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Estado de Minas HQs

Festival Internacional de Quadrinhos volta a BH tendo como tema o trabalho

11ª edição do FIQ começa nesta quarta-feira (3/8) e vai até domingo, com série de atividades gratuitas no Minascentro


02/08/2022 04:00 - atualizado 01/08/2022 23:22

Público visita estandes do FIQ na Serraria Souza Pinto
O Festival Internacional de Quadrinhos, cuja última edição ocorreu em 2018, na Serraria Souza Pinto, se transfere para o Minascentro, recentemente reaberto (foto: Ricardo Laf/divulgação)

O Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ-BH) chega à sua 11ª edição, que tem início nesta quarta-feira (3/8) e segue até o próximo domingo (7/8), com uma vasta programação, totalmente gratuita, concentrada no Minascentro. O evento é uma realização da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura, em parceria com o Instituto Luminar.

Com uma história de duas décadas e meia desde a primeira edição, em 1997, e quatro anos após a última presencial, em 2018, o FIQ-BH retoma o modelo consagrado sob a temática “Quadrinhos e o mundo do trabalho”, que guiou a montagem da programação. Ela inclui oficinas, exposições, sessões de filmes, mesas de artistas, feira de quadrinhos, debates, sessões de autógrafos, duelos de HQs, rodada de negócios, entre outras atividades.

Os números dão a dimensão do evento: são 30 horas de atividades no auditório, 25 mesas de debates, dois convidados internacionais, 26 convidados nacionais, 29 convidados locais, 189 mesas de artistas, cerca de 300 artistas na feira, 13 editoras na rodada de negócios, 138 artistas inscritos para a rodada, 30 horas de oficinas básicas, quatro oficinas de formação, 10 sessões de filmes, duas exposições, cerca de 100 escolas inscritas para visita e 11 estandes.

Responsável pela curadoria, ao lado da jornalista e quadrinista baiana Amma, o mineiro Lucas Ed, que é psicólogo e pesquisador da representação social do feminino em HQs, diz que a escolha do tema desta edição reflete o cenário da pandemia. “Eu e Amma estávamos conversando sobre como o pessoal dos quadrinhos foi afetado, porque sem a possibilidade de realização de eventos, a divulgação e a circulação do que era produzido ficou comprometida”, diz.

Obras que repercutiram 

Ele aponta, ainda, que dois trabalhos alcançaram grande repercussão no período pandêmico: a HQ “Confinada”, de Leandro Assis e Triscila Oliveira, sobre uma diarista que fica em isolamento social com sua patroa; e a série de entrevistas com trabalhadores de diversas áreas feita pelo gaúcho Pablito Aguar e publicada em quadrinhos em seu site. “Observando esse cenário, a gente pensou: tem um negócio aí, vamos discutir isso.”

As questões relativas à temática se refletem nas mesas-redondas, debates e conversas com convidados. A proposta é discorrer sobre os trabalhos envolvidos na produção de uma história em quadrinhos (pesquisa, planejamento, entrevistas, execução, divulgação); as atividades em torno da produção, como o trabalho de tradutores; os quadrinhos que falam sobre trabalhadoras e trabalhadores e suas atividades; e o que representa ter essa arte como meio de vida.

“As atividades que compõem a programação orbitam esse eixo principal, que propõe que se fale do trabalho por meio dos quadrinhos e do trabalho que envolve produzir uma HQ”, diz Lucas Ed. Ele destaca que outras diretrizes importantes foram levadas em consideração pela curadoria.

Marcelo D'Salete desenha em mesa profissional de quadrinistas
O artista paulistano Marcelo D%u2019Salete, autor de "Angola Janga", é o homenageado desta edição, com mostra própria (foto: Rafael Roncato/divulgação)

Produção atual 

“Buscamos contemplar a diversidade e a contemporaneidade, focando em quem está produzindo agora e quem está produzindo das formas mais variadas possíveis. Quisemos dosar esses universos, de uma produção atual, arejada, com o tema central, sem nos esquecer, naturalmente, da história dessa linguagem, com tudo o que já foi feito”, aponta.

