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Estado de Minas CINEMA

"O homem do Norte" é filme de ação com trama shakespeariana

História ambientada na Islândia do século 10 conta com elenco estelar dirigido por Robert Eggers. Longa estreia nesta quinta-feira (12/5) nos cinemas


12/05/2022 04:00 - atualizado 11/05/2022 20:12

Alexander Skarsgård com o torso nu e ensanguentado, carregando machados nas mãos, em cena de batalha de 'o homem do norte'
Alexander Skarsgård é o príncipe Amleth, que procura furiosamente vingar a morte do pai (foto: Universal Pictures/Divulgação)

Ninguém está a salvo em “O homem do Norte”, novo épico dirigido pelo aclamado diretor norte-americano Robert Eggers (“A bruxa”, “O farol”), que estreia nesta quinta-feira (12/5) nos cinemas.

Recheado de grandes nomes, como Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Claes Bang, Anya Taylor-Joy, Ethan Hawke, Björk e Willem Dafoe, e baseado em uma pouco conhecida lenda nórdica, o filme mostra uma Escandinávia crua, ríspida e suja, e explora os limites do ser humano e suas semelhanças com o animal.

Quando digo que “ninguém está a salvo”, não estou me referindo à morte do corpo físico. O filme é cheio de chacinas e assassinatos, ao longo de seus 137 minutos de duração, mas o que está em discussão é a prisão da condição humana ao seu destino (e ao ciclo vicioso e eterno da vingança). 

“O mal gera o mal”, diz Fjölnir, o Sem-irmão, personagem de Claes Bang e “vilão” do filme. As aspas em “vilão” se devem justamente ao argumento principal: no mundo real, não há mocinhos e facínoras, cavalheiros e brutos, heróis e vilões – todos são capazes das maiores atrocidades para atingir seus objetivos.



A lenda escandinava de Amleth serviu de inspiração para o diretor desenvolver o roteiro a quatro mãos com o islandês Sjón. A similaridade shakespeariana no nome do protagonista não é coincidência – a lenda também foi a principal inspiração para o Bardo de Avon escrever “Hamlet”, sua obra-prima. 

VINGANÇA 

Para quem está familiarizado com a peça, a trama do filme vai soar extremamente familiar: um grande rei é assassinado por seu irmão, que assume o trono, e agora o príncipe prometido deve vingar seu pai e tomar o que é seu por direito. Segue-se mais ou menos essa ideia.

A grande novidade está no novo “ser ou não ser” de Eggers: as diferenças (na verdade, principalmente as semelhanças) entre homem e animal. Alexander Skarsgård, que interpreta o protagonista Amleth, vira besta em diversas cenas do filme. Seu personagem, não à toa, chamado de “Urso-lobo”, tem uma ferocidade selvagem do primeiro close em seus olhos ao épico confronto final à beira de um vulcão (qualquer semelhança com Simba e Scar é mera coincidência).

Todos os outros personagens também têm seu momento animalesco. Nicole Kidman interpreta a rainha Gudrún, mãe de Amleth; Claes Bang é o usurpador Fjölnir; Ethan Hawke vive o Rei-corvo Aurvandill, e até as participações especiais de Björk e Willem Dafoe, como a Vidente e o bobo Heimir, respectivamente, são incivilizadas, perturbadoras e difíceis de digerir. 

A exceção é Anya Taylor-Joy como a escrava eslava Olga, interesse amoroso do protagonista. A personagem representa o resquício de esperança que resta na humanidade para uma chance de recomeço.

À primeira vista, “O homem do Norte” pode parecer um “John Wick” viking. No entanto, não é. A violência aqui é algo feio, que leva o ser humano à tormenta e ao sofrimento. Valhalla está na imaginação; no mundo real há apenas vingança e matança sem sentido.

FARDO 

É claro que o longa surfa na onda de popularidade que a iconografia nórdica tem adquirido em anos recentes. Os deuses Odin, Freyr e as valquírias; as estátuas e rituais com sacrifícios; e a brutalidade irrefreável com as quais associamos o povo escandinavo dos séculos 9 e 10  fazem parte integral do filme. 

Mas quem for ao cinema esperando assistir a algo parecido com a série “Vikings” sairá desapontado. Em “O homem do Norte” não há glória em ser viking. Há um terrível e sanguinário fardo, que não é nada bonito de se ver.

Eggers captura muito bem a atmosfera medieval sobre a qual lemos em livros de história e vemos em documentários. O caráter soturno que também imprimiu em seus dois longas anteriores, aliado às chocantes cenas de chacina, constroem a imagem de uma Europa imunda e doentia. Não vivi na Islândia do final do primeiro milênio, mas acredito que possa ter sido parecida com a ambientação do filme, que contrasta com os lindos visuais das paisagens islandesas.

Eggers atualiza Shakespeare de um jeito muito particular, e isso fica claro nas primeiras linhas de diálogo e na atuação do elenco. O longa é teatral e coreografado até mesmo nas cenas de ação. Os temas que o diretor escolhe abordar são tão profundos e atemporais quanto os da peça original. Estamos tratando de um épico, em todos os sentidos: no mote, na direção, no roteiro e na execução. Cheio, claro, de som e fúria.

“O HOMEM DO NORTE”
("The Northman", EUA, 2022). De Robert Eggers. Com Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Claes Bang, Anya Taylor-Joy, Ethan Hawke, Björk, Willem Dafoe. Cassificação: 18 anos. Em cartaz a partir desta quinta-feira (12/5) em salas das redes Cineart, Cinemark, Cinépolis e Cinesercla

* Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes 




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