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Estado de Minas fHIST

Festival de história em Diamantina discutirá pandemia e negacionismo

Sexta edição do evento começa na próxima quinta-feira (21/10) e terá formato híbrido, presencial e virtual


19/10/2021 04:00 - atualizado 19/10/2021 07:36

Paulo César Gomes posa para foto, de óculos e camiseta
Especialista em história social, Paulo César Gomes participa de debate sobre o negacionismo, na sexta-feira (foto: Rafael Aguiar/Divulgação )

Orientado pela temática Tempos de incerteza e jogando luz sobre questões como o negacionismo, a disseminação de fake news e o avanço do pensamento conservador de extrema-direita, o Festival de História (fHist) inicia sua sexta edição na próxima quinta-feira (21/10), em Diamantina. 

Até o próximo sábado (23/10), o historiador Paulo César Gomes, o jornalista, roteirista e ator Gregório Duvivier, a historiadora e influenciadora digital Giovanna Heliodoro, a TransPreta, o filósofo Leandro Karnal e a professora Macaé Evaristo, entre outros convidados, vão debater temas correlatos, que perpassam também o cinema e a música. A programação é híbrida, presencial e virtual, em razão dos protocolos vigentes de combate à pandemia da COVID-19.

Em Diamantina, o Teatro Municipal Santa Izabel vai sediar as mesas de debate, que serão realizados em formato de talk show, com convidados de renome nacional. Durante os três dias do fHist, além dos debates, que estão no cerne do evento, haverá espetáculos musicais na Escola de Música Francisco Nunes, na Praça Doutor Prado, respeitando as exigências sanitárias.

Idealizador e coordenador do fHist, o jornalista Américo Antunes considera que o simples fato de conseguir pôr de pé esta edição, que marca os 10 anos de criação do evento bienal, já é uma grande conquista, dado o cenário de pandemia e de desmonte das políticas públicas voltadas para cultura. 

Gregório Duvivier olha para a câmera
O jornalista, roteirista e ator Gregório Duvivier também estará na mesa de sexta-feira (foto: Renato Parada/Divulgação)

ESTRATÉGIA 

“Conseguir chegar a uma década de realização do fHist representa, primeiro, o acerto de uma estratégia de reconhecer na literatura de temas históricos um fato importante na formação do pensamento cultural brasileiro, um pensamento crítico e libertário”, diz. 

“E o fato de conseguir realizar esta edição em tempos tão difíceis mostra que este é um espaço importante para debater e refletir temas da história, que não é sinônimo de livros bolorentos na prateleira da estante”, afirma Antunes.

Ele diz que a escolha do tema deste ano foi orientada por razões óbvias, que escancaram dúvidas até mesmo quanto ao futuro da humanidade. Antunes destaca o impacto generalizado da pandemia em todos os setores, da política à economia, passando pela cultura e culminando no conjunto das relações humanas. O intuito, com os debates, é mostrar que isso é recorrente na história da humanidade.

“A história nos ensina e nos leva a momentos que foram traumáticos, como a peste negra, que dizimou metade da população da Europa na Idade Média, a gripe espanhola no início do século passado, a malária, a Aids. Não só as doenças, mas também cataclismos ambientais, guerras e outros eventos que marcam momentos em que a humanidade se volta para si mesma com a pergunta: o homem tem futuro na Terra?. Com suas devidas atualizações, a humanidade vem se defrontando com momentos assim, de dúvida, de incertezas quanto à sua própria continuidade”, diz o coordenador do festival.

Sobre a singularidade desse momento histórico, ele aponta as redes sociais como um veículo para trazer à tona um obscurantismo latente. “Quem antes se envergonhava de ter posições racistas, homofóbicas, fascistas, autoritárias, agora sobe em palanque para externar essas posições. As redes sociais potencializaram um universo de loucura. A gente vê amigos próximos, parentes entrando nessa insanidade do negacionismo”, aponta.

Giovanna Heliodoro, a TransPreta, olha com expressão séria para a câmera
A historiadora e influenciadora digital Giovanna Heliodoro, a TransPreta, é convidada da mesma mesa  (foto: João Arraes/Divulgação )


DESTAQUES 


Além da questão do negacionismo, no debate que vai reunir Paulo César Gomes, Gregório Duvivier e Giovanna Heliodoro, na próxima sexta-feira, Américo Antunes destaca o que considera outros pontos altos na programação do 6º fHist. 

