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Estado de Minas MÚSICA

O Coral das Lavadeiras de Almenara traz seu canto a Belo Horizonte

Grupo artístico formado por lavadeiras-cantoras do Vale do Jequitinhonha se apresenta nesta sexta-feira (13/5), no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas


12/05/2022 04:00 - atualizado 11/05/2022 20:09

Vestindo camiseta amarela e saia multicolorida de retalhos, oito integrantes do Coral das Lavadeiras posam de pé para foto ao lado de um rio
Oito das 10 integrantes do coral viajam para a turnê, que inclui Piedade do Paraopeba e Teófilo Otoni. Duas cantoras, com mais de 80 anos, permaneceram em Almenara (foto: Luã Raoni/Divulgação)

O Coral das Lavadeiras de Almenara apresenta o recital “Cantando a vida”,  nesta sexta-feira (13/5), em Belo Horizonte, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas. Com 31 anos de existência, o grupo celebra seu retorno aos palcos após o hiato provocado pela pandemia, com turnê que inclui as cidades de Piedade do Paraopeba (distrito de Brumadinho) e Teófilo Otoni, além da capital mineira e de Almenara.

Fundado por iniciativa do cantor e pesquisador cultural Carlos Farias, o grupo tem por objetivo divulgar e gravar canções tradicionais da região Norte mineira e revelar as misturas e influências étnicas – africanas, indígenas e galaico-portuguesas – que compõem a música popular brasileira. 

Coordenador do coral, Carlos Farias aponta a região do Vale do Jequitinhonha como um caldeirão borbulhante de cultura, onde diversos grupos produzem música e arte.

“Fui para Almenara em meados dos anos 80, como psicólogo de um projeto social. Em setembro de 1990, o prefeito da época construiu uma lavanderia comunitária, e eu fui convidado para a inauguração”, conta. “Foi uma festa! Eram umas 50 mulheres cantando, com o que o prefeito me fez o desafio de preparar um coral para cantar no aniversário da cidade, em janeiro do ano seguinte”, relembra.

"Eu gosto muito de lavar roupa, que é um trabalho que minha mãe me ensinou e eu canso de falar, eu gosto demais da lavada de roupa. Mas vai chegando nosso tempo e a gente precisa ir cuidando da saúde. As oportunidades da gente vai já pro lado mais da música. Também é um trabalho que eu adoro muito. Fui pra lá lavar roupa e eu não pensava assim que a gente podia ter essas oportunidade que a gente temos hoje"

Dona Teresa Fernandes de Sousa Novais, integrante do Coral das Lavadeiras


VOZES

O grupo se firmou em 10 mulheres lavadeiras-cantoras e se manteve praticamente o mesmo ao longo das décadas. Quatro integrantes que faleceram – Juracy Lima da Silva, Adélia Barbosa da Silva, ambas no coral desde a fundação, e Sebastiana Dias Silva e Valdenice Ferreira Santos – acabaram sendo substituídas por filhas e netas, mantendo o número original de vozes em 10.

Com o passar dos anos, o grupo foi se popularizando na região e conseguindo angariar recursos para gravar os CDs “Batukim brasileiro – O canto das lavadeiras” (2002), “AQUA – a música das lavadeiras do Jequitinhonha” (2005), “Devoção” (2014), “Riozinho” (2019), bem como a coletânea “Palma do rio”, em 2017. 

“‘Riozinho’ é no sentido carinhoso. O Amazonas – maior rio do mundo – para nós é um riozinho; o Rio Arrudas, em Belo Horizonte, é um riozinho; e qualquer veio d’água merece ser tratado com carinho”, explica Carlos sobre o cuidado com a biodiversidade que o coral prega.

Além da gravação dos discos e das dezenas de espetáculos que realizam no Brasil, as lavadeiras-cantoras também fizeram apresentações fora do país, no Festival de Arte e Criatividade da Ilha da Madeira 2002, em Portugal, e na Expô Zaragoza 2008, na Espanha, e receberam prêmios como a Medalha da Ordem do Mérito Cultural 2010 e o Prêmio Culturas Populares 2012, ambos concedidos pelo Ministério da Cultura.

Dona Teresa Fernandes de Sousa Novais, uma das integrantes do coral, comenta sobre a experiência de se apresentar fora do país: “A gente pede a Deus que, um dia, quem sabe, a gente não volta de novo (a viajar)”, diz. “Esse trabalho para mim é um sonho que a gente realizou. Quando a gente era pequenininha e estava no rio lavando roupa mais a mãe da gente, aí o avião subia assim e a gente falava ‘ê, vião, me leva que eu tô limpa’.”

