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Estado de Minas MÚSICA

Sof Cell quer animar as pistas com músicas questionadoras

Duo britânico lança nesta sexta (6/5) o álbum ''Happiness not included'', que traz faixas sobre questões levantadas pela crise sanitária


05/05/2022 04:00 - atualizado 04/05/2022 20:23

Usando calça, camisa e óculos pretos, Marc Almond e Dave Ball, do Soft Cell, e Neil Tennant e Chris Lowe, do Pet Shop Boyz, de pé, lado a lado, olham para a câmera, com janela ao fundo
As duplas britânicas Soft Cell e Pet Shop Boys assinam em conjunto uma faixa do novo disco dos primeiros (foto: David Lopez-Edwards/Divulgação)

Em 1965, a cantora americana Gloria Jones gravou uma canção inédita do produtor e compositor Ed Cobb. A música, com forte influência da Motown, falava de um amor despedaçado. Lançada como lado B de um compacto da cantora, foi um fracasso comercial, varrida para debaixo do tapete, até que, na década seguinte, o DJ britânico Richard Searling descobriu a gravação e a levou para as pistas. 

Desta vez, funcionou. Mais alguns anos se passaram, até que dois jovens ingleses transformassem a canção soul em uma poderosa música eletrônica – guitarra, baixo e bateria foram substituídos por sintetizadores. Em poucas linhas, essa é a história de “Tainted love”. Tenha a idade que for, você já dançou em alguma pista a música que o duo Soft Cell lançou em 1981 e que, passados 40 anos e gravações de outrem a perderem de vista, continua imbatível.

É a velha história da criatura ficando maior do que o criador. Ainda que o vocalista Marc Almond e o instrumentista Dave Ball tenham feito outras coisas desde então, esta primeira canção permanece como sua principal marca. Em quatro décadas – e algumas idas e vindas – eles lançaram outros álbuns como dupla e também trabalharam em suas carreiras solo.

Vinte anos depois de “Cruelty without beauty”, seu até então mais recente álbum de estúdio, eles voltam com “Happiness not included” (BMG). Com lançamento nesta sexta (6/5), o disco reúne 12 faixas do mais puro synth-pop. É capitaneado pelo single “Purple zone”, que uniu os dois a outra dupla clássica do dance oitentista, Neil Tennant e Chris Lowe, dos Pet Shop Boys.

É uma música festiva, mas com um sabor amargo. Outro single do disco é “Heart like Chernobyl”, que Ball compôs no período em que passou seis semanas em lockdown. Produzido na pandemia, reflete tanto a crise sanitária quanto o mundo dividido da atualidade. Almond, por sinal, foi contaminado pela COVID-19 ainda na fase inicial da pandemia. Passados dois anos da doença, ele ainda sofre com fadiga, dores de cabeça e falta de ar. 

Mesmo com os reveses, o Soft Cell voltou para a pista. Uma curta temporada de shows no final de 2021 deu ânimo para que os dois colocassem os pés na estrada. “Tivemos as melhores críticas da nossa carreira”, comenta Almond, que, no entanto, não se ilude. “A vida não nos deve nada, não há garantias”, afirma, na entrevista a seguir.

Fazer um álbum de música eletrônica à moda antiga no século 21 é um desafio maior, já que hoje as máquinas estão mais poderosas do que nunca? 

Na verdade, Dave e eu nunca voltamos para o estúdio juntos. Dave me manda ideias e músicas, eu escrevo as letras e gravo os vocais e mando de volta. Sempre trabalhamos assim. Dave e eu nos aproximamos criativamente ao longo dos anos escrevendo ótimas músicas, e nem sempre para o Soft Cell.

Continuo voltando a esses dois mundos, pré-COVID e pós. Eu não trabalhava há dois anos, como a maioria das pessoas, e o Soft Cell me ofereceu uma oportunidade melhor do que minha carreira solo.

“Purple zone” é tanto uma faixa do Soft Cell quanto do Pet Shop Boys – ambas as assinaturas estão lá. Como foi esse encontro?

No final do ano passado, eles foram ver o show no Hammersmith (em Londres, quando apresentaram uma prévia do novo álbum) e adoraram a faixa ‘Purple zone’. Pensei que eles fariam um remix. No início deste ano, eu estava na Tailândia, de férias, e a faixa pronta foi enviada para mim. Fiquei absolutamente impressionado. Os vocais de Neil (Tennant) são ótimos e o arranjo, perfeito.

Eles trouxeram algo realmente especial para a pista e levaram a música para um novo lugar. Estou maravilhado com eles, são muito genuínos e profissionais. ‘Purple zone’ é uma música do lockdown. Um lugar chamado Zona Roxa é uma terra de sentidos de ninguém, desconectada do passado e, portanto, com medo do futuro.

É tanto sobre o medo incutido em nós pela mídia, sobre o controle, sobre o consumismo – são inúmeras as referências às zonas roxas, seja na religião, na política e, claro, nas áreas de quarentena na China.

Como você vê as coisas funcionando na era de streaming? 

Não tenho ideia de como o 'negócio da música moderna' funciona. Faço o mesmo de sempre, assino um contrato e entro em estúdio para fazer o melhor álbum que posso. Entendo o retorno ao vinil – um disco de vinil é uma coisa física tão adorável, para segurar, estudar, cheirar... O que é streaming?

Não há qualidade nisso, nada de experiência. Não tem valor. E, em última análise, desvaloriza o trabalho de um artista porque o ouvinte não precisa investir nele.

A partir do título “Happiness not included” (“A felicidade não está incluída”),  pergunto: o que o deixa feliz nos dias atuais?

Ninguém disse que a felicidade estava incluída nesta vida. Acho que a necessidade de nós, como indivíduos, encontrarmos algum sentido para nossa vida é o maior desafio. Para mim, e isso é só para mim, trata-se de aceitação dessa coisa chamada vida, esse breve fogo de artifício que deve ser apreciado por ser apenas isso – um momento para se alegrar.

Espero que o álbum mostre isso. E minhas esperanças: luz do sol, paz de espírito, bondade, sentar nas ramblas (calçada de pedestres) e ver o mundo passar, libertar do consumismo implacável que mente para nós, respeitar toda a vida, proteger todas as criaturas.

“HAPPINESS NOT INCLUDED”
• Soft Cell
• BMG, 12 faixas 
• Lançamento nesta sexta (6/5), nas plataformas digitais


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