É o caso da mesa “História entre pandemias”, que, também na sexta-feira, vai reunir a doutora em história social e pesquisadora da Fiocruz Dominichi Miranda de Sá, a professora Keila Carvalho, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, e o argentino Diego Armus, que também é doutor em história e professor do Swarthmore College, nos EUA.

“A questão da saúde vem sendo cada vez mais apropriada pela historiografia. Um dos principais fatores de dizimação das populações nativas ao longo da história, no Brasil e nas Américas, de forma geral, foram as doenças. Uma simples gripe matou milhares de indígenas. Procuramos encontrar pessoas dedicadas a esses temas”, diz.

O coordenador esclarece que “Diego Armus vai participar remotamente desse debate” e ressalta que “ele tem uma importante pesquisa no histórico das doenças na América Latina, a malária, a varíola, e trabalha com o conceito de que as doenças e epidemias atingem basicamente os pobres, os mais fragilizados na estrutura social”.


6º fHist – Festival de História
Com o tema Tempos de incerteza. Desta quinta-feira (21/10) a sábado (23/10). Em Diamantina (Teatro Santa Izabel e Escola de Música Francisco Nunes) e nas redes sociais do fHist. Inscrições presenciais custam R$ 20 por atividade; transmissões on-line são gratuitas.

Negacionismo e fake news

Convidado a participar do debate “História, verdades e mentiras”, que ocorre na próxima sexta-feira (22/10), o doutor em história social e editor-chefe do site História da Ditadura, Paulo César Gomes, enxerga uma “herança maldita” que retorna atualizada por diferentes fatores. Ele aponta, especialmente, um negacionismo no espectro amplo, histórico e científico. 

“Pensando na história recente do Brasil, a gente não pode deixar de considerar a ditadura, a sua duração e a forma como a transição para a democracia foi feita. É preciso enfatizar o negacionismo histórico, pensar sobre como as mentiras vêm sendo usadas politicamente e tentar identificar a gênese dessa prática”, destaca.

Militares


Ele acredita que, se os ecos da ditadura militar no Brasil ainda reverberam de maneira tão evidente, é porque o próprio processo de abertura foi conduzido pelos agentes do regime militar, com uma Lei de Anistia que impediu a punição dos violadores de direitos humanos. 

“A verdade é que os militares nunca saíram de cena na política brasileira, desde a proclamação da República. Eles sempre tiveram um protagonismo político, que ganhou projeção muito mais ampla durante a ditadura. Isso foi tão forte que eles conseguiram conduzir a transição impedindo a punição, com a anistia. Nesse sentido, tiveram bastante sucesso”, diz.

Gomes observa que, para além dessa questão, os militares conseguiram forjar uma espécie de “política de esquecimento” em relação ao período em que estiveram no poder.  “Existe um esforço para apagar os crimes cometidos durante a ditadura e, mais recentemente, vive-se uma espécie particular de negacionismo, que busca não só refutar a existência da ditadura, mas elogiar o arbítrio, a violência do Estado. A gente tem que considerar o uso político disso, porque não é só um discurso, mas uma tentativa de legitimar as políticas violentas do momento atual”, afirma.

Saiba como participar

.Toda a programação será transmitida ao vivo pelo YouTube do fHist. A presença do público nos espetáculos será limitada à capacidade dos espaços e mediante retirada de senha com uma hora de antecedência. Somente quem se inscreveu para participar das mesas presenciais poderá retirar a senha para assistir presencialmente às atividades culturais. 

.Os interessados em participar presencialmente das atividades do 6ª fHist devem se inscrever nos respectivos eventos de interesse por meio de um formulário, disponível no site www.festivaldehistoria.com.b r, onde se pode conferir a programação completa. As vagas respeitam o limite de 50% de ocupação do espaço, em virtude da pandemia. O valor da inscrição é de R$ 20 por atividade. Tanto no Teatro Santa Izabel quanto na Escola de Música será exigida a apresentação de cartão de vacinação contra a COVID-19.


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