z” (1969), foi ardoroso defensor da natureza.

Guariba informa que os três longas-metragens que Perrin dirigiu e um que produziu estão incluídos na programação. Indicado ao Oscar de melhor documentário, “Migração alada” (2001), assinado por Perrin, Jacques Cluzaud e Michel Debats, acompanha a migração de diversas espécies de pássaros de todos os continentes.
 
Já “Oceanos” (2009) revela mistérios escondidos nas águas, hábitos de vida das criaturas marinhas e perigos que as cercam. “São dois filmes maravilhosos”, sublinha.
 
Cena do filme Oceanos mostra cardume de arraias no mar azul
"Oceanos", dirigido pelo francês Jacques Perrin, aponta perigos que ameaçam o universo marinho (foto: Ecofalante/Divulgação)
 

Obra-prima de Godfrey Reggio fez a cabeça de várias gerações

“Koyaanisqatsi” é marco do cinema mundial, destaca Guariba. Lançado no Festival de Berlim em 1982, o ensaio de imagens e sons focaliza o impacto destrutivo do mundo moderno no meio ambiente.

O filme impressionou público e crítica por trazer um retrato sobre o planeta, a natureza e a civilização prescindindo completamente de falas e diálogos. Godfrey Reggio posteriormente realizou obras com a mesma proposta, como “Powaqqatsi” (1988), “Anima mundi” (1991) e “Naqoyqatsi” (2002).
 
Guariba observa que “Koyaanisqatsi” não chegou a ser lançado comercialmente no Brasil. Foi exibido apenas na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e marcou toda uma geração – ele próprio se diz profundamente impactado pela obra.
 

“Foi o primeiro grande filme a mostrar em cinemascope os efeitos da ação do homem no planeta. Ele volta a ser exibido agora, depois de muitos anos sem marcar presença na tela grande”, ressalta, chamando a atenção para a trilha sonora de Phillip Glass.

 

Confira o trailer de ''Koyaanisqatsi'', com trilha sonora de Philip Glass: 

 

Indígenas na telona

"Outro destaque é a sessão especial de ‘Adeus, Capitão’, do Vincent Carelli, que completa a trilogia muitíssimo premiada. É um filme de uma importância tremenda para a questão indígena no Brasil. Ele não está em competição”, informa.
 
Codirigido com Tatiana Almeida, o longa aborda os males da aculturação nas populações indígenas no Brasil ao apresentar 70 anos de registros do povo Gavião, partindo do primeiro contato dos então indígenas isolados com os “kupên” (brancos).
 
Confira cenas de "Adeus, Capitão":
 
 

Chico Guariba avalia que o percurso de 11 anos da Ecofalante não poderia ser mais exitoso. O festival começou com proposta diferente de outros espalhados pelo país, com foco voltado para um público segmentado.
 
“A gente começou pequeno, com sessões em três cinemas de São Paulo, para um grupo seleto de espectadores. A primeira edição totalizou um público de4 mil pessoas”, recorda. Ele rapidamente percebeu o grande volume de produções com foco em temas socioambientais que não chegavam ao Brasil – ou chegavam timidamente.
 

“Quando decidimos criar um festival grande, partimos de uma plataforma para debater os problemas contemporâneos. O DNA da Mostra Ecofalante é focar em pesquisa e curadoria robustas, com a preocupação de ir além do entretenimento, envolvendo cultura, educação e cidadania”, diz.

 

Guariba destaca a expansão do evento. “Nos últimos 10 anos, passamos daquele público de 4 mil pessoas para 200 mil. Foi um dos festivais que mais cresceram. Hoje, a Mostra é uma das maiores do Brasil e certamente a maior realizada gratuitamente no país. Isso se deu em função da importância dos temas socioambientais, que estão no nosso dia a dia, no centro das nossas preocupações. As emergências climáticas, o caos urbano, o mundo do trabalho e da tecnologia, a questão dos resíduos sólidos, os recursos hídricos, enfim, é uma gama muito variada de debates e discussões que nos atravessam a todos”, afirma o criador da Ecofalante.

MOSTRA ECOFALANTE DE CINEMA

De terça-feira (9/8) a 31/8, no Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza), Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro), Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174, Centro) e nove centros culturais da Prefeitura de BH. Entrada franca. A programação está disponível no site https://ecofalante.org.br/


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)