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Estado de Minas LANÇAMENTO

Com 'Urucum', Karol Conká dá sua 'resposta' musical ao tombo do 'BBB'

A rapper curitibana abraça as 'diversas camadas' de sua personalidade e trava um diálogo entre elas nas faixas do disco, disponível nas plataformas digitais


01/04/2022 04:00 - atualizado 01/04/2022 07:55
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envolta em tecido vermelho transparente, com adereço de esferas na cabeça e sutiã com armação de ferro, Karol Conká ergue os braços e olha para a câmera
Karol Conká observa que o urucum tem propriedades 'antioxidantes e elimina fungos' e diz que isso 'tem tudo a ver com o álbum e com o que ele representa' para ela (foto: Jonathan Wolpert/Divulgação)

Antes de entrar no "Big brother Brasil", no ano passado, Karol Conká arquitetava seu quarto álbum de estúdio. A produção foi interrompida enquanto a rapper curitibana esteve confinada no reality show da TV Globo e mudou completamente de rumo depois que a rapper deixou o programa, numa eliminação histórica, em que recebeu 99,17% dos votos. 

Diante da rejeição popular, Karol Conká paralisou o projeto para se reequilibrar emocionalmente. Mas em seguida compreendeu que o processo de preparação do disco poderia ser terapêutico em si. O resultado disso está em "Urucum", lançado nas plataformas digitais na noite da última quinta-feira (31/3).

"Tudo foi feito numa época turbulenta. Eu estava no processo de terapia e de autoconhecimento. Conforme eu ia compondo, me despia de dores, remorsos e culpas. Me sentia aliviada e curada", ela conta e caracteriza a produção como "intuitiva", "orgânica" e "bastante íntima".

No estúdio particular que tem em casa, em São Paulo, a artista recebeu o produtor musical RDD (nome artístico do baiano Rafa Dias, do grupo ÀTTØØXXÁ) para escrever as canções que refletem a vida depois do tombo e narram o caminho percorrido até que Karol conseguisse se levantar.

"Coloquei nessas músicas o que o meu coração falava. Muitas pessoas me perguntavam se eu viria com um rap 'pesadão', mas eu não sabia como seria a cara desse álbum. Nós produzimos sem planejamento, nome, tema, ritmo. Só fomos musicalizando de uma forma muito natural e improvisada. Nesse processo, eu pensava o quão natural é termos uma personalidade com várias camadas, então decidi que deixaria que elas transparecessem nas músicas", afirma.

FACETAS 

Cada uma das faixas revela uma faceta diferente da artista, de 36 anos. Segundo ela, "Calma" é uma música em que a Karoline dos Santos de Oliveira (seu nome de batismo) canta para a 'Jaque Patombá' (apelido atribuído à rapper pelos espectadores do “BBB”, em referência à sua atitude colérica no confinamento). A 'Jaque' canta para o "cancelamento" em "Cê não pode", enquanto a 'Mamacita' aparece em "Se sai".

Além dessas três, o álbum conta com outras cinco músicas inéditas: "Fuzuê", "Por inteira", "Slow", "Sossego" e "Vejo o bem". Ao todo, são 11 faixas, porque também fazem parte do trabalho os singles "Mal nenhum", "Subida" e "Louca & sagaz" (esta última feita em colaboração com o produtor WC no Beat), lançados em diferentes momentos ao longo de 2021.

Com o álbum em mãos, faltava a Karol Conká um título. "Esse trabalho me trouxe muita cura. Durante a produção, eu me senti cicatrizada, aliviada. É como se eu deixasse as coisas pesadas para trás. Comentei com alguns amigos que era como tomar um sol e pensei no hábito que algumas pessoas têm de passar urucum na pele. Foi aí que eu pensei: É esse o nome, urucum", ela narra.

A cantora também associa o título do trabalho às propriedades medicinais da planta. "Ela é antioxidante e elimina fungos. Acho que isso tem tudo a ver com o álbum e com o que ele representa para mim. É um verdadeiro presente esse nome."

CONTEXTO 

"Dilúvio", música que Karol lançou em maio de 2021, fruto da parceria com o DJ e produtor musical carioca Leo Justi, cantada por ela na final do "BBB 21", ficou de fora do álbum, assim como "Paradawn", lançada em 17 de março último. A cantora explica que ambas não conversam com o disco e foram feitas em outro contexto.

"Esse álbum é uma resposta ao que aconteceu no ano passado. Não teria como lançar um álbum falando de outras coisas. Eu sempre cantei a minha realidade. E esse álbum traz exatamente isso. São percepções, observações e sentimentos meus em relação ao que eu passei. É sobre o que eu vivi, mas também é sobre o que eu quero viver", ela pontua.

Pouco mais de um ano após sua passagem pelo "BBB", Karol Conká fala com tranquilidade sobre o assunto e assume que hoje consegue rir de algumas falas que viraram meme nas redes sociais, como "qualquer coisa me bota no paredão" – que inspirou o rap da música "Paredawn" – e "minha língua é igual um chicote", proferidas em momentos em que ela se colocou em rota de colisão com os outros participantes do programa.

