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Estado de Minas DANÇA

Deborah Colker estreia montagem 'Cura' com sinal aberto no Globoplay

Espetáculo sugere que o conhecimento e a alegria são caminhos para a superação das enfermidades do corpo e da alma


25/09/2021 04:00

Com 13 bailarinos em cena e a inclusão, pela primeira vez na história da companhia, de músicas cantadas por eles, o espetáculo terá transmissão via plataforma Globoplay, com sinal aberto a não assinantes
Com 13 bailarinos em cena e a inclusão, pela primeira vez na história da companhia, de músicas cantadas por eles, o espetáculo terá transmissão via plataforma Globoplay, com sinal aberto a não assinantes (foto: Leo Aversa/Divulgação)

Há o lado pessoal, isso é inegável. Mas “Cura” transcende e muito a experiência da coreógrafa Deborah Colker e de sua família diante de uma doença rara. É também uma resposta dela ao momento atual – de fé na ciência, de busca pela religiosidade, de uma tentativa de compreender melhor a vida e a morte, questões que têm sido aprofundadas por tantas e tantas pessoas nesta pandemia.

É também importante frisar que o espetáculo – que estreia neste sábado (25/ 9) na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, com transmissão ao vivo pelo Globoplay – nasceu muito antes da crise sanitária. Foi a morte do físico britânico Stephen Hawking, aos 76 anos, em março de 2018, que lhe deu o insight para a montagem.

“O nome ‘Cura’ nasceu ali. O Stephen Hawking foi diagnosticado com ELA (a doença degenerativa esclerose lateral amiotrófica) quando tinha 20 anos – deram-lhe mais três de vida, ele viveu mais de 50 depois daquilo. Quando li a notícia da morte dele, entendi que ele tinha encontrado cura para o que não tem cura. Não tem cura física? Mas tem a cura emocional, intelectual, espiritual.”

''Nilton Bonder (que assina a dramaturgia de 'Cura') é o rabino mais transgressor que conheço. Ele dizia que eu era uma guerrilheira científica, que gritava alto. Achava bonito que eu tivesse esse grito, mas, ao mesmo tempo, eu tinha que me apropriar do silêncio. A ciência demanda paciência. Com o Bonder, fui construindo essa dualidade, aprendendo a gritar, mas também a esperar, aprender''

Deborah Colker, coreógrafa


ALEGRIA

Há 12 anos Deborah se tornou avó de Theo. Seu primeiro neto nasceu com uma condição rara, uma mutação genética de nome difícil – epidermólise bolhosa distrófica recessiva. Sem cura, a doença provoca a formação de bolhas na pele aos mínimos atritos. “São também 12 anos de indignação, luta, resistência e busca pela ciência. O Theo me provocou uma abertura para o conhecimento, me fez entender que não há nada mais potente para a cura do que preservar a alegria”, diz ela.

Em decorrência da pandemia, a montagem só vem a público agora – de 6 a 31 de outubro, cumpre temporada presencial no Rio; em novembro, segue para São Paulo. Deveria ter estreado em janeiro de 2021, em Londres. 

“Estou trabalhando nele desde 2018. Em 2020, quando fomos surpreendidos com a pandemia, dei férias para a equipe. Depois trabalhamos três meses pelo Zoom, ensaiando, marcando música. Voltamos mais tarde com todos os protocolos, ensaiando três vezes por semana. Teve um período que tinha nove bailarinos, depois 11 e agora vamos estrear com 13. Tinha a questão do vírus e também a do patrocínio. Ninguém queria arriscar. Deixamos de ter a Petrobras e agora passamos a ter a Vale e o Bradesco. Foi uma guerrilha”, comenta a coreógrafa.

''Cura'' foi concebido em 2018 e teve sua estreia retardada pela pandemia, que impediu ensaios presenciais e impôs outras dificuldades, como a perda de patrocínio
''Cura'' foi concebido em 2018 e teve sua estreia retardada pela pandemia, que impediu ensaios presenciais e impôs outras dificuldades, como a perda de patrocínio (foto: Leo Aversa/Divulgação)

RAMPA

“Cura” traz de volta antigos colaboradores da companhia, como o diretor de arte e cenógrafo Gringo Cardia. No cenário, duas rampas dão a sensação de desequilíbrio aos movimentos dos bailarinos. Caixas presentes no palco têm diferentes funções – em uma das imagens, formam um muro.
 
