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Estado de Minas CINEMA

Fernanda Montenegro tenta salvar a família da falência em 'Piedade'

Atriz está em filme de Cláudio Assis, que estreia nesta quinta-feira (05/08) e mostra petrolífera ameaçando o turismo e o sustento do clã


05/08/2021 04:00 - atualizado 04/08/2021 19:09

Fernanda Montenegro interpreta a matriarca da família que é dona do bar Paraíso do Mar(foto: Canal Brasil/Divulgação)
Fernanda Montenegro interpreta a matriarca da família que é dona do bar Paraíso do Mar (foto: Canal Brasil/Divulgação)

Em 28 de junho de 1992 ocorreu o primeiro ataque de tubarão na Grande Recife, matando um banhista em frente à igreja da Praia de Piedade. Desde então, houve 66 ocorrências na região, a mais recente no último dia 10 de julho, na mesma altura da orla – em quase 30 anos, 26 pessoas morreram. O aumento dos ataques é atribuído à construção do Porto de Suape, que, inaugurado em 1983 na região metropolitana, teria contribuído para a mudança de rota dos peixes.

Piedade”, sétimo longa-metragem do cineasta pernambucano Cláudio Assis, que estreia nesta quinta-feira (05/08) em BH, no Cine Belas Artes, coloca outro tipo de tubarão no ataque. