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Estado de Minas CINEMA

"O acontecimento", drama sobre tentativa de aborto ilegal estreia em BH

Longa francês é ambientado na década de 1960, quando a prática era proibida no país, e se baseia na história real de professora de literatura


07/07/2022 04:00 - atualizado 06/07/2022 19:18

Atriz Anamaria Vartolomei de biquíni, sentada na areia da praia, com semblante sério, ao lado de dois rapazes com semblante sério
A atriz Anamaria Vartolomei, que interpreta a protagonista, foi premiada com o César de revelação (foto: ZETA FILMES/DIVULGAÇÃO)
O caso da juíza que negou aborto a uma menina de 11 anos em Santa Catarina, mais a decisão recente da Suprema Corte dos Estados Unidos, que suspendeu as proteções constitucionais para a interrupção da gravidez, fazem com que o filme “O acontecimento” ecoe ainda mais. Mesmo que o drama dirigido por Audrey Diwan seja ambientado seis décadas atrás.

Vencedor do Leão de Ouro de Melhor Filme no Festival de Veneza de 2021, com estreia nesta quinta-feira (7/7) no UNA Cine Belas Artes, em Belo Horizonte, o longa é uma adaptação do romance autobiográfico lançado em 2000 pela escritora e professora de letras francesa Annie Ernaux. 

A França legalizou o aborto em 1975. Em 1963, período de “O acontecimento”, mulheres que abortavam, assim como aqueles que as ajudavam a interromper a gravidez, poderiam ser presos. 



Annie (Anamaria Vartolomei, que levou o César de atriz revelação pelo papel) é uma brilhante aluna de literatura em Angoulême, no Sudoeste da França. Estuda o que “todas as mulheres estudam”, é o que comenta com um jovem em uma festa. Mas, ao contrário das amigas Hélène (Luàna Bajrami) e Brigitte (Louise Orry-Diquéro), ela tem pretensões. Planeja se tornar professora de literatura.

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Mesmo que todas sejam maiores de idade – as jovens estão na casa dos 20 anos – elas sabem que sua liberdade é restrita. O desejo é algo que pertence aos homens – e aquelas que fogem às regras entram para o grupo das vadias. Annie tem suas próprias convicções, e vive à sua maneira, um tanto entediada com o grupo que a cerca, mas ainda dentro do padrão.

A descoberta de uma gravidez inesperada, após um encontro com um estudante de Bordeaux, vira seu mundo de cabeça para baixo. Não lhe preocupa o que os outros pensam, pois é o seu futuro que está em jogo. Um filho a tiraria da universidade e a colocaria no mesmo caminho dos pais, trabalhadores que nunca tiveram a chance de estudar.

“Eu gostaria de ter um filho um dia, mas não em vez de uma vida”, é o que ela diz a certo momento. Sozinha, sem revelar nada para ninguém, Annie começa seu périplo. Vai primeiro no lugar mais óbvio, um ginecologista, que, mesmo se sensibilizando com o drama da jovem, chama a atenção para as consequências do que uma interrupção poderia trazer para ela, tanto legal quanto fisicamente. Outro médico é procurado, e este engana Annie sobre o uso de um medicamento.

As semanas passam. O rendimento cai nas aulas, a relação com os amigos também. As duas amigas próximas lhe viram as costas, quando Annie, sob muita pressão, assume a gravidez. Um amigo insinua que os dois podem fazer alguma coisa, já que, como ela está grávida, não haverá consequências. Sem ter mais a quem recorrer, Annie vai até o jovem com quem se relacionou para descobrir que nenhuma ajuda tampouco virá dele.

Toda a narrativa é filmada muito próxima da protagonista (o formato da tela é quadrado, o chamado 4:3, ou formato clássico), cuja performance vai crescendo na mesma proporção que o drama da personagem. Não há gritos ou brigas, somente uma tensão que é expressa no olhar de Anamaria Vartolomei a cada nova (e péssima) notícia que recebe.

A câmera é sutil, mas não poupa o espectador. O corpo de Annie se recusa a seguir os comandos externos (remédios, agulhas) e as cenas das infrutíferas tentativas abortivas da personagem provocam angústia. Mesmo nos momentos mais fortes, as sequências são retratadas de forma sensível, nunca gratuitas. 

Não havia escolhas fáceis para a personagem, é o que o filme deixa claro. Como não há hoje. Mesmo como retrato de outra época, “O acontecimento” deve ser visto também sob a lente da atualidade, ainda mais quando um cenário do retrocesso para os direitos das mulheres está sendo desenhado.

“O ACONTECIMENTO”
(França, 2021, 100min., de Audrey Diwan, com Anamaria Vartolomei, Luana Bajrami, Louise Orry-Diquero) – Estreia no UNA  Belas Artes, às 14h e 18h40.



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