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Estado de Minas MÚSICA

Paulo Miklos diz que "afeto e empatia" são "as respostas" que precisamos

Cantor e compositor comenta o novo álbum, "Do amor não vai sobrar ninguém", com o qual envia sua mensagem para "o tempo tão controverso" que o país atravessa


09/07/2022 04:00 - atualizado 09/07/2022 07:50

Vestido de preto, com lua cenográfica atrás e guitarra dependurada no pescoço, Paulo Miklos ergue os braços
Paulo Miklos afirma que se concentrou no mundo ideal enquanto compunha as canções do disco no período claustrofóbico da pandemia (foto: José de Holanda/Divulgação)

É cantando sobre amor que Paulo Miklos apresenta o quarto álbum da carreira, o segundo após anunciar a saída dos Titãs, banda em que tocou por 34 anos. Intitulado “Do amor não vai sobrar ninguém”, o disco flerta com o pop, mas traz a essência do ex-titã, com todas as vivências e referências formando as letras e as músicas.

O álbum, lançado em maio passado, teve excelente recepção dos fãs e da crítica especializada, segundo o próprio artista. O fato já se reflete nos shows que Miklos tem feito pelo Brasil. "Acabo de levar pela primeira vez para o palco o repertório do novo disco e vi gente cantando comigo as músicas novas! Isso é que dá sentido a tudo", afirma.

"’Do amor não vai sobrar ninguém’ é sobre a convivência amorosa, a amizade necessária e liberdade de escolha", explica o músico. Ele afirma que é um álbum para o público, mas com um caráter muito íntimo. "Trato desses temas de maneira confessional, sou eu falando, com sinceridade, através das canções", comenta.



Na entrevista a seguir, Paulo Miklos falou sobre os temas do álbum, as referências, a carreira de ator e, principalmente, sobre o amor que canta a plenos pulmões nesta nova fase.

Com um título forte, você chega ao quarto disco solo da carreira. Acredita que do amor não vai sobrar ninguém?

Não tenho nenhuma dúvida! (risos) Ninguém passa pela vida ileso, imune ao amor. E é pelo afeto e pela empatia que encontramos as respostas para esse nosso tempo tão controverso.

Como esse álbum o atravessou durante o processo e como você acredita que ele vai atravessar o público?

Todas as canções de “Do amor não vai sobrar ninguém” foram compostas durante a claustrofobia do isolamento imposto pela pandemia, por isso mesmo elas são tão desejosas de um mundo ideal, liberto de preconceitos, respeitoso, empático e democrático. Para mim, elas foram libertadoras e assim eu espero que inspirem outras pessoas.

Falar de afeto é algo mais complicado do que parece. Como você encontra o tom verdadeiro para o tema? Como você enxerga o afeto e o amor?

Acredito que seja justamente porque eu parto da minha experiência pessoal. Falo sobre o que eu vivo ou vivi, das pessoas queridas que eu conheci e as que fazem parte da minha vida.

Continuo acreditando que uma canção pode mudar a nossa vida pela sensibilidade. Então, ao mesmo tempo em que deixo fluir nas composições meus sentimentos mais verdadeiros, também trabalho para evoluir como pessoa, como cidadão, homem, esposo, pai e padrasto.

Você é um músico criado no rock, mas que explora as mais diversas formas musicais em torno do gênero. Como você entende a sua musicalidade e o lugar em que você intersecciona o rock e o pop?

Eu faço parte de uma geração que buscou muito pelas novidades do mundo. Nós nos reuníamos para ouvir os discos. Mas também com forte influência da música popular brasileira. Principalmente nas letras. E outra poderosa fonte de informação foi o rádio. Além de toda a música pop internacional e brasileira bem popular.

Com 40 anos de carreira, como você percebe a indústria musical hoje? O que de novo ainda o move?

Tem muita coisa nova interessante e muita música antiga redescoberta pelas gerações mais jovens. As redes sociais e a internet trouxeram a chance de deixar nossa curiosidade voar livremente.

Se você quiser, pode pesquisar por quase tudo nas plataformas digitais. Para um amante de música como eu, que vou da música erudita à música folclórica, é uma farra!

Ainda sobre o tempo de carreira. O amadurecimento é natural, mas a sua carreira continua com o frescor do novo. O que o move?

A paixão pela música e pela atuação. A realização artística. Compor esse punhado de canções e me sentir transformado. Depois, em consequência, tocar a sensibilidade das pessoas e oferecer uma nova trilha sonora para uma nova maneira de enxergar o mundo.

Para além da música, você se aventura na atuação também. Como os seus dois lados artísticos dialogam?

Sinto que são complementares. São como uma linha contínua que se estende do intérprete das canções até o intérprete dos personagens. Hoje, estou muito realizado filmando um longa-metragem e, no momento seguinte, defendendo as canções do novo disco no palco. (PI)

Paulo Miklos, de franja e cigarro na boca, em ambiente escuro, em cena de Jesus Kid
Protagonista do recém-lançado %u201CJesus Kid%u201D, de Aly Muritiba, o ator e cantor se diz confortável dividido entre as duas carreiras (foto: Olhar Distribuição/Divulgação)

Papéis marcantes no cinema

São pouco mais de 20 anos desde que Paulo Miklos, então integrante dos Titãs, atendeu a um chamado do diretor Beto Brant. Ele, que nunca havia feito nada de cinema (tampouco teatro ou TV), e somente aparições nos clipes da banda, viveria o personagem-título de “O invasor”. Na época, Marçal Aquino, autor do romance adaptado por Brant, estranhou a escolha. Miklos era um roqueiro e ponto.

Anísio, o matador de aluguel contratado por dois empresários para assassinar seu terceiro sócio, e que, após o crime, se infiltra no cotidiano da dupla, tornou-se o bem-sucedido batismo de uma carreira que, desde então, prima pela originalidade. 

Filmes dramáticos (“Califórnia”), irônicos (“É proibido fumar”), infantojuvenis (“Carrossel”), Miklos segue em uma diversidade de projetos – mas sua presença é sempre marcante, com um gosto por personagens gauche.

Adaptação




Não é diferente com sua mais recente incursão no cinema, “Jesus Kid” (2021, disponível para aluguel e compra nas plataformas de vídeo sob demanda), de Aly Muritiba, adaptado do livro homônimo de Lourenço Mutarelli. 

O longa acompanha Eugênio (Miklos), o escritor de livros de faroeste cuja obra, 28 volumes, é protagonizada pelo caubói do título. Neurótico, que vive sozinho com seu peixinho de estimação, Gregório de Matos tem habilidade zero no convívio social. 

Em crise financeira, Eugênio aceita entrar numa roubada, um filme para um produtor e um cineasta picaretas. Deve escrever um roteiro sobre um escritor em crise que tenta fazer um roteiro para cinema – é basicamente a história dele e a do filme “Barton Fink”. 

Para tal, deve ficar três meses isolado em um hotel de luxo. “Eu não tenho a mínima ideia do que fazer com essa história”, Eugênio diz a certo momento. Realidade e ficção se misturam na narrativa, sempre atravessada pela ironia e a crítica político-social. (Mariana Peixoto)

 













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