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Estado de Minas CINEMA

Filme gay 'Mais que amigos' tenta sair do armário e atrair heterossexuais

Com forte campanha de marketing, comédia romântica se propõe a extrapolar o nicho LGBTQIA+. Bilheteria da estreia nos EUA foi considerada 'fracasso'


10/10/2022 04:00 - atualizado 09/10/2022 18:20

Com camisa escrita LGBTQ+, ator ergue o braço e sorri, debaixo de arco-iris colorido feito com balões, em cena de mais que amigos
Em "Mais que amigos", Bobby (Billy Eichner) e Aaron (Luke Macfarlane) resistem a um relacionamento sério, mas acabam se apaixonando (foto: Universal/reprodução)

 
Comédias românticas são formativas para muita gente. Declarações, festas de casamento e palavras apaixonadas dos filmes com frequência inspiram casais na vida real. Para quem é LGBTQIA+, no entanto, o acervo de referências é bastante escasso.
 
É por isso que “Mais que amigos, friends”, em cartaz nos cinemas de BH, vem sendo tratado com alarde não só por seu estúdio, mas também pelo público e a mídia. Ganhou até exibição especial no Festival de Toronto, no Canadá, sob o título de primeira grande comédia romântica sobre dois homens.
 
“O rótulo é importante, nós não devemos ficar tímidos em relação a ele. Tivemos muitos filmes do gênero sobre heterossexuais que nos fizeram rir e chorar, é verdade, mas nunca algo assim”, diz Billy Eichner, protagonista, roteirista e produtor do longa.


“Uma coisa que tenho em comum com o meu personagem é o fato de ser escancaradamente gay. Estive fora do armário desde muito cedo na minha carreira, mas levou muito tempo para Hollywood celebrar isso, para achar legal. Agora é a minha oportunidade de mostrar não só quão divertidos, mas também complicados e multidimensionais personagens LGBTQIA podem ser”, completa.
 
Não é exatamente verdade, no entanto, que “Mais que amigos” seja a primeira comédia romântica homossexual de um grande estúdio. Neste ano, a Searchlight Pictures lançou “Fire island: Orgulho e sedução” e, ano retrasado, a TriStar Pictures, da Sony, bancou “Alguém avisa?”, filme de Natal lésbico estrelado por Kristen Stewart.
 
O marketing em torno da ideia de ser o primeiro pegou mal nas redes sociais, às quais Eichner já recorreu para se explicar. “Mais que amigos” não é uma tragédia ou uma produção independente, onde está a vanguarda da diversidade sexual e de gênero – ele diz agora. Sua escala e a atenção que a Universal tem dado ao filme são o que sustentam o ineditismo.
 
“Fire island” e “Alguém avisa?”, é verdade, não receberam o mesmo prestígio em seus lançamentos e foram direto para o streaming. “Mais que amigos”, portanto, tem a missão de provar o apelo de seu romance gay nas difíceis bilheterias pós-COVID.
 
Billy Eichner dá vida a Bobby Lieber, apresentador de podcast que se acha imune à paixão. Ele se divide entre gravar o programa, escrever livros infantis queer e buscar homens com quem transar no Grindr, aplicativo de pegação que testa sua paciência com pedidos constantes por fotos íntimas. Ele eventualmente cede, mas corta o bumbum com a lâmina de barbear enquanto a prepara para o ensaio fotográfico.
 
A vida começa a ganhar propósito maior quando ele é convidado para coordenar o que seria o primeiro museu de história LGBTQIA dos Estados Unidos, em Nova York. Bobby encontra Aaron, rapaz igualmente avesso a compromissos, com quem sente conexão instantânea.
 
O papel é de Luke Macfarlane, fortão que, ao contrário de Eichner, teve mais dificuldade para se conciliar com a homossexualidade, tendo que ouvir de agentes e colegas de profissão que jamais estrelaria um filme de ação se saísse do armário. Ele não se importou, mas ainda espera pelo papel.


Elenco


Se não tivesse se assumido, Macfarlane teria passado longe de “Mais que amigos”. O longa decidiu escalar só atores LGBTQIA – e não apenas para os papéis queer. Aqui, eles dão vida também a personagens heterossexuais, numa espécie de subversão pela qual Eichner fez questão de brigar.

Foi uma decisão carregada de mensagem em meio a discussões infindáveis que surgem aos montes na internet sempre que algum hétero é escolhido para um papel gay, como foi com Michael Cimino na série “Com amor, Victor”, ou com Harry Styles, que não quer se rotular, no filme “My policeman”.
 
Nicholas Stoller, diretor de “Mais que amigos”, curiosamente, foi um dos poucos heterossexuais no set de filmagem. Mas Eichner o queria pela experiência em comédias como “Ressaca de amor” e “Cinco anos de noivado”. O cineasta conta que tomou para si a missão de desenvolver o filme de forma colaborativa, ouvindo histórias pessoais e opiniões daqueles ao redor.
 
“Quando o assunto é humor, você precisa sempre buscar uma novidade. É natural, então, que o gênero hoje vá em direção a novos tipos de personagens. É um movimento natural e que me anima. Ficava intrigado de ser fã de comédias românticas e nunca ter visto um gay na telona”, diz.
O fato de Stoller não ser gay, aliás, ajuda a romper com a ideia de que “Mais que amigos” é uma trama de nicho, que só homossexuais vão querer ver. É verdade que o filme é recheado de referências que só os LGBTQIA entenderão – dos musicais de teatro às divas pop, das boates do sexo, bastante presente. 

Porém, o diretor diz que há piadas para todos e quanto mais específica é uma história, mais universal seus temas principais se tornam.
 
“A ideia de nicho está nos olhos de quem vê. Por que minhas referências enquanto homem gay são nichadas e não as de um homem hétero?”, questiona Billy Eichner. “Para mim, o Super Bowl, então, é nichado. Que o espectador estranhe essas especificidades pode ser algo bom. É uma comédia romântica diferente, mas as emoções são as mesmas.” (Leonardo Sanchez/Folhapress

 
Bilheteria decepcionante nos EUA 

 
“Mais que amigos, friends” até agora é considerado fracasso de bilheteria. A Universal Pictures investiu US$ 22 milhões no longa, que arrecadou menos de US$ 5 milhões nas salas americanas em seu fim de semana de estreia, apesar das críticas positivas.
 
A produção ficou em quarto lugar nos Estados Unidos, atrás do terror “Sorria”, da Paramount, e de outros dois filmes que estrearam em setembro.
 
Exibido em cerca de 3 mil salas, os heterossexuais simplesmente não apareceram, afirmou o protagonista e produtor Billy Eichner, ao explicar o fracasso.
 
“Este é o mundo no qual vivemos, infelizmente. Mesmo com ótimas críticas, os heterossexuais, especialmente em algumas regiões do país, não foram ver 'Bros', tuitou, referindo-se ao título original do filme, em inglês. “É decepcionante, mas é o que é.”
 
O diretor Nicholas Stoller esperava que o filme se destacasse nas bilheterias para mostrar aos estúdios que há “grande público” para esse tipo de história. “Não apenas público LGBTQIA , mas também um público heterossexual.”
 
Eichner revelou que foi a uma exibição em Los Angeles, e a resposta do público foi “totalmente mágica”. Porém, revelou problemas, como a cadeia de cinemas que ameaçou não exibir o filme “pelo conteúdo gay”. (AFP


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