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Estado de Minas DANÇA

Grupo Corpo estreia 'Primavera', espetáculo 'para cima', criado na pandemia

Companhia mineira encena a coreografia nesta terça (26/10) em São Paulo. Temporada em BH começa no dia 10 de novembro, no Palácio das Artes


26/10/2021 04:00 - atualizado 26/10/2021 09:39

Com roupas em tons fortes de amarelo e vermelho, bailarinas saltam no palco em cena de Primavera
Rodrigo Pederneiras diz que 'ninguém se encosta' em 'Primavera', mas que o espetáculo é 'para cima' e não tematiza a crise sanitária (foto: JOSÉ LUIZ PEDERNEIRAS/DIVULGAÇÃO)

De cabeça erguida, sem olhar para o chão ou para trás. A chegada de “Primavera”, novo espetáculo do Grupo Corpo – na noite desta terça-feira (26/10), no Teatro Alfa, em São Paulo, onde cumpre temporada até o próximo domingo (31/10), e a partir de 10 de novembro, no Palácio das Artes – tem um significado muito maior do que a estreia de uma montagem.

“É completamente diferente. Na verdade, é uma retomada de um processo que vem de 46 anos. De repente, tudo estagnou, parou. Está dando um frio na barriga, pois estamos entrando num teatro depois de um ano e sete meses. É mais empolgante do que um brinquedo novo”, diz o coreógrafo Rodrigo Pederneiras.

“Primavera”, título dado pelo diretor artístico e cenógrafo Paulo Pederneiras, nasceu e foi concebido de uma maneira improvável. Mas não haveria como ser de outro modo, dadas as incertezas de uma crise sanitária mundial que tomou o mundo de assalto. 

Em dezembro de 2020, em uma conversa descompromissada de fim de semana com o músico e compositor Paulo Tatit – que trabalhou em trilhas anteriores do Corpo –, Rodrigo lhe sugeriu que enviasse suas canções com o Palavra Cantada, duo que mantém há 27 anos com Sandra Peres. Músicas infantis para um espetáculo de dança?

Pois ao longo dos primeiros meses de 2021, sempre de maneira remota, a trilha sonora, a base de todos os espetáculos do Corpo, foi concebida assim. A dupla enviou uma seleção de canções – já sem as letras – que foram selecionadas pelo grupo e retrabalhadas pelos dois autores de São Paulo.

Casal de bailarinos faz movimento de pas de deux em Primavera
A nova coreografia inclui os famosos pas-de-deux do Grupo Corpo, interpretados por três casais de bailarinos (foto: JOSÉ LUIZ PEDERNEIRAS/DIVULGAÇÃO)

CASAIS

No primeiro semestre, sem saber o que o futuro reservava, o Corpo já tinha uma certeza. A dança teria que ser em outros moldes, ainda que mantida a assinatura. A partir de março, Rodrigo passou a se reunir com os bailarinos na sede da companhia, no Mangabeiras. “Trabalhamos em três salas diferentes, com pouca gente em cada uma.” Com a sorte de ter três casais de bailarinos, ele sabia que poderia ter pas-de-deux. 

“Mas várias coisas mudaram. Hoje usamos pouca gente (junta) em cena. São solos, duos, e mesmo quando há mais pessoas, mantemos distância, ninguém pode se encostar. Dessa maneira, a construção coreográfica se deu em cima das limitações. E deu certo, pois para este recomeço a ideia sempre foi mostrar uma coisa para cima, não ficar falando de COVID-19, problemas. Pelo contrário, todos nós precisamos de novos ânimos”, afirma Rodrigo.

As cores alegres dos figurinos das bailarinas – amarelo, vermelho, laranja, verde – assinados, como sempre, por Freusa Zechmeister, serão multiplicadas em cena. Pela primeira vez em sua história, a cenografia de um espetáculo do Corpo será em cima de projeções. Os bailarinos dançarão em uma caixa cênica negra, que vai ganhar vida por meio do vídeo.
 

SOLUÇÃO

Tal artifício cênico é também um reflexo da pandemia, explica Paulo Pederneiras. “Durante um ano e meio, o Corpo estava sempre filmando, gravando, fazendo lives. Isto foi uma novidade para a gente, pois os próprios bailarinos aprenderam a gravar e editar. O espetáculo ‘Primavera’ foi criado também com este tipo de pensamento. Seria em teatro ou também para outras mídias? Naturalmente veio a solução estética”, afirma.

As projeções vão reproduzir, ao vivo, o que os bailarinos estão apresentando, mas não literalmente. “O que estiver acontecendo no momento será projetado, fazendo com que cada espetáculo seja diferente do outro. Mas a projeção não transmite a realidade, como, por exemplo, mostrar um bailarino de corpo inteiro. Apresentamos isso de outra maneira, e o público vai ver uma coisa mais abstrata. É como uma retroprojeção”, descreve Paulo.

O novo espetáculo divide a cena com “Gira” (2017), um dos maiores sucessos do Corpo neste século. Por causa da logística, já que a montagem antiga exige uma preparação maior, inclusive com pintura corporal, o programa será invertido: começa com “Primavera” e, após o intervalo, será apresentado “Gira”. 

Inicialmente, “Primavera” estava agendado para estrear em agosto, época em que o Corpo começa suas temporadas. Adiar a estreia foi positivo. Em São Paulo, os teatros estão autorizados, neste momento, a funcionar com 100% de sua capacidade. 

Esta semana será de casa cheia para o grupo, como sempre foi até então (a estreia nesta noite, gratuita, teve os ingressos esgotados em sete horas). Neste momento, a PBH não autorizou a capacidade total dos teatros (está em 70%) mas, até que o Corpo estreie aqui, isso pode mudar.