A diversidade de que Lucas Ed fala se aplica não só ao que é produzido, mas também a quem produz. A secretária municipal de cultura, Eliane Parreiras, destaca a representatividade do grupo de artistas convidados como um dos pontos altos desta edição. “A abordagem dos temas contemporâneos, a questão racial, a equidade de gênero, o processo de se viver em sociedade, o diálogo dos quadrinhos com outras linguagens, tudo isso tem uma presença forte nesta edição do FIQ-BH”, diz.

Não por acaso, o artista homenageado desta edição é o quadrinista, ilustrador e professor paulistano Marcelo D’Salete. Suas obras mais aclamadas tratam da história da resistência à escravidão no Brasil pela ótica dos povos negros: “Cumbe” (2014), que lhe rendeu um dos mais importantes prêmios de quadrinhos do mundo – o Eisner de melhor edição americana de material estrangeiro, em 2018 –; e “Angola Janga” (2017), que, no ano de seu lançamento, conquistou o Prêmio Jabuti na categoria Histórias em Quadrinhos.

Zumbi dos Palmares 

“Angola Janga”, seu quadrinho mais recente, é fruto de uma pesquisa de 10 anos sobre Zumbi dos Palmares, Ganga Zumba e o famoso quilombo. Além dos prêmios que conquistou, “Angola Janga” já é considerado pela crítica especializada como um dos mais importantes quadrinhos feitos e publicados no país.

“Multipremiado no Brasil e no exterior, D’Salete sintetiza muito bem o espírito desta edição. ‘Angola Janga’, sua principal obra até agora, é o resultado imperdível de anos de suor e pesquisa. E mais especial ainda é poder homenagear, pela primeira vez, um autor negro de quadrinhos”, celebra Lucas Ed.

O homenageado estará presente no FIQ-BH 2022 com a mesa “Marcelo D’Salete entre faróis, favelas e quilombos”. Uma exposição com trabalhos e destaques de sua carreira também compõe a programação do festival. Na mostra “Malungo D’Salete: entre faróis, favelas e quilombos”, o público terá a oportunidade de mergulhar no trabalho do quadrinista por meio de reproduções de páginas, vídeos, quadros, texturas, pinceladas, símbolos e palavras.

Equidade inédita 

O curador ressalta que o convite feito aos artistas participantes desta edição foi orientado, antes de mais nada, pela qualidade de seus trabalhos. Eliane Parreiras observa, por exemplo, uma equidade inédita entre homens e mulheres na programação. “Temos, de maneira muito orgânica, essa presença feminina, o que é uma novidade, um marco do festival”, afirma.

Segundo Lucas Ed, ter equidade era uma questão importante para a curadoria. “Mas a gente não colocou a representatividade a qualquer custo, acima de tudo, seja no que diz respeito às mulheres, aos negros ou à população LGBTQIA+. Essas pessoas estão presentes porque estão produzindo. Pegamos trabalhos de ponta, independentemente de quem é o autor. O foco foi a qualidade. Foi mais fácil chegar a essa equidade de gênero, por exemplo, porque essas mulheres estão aí, muito evidentes, com trabalhos incontornáveis”, diz.

Ele destaca que as mesas-redondas, debates e bate-papos exemplificam bem o que a 11ª edição do FIQ-BH propõe à luz do tema escolhido. Elemento que passa muitas vezes despercebido nas HQs, o roteiro é o ponto central da mesa “No início era a palavra – criação e roteiro de quadrinhos”, que reúne os convidados Carol Rossetti (BH), Ademar Vieira (AM) e Ing Lee (BH), prevista para esta quarta, às 18h.

Grupo Galpão 

Também no primeiro dia de evento, às 19h30, o Grupo Galpão, que completa 40 anos, brinda o público com a presença dos atores Eduardo Moreira, Inês Peixoto e Teuda Bara, na mesa “Quadrinhos na ribalta – os desafios do diálogo entre quadrinhos com teatro”.

