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Estado de Minas TELEVISÃO

Trajetória do maior delator da ditadura é tema de série da HBO

'Em busca de Anselmo' tenta desvendar quando e por que o cabo da Marinha abandonou ideais da esquerda e se tornou um agente infiltrado na guerrilha


25/04/2022 04:00 - atualizado 24/04/2022 19:18

Cabo Anselmo veste camisa azul, sentado em local com parede de fundo neutro
Produção exibida pela HBO teve filmagens concluídas em 2018 e contou com dezenas de depoimentos do protagonista, morto no mês passado, aos 81 anos (foto: HBO/Divulgação)

Apontado como agente duplo durante a ditadura militar, José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, entrou para a história como o maior traidor da esquerda brasileira. Membro de organizações clandestinas na década de 1960, o ex-marinheiro atuou infiltrado pela polícia política e é apontado como responsável direto pela prisão de inúmeros militantes, que foram torturados, e por mortes, inclusive a de sua companheira.

Morto em 15 de março passado, aos 81 anos, em decorrência de um mal súbito, ele é tema da série documental "Em busca de Anselmo", lançada pela HBO no último dia 12. Em cinco episódios de 60 minutos cada um – dois já estão disponíveis na HBO Max –, a produção, que vai ao ar semanalmente às terças, às 20h, tenta desvendar o enigma por trás do homem que entregou seus companheiros de luta armada, ao fechar um acordo com o delegado Sérgio Fleury (1933-1979), do Departamento de Ordem Política e Social, o Dops, de São Paulo.

Para isso, o diretor e roteirista Carlos Alberto Jr., idealizador do projeto, entrevistou Anselmo dezenas de vezes, além de ter ouvido mais de 50 pessoas que conviveram com o ex-marinheiro, desde a infância até sua morte. A produção estava pronta desde 2018, mas ganhou novo significado com o falecimento de seu protagonista. 

CUBA 

A série começa com a chegada de Anselmo ao Rio de Janeiro, ainda adolescente, ávido por frequentar programas radiofônicos de auditório. Ele já era marinheiro quando fugiu do Brasil para treinar guerrilha em Cuba. Após retornar ao país com a intenção de lutar contra o regime militar, Anselmo foi preso e passou a colaborar com os agentes da ditadura, atuando como espião infiltrado nos grupos de esquerda.

Um dos principais mistérios que a série tenta desvendar é quando ele de fato começou a trabalhar para a polícia política. Nas entrevistas, Anselmo e os policiais do Dops dizem que isso só ocorreu em 1971. Integrantes da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais com quem ele conviveu antes do golpe militar corroboram essa teoria.

Toda a narrativa ganha ainda mais profundidade com a volta de cabo Anselmo para alguns dos lugares que marcaram sua conturbada história. Em uma das cenas, ele retorna ao Palácio do Aço, a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, para reler o discurso que fez no local em 25 de março de 1964, para uma assembleia de mais de 2 mil marinheiros e fuzileiros, que se rebelaram contra a prisão de seus líderes.

Um dos pontos altos é a volta de Anselmo ao antigo prédio do Dops de São Paulo, hoje transformado no Memorial da Resistência. Ali ele conta como fechou o acordo com o delegado Fleury para mudar de lado e se transformar no doutor Kimble, o informante que ajudou a dissolver o grupo de resistência armada à ditadura Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

A série centra foco especial na história dos seis militantes da VPR mortos no massacre da Chácara São Bento, em Pernambuco, em 1973. O episódio marcou o fim da atuação de Anselmo como espião. Entre os militantes assassinados na armadilha montada por Fleury com a ajuda do ex-marinheiro estava a militante comunista Soledad Viedma (1945-1973), então companheira de Anselmo, que estava grávida.

INDENIZAÇÃO 

Em maio de 2012, a Comissão de Anistia negou um pedido de indenização feito por ele. O ex-marinheiro pediu reparação de R$ 100 mil por ter sido supostamente preso e perseguido pela ditadura. Relator do processo, o político mineiro Nilmário Miranda levantou a tese de que Cabo Anselmo era um agente infiltrado nos grupos militantes de esquerda. Ele votou pelo indeferimento do pedido de indenização e de anistia política.

Na época, Cabo Anselmo alegou ter sido perseguido por atuar contra o regime nos anos 1960. Após sua prisão, em 1971, ele passou a colaborar com os militares. Ele alegava que colaborou para não ser morto. Durante o julgamento, o advogado sustentou que ele foi perseguido pelos militares e falou apenas sob ameaça.

Após o episódio, que ficou conhecido como a maior traição sofrida pela esquerda, cabo Anselmo recebeu uma identidade falsa e viveu clandestinamente por quase 50 anos.

“EM BUSCA DE ANSELMO”
. Série em cinco episódios. Dois deles já estão disponíveis e os outros três serão lançados semanalmente, às terças, na HBO Max. Os episódios também são exibidos às terças, às 20h, na HBO.








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