Neste recomeço, cada passo está sendo dado de forma cuidadosa. Manter a companhia ativa durante um ano e meio de crise sanitária e financeira não foi fácil, Paulo admite. “O nosso trabalho, que exige uma convivência coletiva, sofreu uma modificação profunda. Os bailarinos fazem aulas juntos todos os dias. No começo era como home office. Construímos barras individuais para cada um fazer aula de casa, por meio de transmissões.”

Houve um momento de suspensão de horário de trabalho, “consequentemente, de salário”, para toda a equipe: artística, técnica e administrativa. “Passamos por tudo sem despedir um só funcionário dos quase 60 que formam o Corpo”, acrescenta Paulo, citando ainda a manutenção dos antigos patrocínios – Itaú, Unimed-BH e Cemig – além de dois novos, Vale e ArcelorMittal. O programa Amigos do Corpo também foi essencial para a manutenção da companhia, diz o diretor artístico.

''(Esta estreia) É completamente diferente. Na verdade, é uma retomada de um processo que vem de 46 anos. De repente, tudo estagnou, parou. Está dando um frio na barriga, pois estamos entrando num teatro depois de um ano e sete meses. É mais empolgante do que um brinquedo novo''

Rodrigo Pederneiras, coreógrafo


RETOMADA

Acreditando que o pior já passou, o Corpo ensaia outros passos. Também estão sendo agendadas, para este ano, uma temporada popular (em dezembro, no Cine-Theatro Brasil Vallourec) e apresentações em Campo Grande e no vão livre do MASP. Rio de Janeiro permanece em aberto, por ora, porque o Municipal, que recebe as montagens do Corpo, ainda não foi reaberto.

Para 2022, também estão sendo previstas temporadas no exterior, Alemanha e Estados Unidos já confirmados. E há dois meses o grupo foi surpreendido com um contato do assessor do maestro Gustavo Dudamel. Em fevereiro de 2020, a companhia anunciou o convite para criar a coreografia “Estancia”, música do argentino Alberto Ginastera que seria executada ao vivo pela Filarmônica de Los Angeles, com regência do venezuelano. 

Com a pandemia, segundo diz Rodrigo, o grupo acreditou que o projeto, previsto para outubro de 2020, havia sido cancelado. Mas eis que veio o telefonema reafirmando a intenção, para o próximo ano. “São novos horizontes e esperamos que as coisas mudem, em todos os sentidos”, afirma Rodrigo.

''O nosso trabalho, que exige uma convivência coletiva, sofreu uma modificação profunda. Os bailarinos fazem aulas juntos todos os dias. No começo era como home office. Construímos barras individuais para cada um fazer aula de casa, por meio de transmissões''

Paulo Pederneiras, diretor artístico do Grupo Corpo



TRÊS PERGUNTAS PARA...

Sandra Peres e Paulo Tatit,
autores da trilha sonora

Até “Primavera”, que experiência vocês tinham com trilha para balé?
Paulo Tatit – Eu, particularmente, participei da trilha de “Nazareth” (1993), do José Miguel Wisnik, “Parabelo” (1997), com música de Tom Zé e Wisnik e “O corpo” (2000), com trilha do Arnaldo Antunes. Então eu passava muito perto de ter uma trilha para o Corpo, mas não imaginava como, já que sou especializado em canções infantis. De repente, a partir de uma conversa durante a noite, a coisa se tornou totalmente concreta. Estou superemocionado porque Sandra e eu acompanhamos o Corpo há décadas, desde “Missa do orfanato” (1989).

Como foi o processo de “costura” das canções do Palavra Cantada para a trilha?
Sandra Peres – Mandamos, no começo, os playbacks. Era muito importante que as músicas fossem sem letra, sem palavra. Dessas, 14 foram escolhidas. A partir daí, trabalhamos elementos com os instrumentos, baixo, violão, piano. Percebemos que, quando você tira a voz e a melodia principal, apareciam coisas sutis, que deram outro resultado. As gravações escolhidas foram de 1999 a 2017, portanto, de estúdios e produtores diferentes. Foi fundamental chamar o produtor Ricardo Mosca, que, além de remixar tudo, organizou a trilha.
Tatit – Adaptar as nossas partes instrumentais para balé foi uma revelação para a gente. Quando você faz uma canção, o caminho é tão outro! Gostei muito do resultado, ficou com cara de trilha sonora, senti uma ponta de orgulho das nossas bases instrumentais serem tão bacanas. Em música, menos é mais, e a coreografia preencheu os espaços. 

O que vocês já viram do espetáculo?
Sandra – Pessoalmente, nada. Não nos encontramos com ninguém. Até disse outro dia que foi um processo bastante mediúnico. Quando recebemos os vídeos com as coreografias prontas com as nossas músicas, foi surpreendente. Não se trabalha assim normalmente, e um trabalho muito inusitado deu supercerto. Agora, a gente vai estar no teatro (Alfa, em São Paulo) todos os dias.

GRUPO CORPO

Espetáculos “Primavera” e “Gira”. Temporada em São Paulo de quarta (26/10) a domingo (31/10), no Teatro Alfa. Em Belo Horizonte, a estreia será em 10 de novembro, às 20h30, no Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Apresentações até 14 de novembro, de quarta a sábado, às 20h30, e domingo, às 19h. Ingressos: Plateias 1 e 2: R$ 150 e R$ 75 (meia); Plateia superior: R$ 120 e R$ 60 (meia). À venda na bilheteria do Palácio das Artes e no site Eventim (eventim.com.br). 


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