Em 2019, o grupo fez suas últimas apresentações antes da paralisação forçada pela pandemia. O terceiro ano do projeto Roda de Conversa e Cantoria com as Lavadeiras, realizado com recursos do Fundo Estadual de Cultura, levou o coral a escolas de sete municípios diferentes, onde as cantoras compartilharam histórias pessoais de luta e superação.

“‘Cantando a vida’ é exatamente para celebrar a sobrevivência pós-pandemia. Depois de dois anos de silêncio, sem poder cantar presencialmente, somos sobreviventes graças às vacinas, que se mostraram muito eficazes. Somos a favor da vacinação e da vida, mesmo vivendo em uma sociedade que cultua a morte e a violência – não só no Brasil, mas no mundo”, defende Carlos.

Além de Dona Teresa, integram o coral as lavadeiras-cantoras Ana Isabel da Conceição, Emília Maria de Jesus, Alice Veríssimo, Isabel Veríssimo, Mariana Gonçalves, Mayra de Oliveira, Mirian Fernandes Pessoa, Santa de Lourdes Pereira e Simone Veríssimo. Dona Emília e dona Santa de Lourdes não viajarão com o grupo porque têm mais de 80 anos e ficaram em sua cidade para evitar o desgaste da viagem de mais de 700 quilômetros e cuidar de sua saúde, segundo informa o coordenador.

"Eu era uma menina muito tímida quando mais nova. Quando comecei a participar de apresentações na minha cidade e fazer aulas de música, comecei a me desenvolver. Aprendi muito com as mulheres do coral e com sua experiência. Elas sempre me deram muita força e me apoiaram a continuar cantando"

Mariana Gonçalves,  integrante do Coral das Lavadeiras 


AVÓS

Mariana Gonçalves, neta de dona Ana Isabel, tem 25 anos e é uma das mais novas integrantes do coral. Ela estreou aos 15 anos, na gravação de “Devoção”. “Eu era uma menina muito tímida quando mais nova. Quando comecei a participar de apresentações na minha cidade e fazer aulas de música, comecei a me desenvolver. Aprendi muito com as mulheres do coral e com sua experiência. Elas sempre me deram muita força e me apoiaram a continuar cantando”, diz Mariana. A menina se diz orgulhosa e honrada de ser parte do coral junto com sua família.

Dona Teresa Fernandes, uma das avós de coração de Mariana, tem 66 anos e está no coral desde que foi fundado, em 1991. Natural de Almenara, a lavadeira conta sobre sua vida e seu amor por seu ofício, ensinado por sua mãe. Sua relação com a música se deve ao coral, já que, como diz, “quando era pequena, só tinha tempo para trabalhar e rezar”.

“Eu gosto muito de lavar roupa, que é um trabalho que minha mãe me ensinou e eu canso de falar, eu gosto demais da lavada de roupa”, conta dona Teresa. “Mas vai chegando nosso tempo e a gente precisa ir cuidando da saúde. As oportunidades da gente vai já pro lado mais da música. Também é um trabalho que eu adoro muito. Fui pra lá lavar roupa e eu não pensava assim que a gente podia ter essas oportunidades que a gente temos hoje.”

Ambas citam “O canto das lavadeiras” como sua canção favorita do coral. “Não sei se é porque as lavadeiras cantam com tanto amor e vivência, mas quando eu canto essa música fico toda arrepiada e me lembro de todas as outras ‘vózinhas’ que já estiveram conosco e que, para mim, são todas minhas avós”, comenta Mariana.

E dona Teresa entoa, com força e emoção na voz: “Mas cadê meu lenço branco... ô lavadeira/Que eu lhe dei para lavar... ô lavadeira/Madrugada madrugou... ô lavadeira/E o sereno serenou... ô lavadeira/Não tenho culpa do que se passou/Deu uma chuva muito forte/E o lenço carregou”.

"Cantando a vida (o nome do espetáculo) é exatamente para celebrar a sobrevivência pós-pandemia. Depois de dois anos de silêncio, sem poder cantar presencialmente, somos sobreviventes graças às vacinas, que se mostraram muito eficazes. Somos a favor da vacinação e da vida, mesmo vivendo em uma sociedade que cultua a morte e a violência, não só no Brasil, mas no mundo"

Carlos Farias, coordenador do Coral das Lavadeiras



“CANTANDO A VIDA” 
Recital com Carlos Farias e Coral das Lavadeiras. Nesta sexta-feira (13/5), às 21h, no teatro do Centro Cultural Unimed BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos a R$ 30 e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria do teatro e no site CARLOS FARIAS E CORAL DAS LAVADEIRAS - Ingressos - EVENTIM. Classificação: livre

* Estagiário sob supervisão da editora Silvana Arantes


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