A seção de debates inclui, ainda, encontros para refletir a relação dos quadrinhos com o jornalismo, a crítica especializada, a internet e as redes sociais, entre outros recortes. Os temas se refletem em mesas como “Webcomics e redes sociais: produzindo para a internet nos dias de hoje”, que vai ocorrer na sexta-feira (5/8), às 15h, com Bennê Oliveira (PE), Paulo Moreira (PB), Raphael Salimena (MG) e Helô D’angelo (SP).

No que diz respeito aos lançamentos, um dos destaques é o livro que comemora, com certa antecipação, os 50 anos das tirinhas “A caravela”, de Nilson Azevedo, que estreou sendo publicada no Estado de Minas, em 1975. O livro faz parte de um projeto maior, que reúne em 128 páginas, além de “A caravela”, outras publicações do cartunista, como “Pindorama”, “Situação”, “Milagre dos peixes” e “As invasões portuguesas”. A obra será lançada na sexta-feira (5/8), às 17h.

Convidados internacionais 

Um dos convidados internacionais, Chloé Cruchaudet é natural de Lyon, na França, onde estudou arquitetura e artes gráficas, antes de frequentar a escola de animação Gobelins. Isso fez com que ela desenvolvesse seu gosto pelo desenho in loco, o que trouxe uma abordagem cinematográfica para seu trabalho. 

O outro convidado internacional é o também francês Fabien Toulmé, que tem publicações no Brasil e que são sucesso mundo afora. Ele vai participar do bate-papo “Conversa em quadrinhos: as narrativas intimistas”, no sábado (6/8), às 15h.

Com uma produção inspirada em livros históricos ou autobiografias, Chloé Cruchaudet vai participar da mesa “Quadrinhos e transmídia: animação e outro registros”, na quinta-feira (4/8), às 18h, e recebe o público para o bate-papo “Conversa em quadrinhos: ficção histórica”, no sábado, às 13h30.

Transversalidade 

A 11ª edição do FIQ-BH tem como uma de suas características marcantes reforçar as interseções da arte sequencial com outras linguagens, de acordo com a secretária de Cultura. “Cada edição traz temáticas que abordam questões próprias do momento, da contemporaneidade e que mostram o desenvolvimento dessa linguagem ao longo dos anos. Hoje a gente tem muito visível uma transversalidade de linguagens e de estéticas, com uma influenciando a outra. O transbordamento do quadrinho para o cinema ou o teatro é uma discussão que a gente traz este ano”, aponta.

Com efeito, entre as atividades desta edição, o FIQ-BH apresenta uma mostra de cinema com obras focadas tanto na temática geral do evento quanto na interseção dos quadrinhos com o mundo da animação. Serão seis filmes exibidos no Cine Santa Tereza, gratuitamente, entre eles “Culottées”, de Mai Nguyen e Charlotte Cambon De La Valette; “Wood & Stock”, de Otto Guerra; e “Um homem está morto”, de Olivier Cossu.

Além da exposição que celebra o homenageado do 11º FIQ-BH, as artes visuais também estão representadas com a mostra “Gemini”, história em quadrinhos de Rogi Silva e Clémence Bourdaud, que parte do diálogo entre linguagens, artistas e culturas. Ele, brasileiro; e ela, francesa, transportam a HQ para uma instalação digital e interativa, na qual o público é convidado a fazer uma imersão na história e conhecer uma nova perspectiva de narrativa. “Gemini” está em cartaz na Casa Fiat de Cultura e pode ser vista presencialmente até o próximo dia 14.

FIQ BH 2022

11ª edição do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, desta quarta-feira (3/8) a domingo (7/8), no Minascentro (Rua Guajajaras, 1.022, Centro).Horário: quarta-feira a sexta-feira, das 9h às 21h; sábado e domingo, das 10h às 21h. Programação completa disponível no site



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