Confira "Paredawn":

A artista curitibana despertou a ira do público do reality depois que protagonizou brigas com Lucas Penteado, Arcrebiano e Carla Diaz. Algumas delas chegaram a ser apontadas como abuso psicológico. Linchada nas redes sociais, a cantora teve sua imagem prejudicada a ponto de perder contratos de shows.

"Ainda sofro os reflexos do que aconteceu porque, querendo ou não, é uma mancha que ficou no meu nome. Eu vejo que algumas pessoas ainda têm medo de se associar a mim. Entendo esse processo e tenho paciência para esperar as coisas se assentarem. Neste momento, eu estou focada no que eu tenho, e não naquilo que eu perdi", ela afirma.

Olhando em retrospecto, ela leva com bom humor algumas situações e revela que usa figurinhas de si mesma no WhatsApp. "Eu sempre fui muito cômica. A minha mãe também é, então é algo que está em mim, mas eu não gostava", conta.

CANCELAMENTO 

Para Karol, suas falas dentro do "BBB" viraram meme porque as pessoas se identificaram. "São expressões genuínas e que, na verdade, são coisas que as pessoas falariam, mas não têm a coragem de externalizar. E eu acho um barato. O brasileiro é debochado. Não tenho nem como ficar brava ou ofendida com uma coisa dessas", ela afirma.

Segundo a artista, a chamada "cultura do cancelamento" – que em geral consiste no linchamento de determinada pessoa pública nas redes – é uma prática definida por uma "manada de ódio constituída por pessoas que se identificam com um mesmo sentimento na tentativa de definhar alguém".

"Eu enxergo como um exercício de descarga das frustrações. A galera acaba entrando na onda e não sabe exatamente por qual motivo está destilando ódio. São pessoas que também estão doentes e tristes", diz.

A intensidade das críticas e dos xingamentos que recebeu ela também atribui ao racismo estrutural. "No meu caso, sendo mulher preta, é como se eu não merecesse estar no lugar onde eu estou, em destaque. Tenho que andar na linha, se eu andar fora dela, já era. Enquanto isso, artistas brancos erram, aparecem no outro dia pedindo desculpas e são acolhidos."

Uma das lições que ela tira de sua complicada passagem pelo programa é que, uma hora, tudo passa. "Para as pessoas que passam pela mesma situação, eu digo que é necessário acolher os haters. Uma forma de acolhimento é não responder com ataque. Existem pessoas que se enxergam em mim e não conseguem lidar com esse fato. Então, hoje eu vejo tudo o que aconteceu como um convite para a reflexão", ela afirma.

Por conta disso, Karol Conká diz que não se arrepende de ter aceitado o convite para entrar no "BBB". "Eu me arrependo de não ter prestado atenção nas minhas dores antes de entrar. Lá dentro eu acabei oferecendo um azedume, sinal de que eu mesma me abandonei,  porque eu acredito que você trata o outro da maneira como você mesmo se trata."

Ela vai além e afirma que aceitaria, sim, participar de uma edição futura do reality show. "Como eu me conheço, se o convite representasse uma aventura, eu toparia. E eu entraria já sabendo mais coisas sobre mim, é claro que com algumas fissuras, e disposta a aprender e tombar com novos tombos."

Em razão do ritmo intenso de trabalho – além do álbum e dos shows, ela também apresenta o programa "Prazer, feminino", no GNT –, Karol afirma que não tem encontrado tempo para acompanhar a 22ª edição do "Big brother Brasil", que está no ar, na Globo. Apesar disso, ela declara torcida para Linn da Quebrada, Natália Deodato e Paulo André.

"Minha mãe acompanha e me conta um pouco. Eu também vejo algumas coisas nas redes, mas é difícil eu gastar muitas horas do meu dia com isso porque estou bastante focada no trabalho", ela diz.

ELENCO 

No entanto, a cantora confessa que fica antenada nos temas que estão sendo discutidos dentro do reality e elogia a produção do programa por se preocupar em construir um elenco tão marcado pela diversidade.

"Enquanto tiver representatividade ali dentro, eu acho que o programa vale a pena. O público precisa entender que as pessoas pensam diferente, temos que parar de ficar generalizando tudo. A gente tem a tendência de achar que todo mundo tem um lado só. A pessoa está lá, tem um ataque de raiva, pronto, ela é do mal. O que é isso, gente? Qual o problema em aceitar que as pessoas são como elas são?"

Em sua opinião, o público desta edição está menos implacável nas críticas do que no ano passado. "Houve algumas falas problemáticas que não foram levadas tão a ferro e fogo quanto na minha edição. Mas eu entendo que é por conta da pandemia. No ano passado, as pessoas ainda estavam bastante presas em casa."

Com o disco lançado, ela agora se prepara para cair na estrada com um show que também está sendo arquitetado junto com RDD. Em BH, ela se apresenta em 27 de agosto, como atração do Festival Sarará.

"Eu amo BH. Em outra vida, acho que fui de BH. Estou muito animada. Vou chegar com um show novo e uma estética nova. Não vejo a hora de mostrar esse show e espero que o público sinta a potência, a verdade e a cor que é esse álbum."

“URUCUM”

.De Karol Conká
.11 faixas
.Sony Music Brasil
.Disponível nas plataformas digitais


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