A ficha técnica inclui também o rabino e escritor Nilton Bonder, que assina a dramaturgia; o iluminador Maneco Quinderé e Carlinhos Brown, responsável pela trilha sonora.

 “Conheço o Nilton Bonder há muito tempo, fiz (a série) ‘A alma imoral’. É o rabino mais transgressor que conheço, é um pensador aberto, um cara cultíssimo. Ele me ajudou na ponte, dizia que eu era uma guerrilheira científica, que gritava alto. Achava bonito que eu tivesse esse grito, mas, ao mesmo tempo, eu tinha que me apropriar do silêncio. A ciência demanda paciência. Com o Bonder, fui construindo essa dualidade, aprendendo a gritar, mas também a esperar, aprender.”

''Quando voltei da África, o Nilton (Bonder) me perguntou se eu havia encontrado a cura. Não, mas encontrei a alegria e decidi que, além de dançar, iria também cantar. Na África, todo mundo canta. E se tem um berço da arte no mundo, para mim ele está lá''

Deborah Colker, coreógrafa


EMBATE

A Cia. de Dança Deborah Colker chegou em 2021 aos 27 anos. A abstração que marcava as montagens da primeira fase vem, ao longo do tempo, perdendo espaço – os espetáculos mais recentes apostam na narrativa. “Desde ‘Nó’ (2005) venho fazendo questão da dramaturgia. Quando fui ficando mais velha, precisei falar da alma humana, do embate entre razão e instinto.” 

Sua montagem anterior, “Cão sem plumas” (2017), baseada no poema de João Cabral de Melo Neto, trazia como base a palavra. “Ali eu expressava minha indignação, o que acho inaceitável”, diz ela. Publicado em 1950, o poema acompanha o percurso do Rio Capibaribe, que corta boa parte do estado de Pernambuco. Mostra a pobreza da população ribeirinha, o descaso das elites, a vida no mangue, de “força invencível e anônima”. A imagem do “cão sem plumas” serve para o rio e para as pessoas que vivem no seu entorno

“Sigo agora o caminho deste espetáculo. Em ‘Cura’, não tenho personagens, mas trago conhecimento e sabedoria”, comenta. Neste novo caminho para a dança, Deborah incluiu também o canto. Pela primeira vez, os bailarinos de sua companhia cantam em cena. “São quatro as línguas no espetáculo. O português, o hebraico, o inglês e dialetos africanos”, conta.

A trilha tem ainda Leonard Cohen, com “You want it darker”, para uma sequência com dois bailarinos. A canção se tornou título de seu 14º e último álbum, lançado em outubro de 2016, 17 dias antes da morte do cantor e compositor canadense. Neste derradeiro trabalho, Cohen fala de morte e Deus com algum humor.

Deborah incorporou ao espetáculo referências das três religiões monoteístas e elementos de culturas africanas, indígenas e orientais. Uma das figuras mais importantes em “Cura” é Obaluaê, orixá das doenças e das curas. Carlinhos Brown foi convidado, inicialmente, para compor apenas o tema desse orixá. Acabou criando a maior parte da trilha, inclusive a canção inicial, dos versos “Traga meu sorriso para dentro” e “Sou mais forte do que a minha dor”. 

Uma passagem curta por Moçambique durante a criação do espetáculo foi determinante para a coreógrafa. “Quando voltei da África, o Nilton me perguntou se eu havia encontrado a cura. Não, mas encontrei a alegria e decidi que, além de dançar, iria também cantar. Na África, todo mundo canta. E se tem um berço da arte no mundo, para mim ele está lá”, conclui.

“CURA”
• Espetáculo da Cia. de Dança Deborah Colker. Estreia neste sábado (25/09), às 20h, no Globoplay. Duração: 1h15mon. O sinal estará aberto para não assinantes da plataforma.


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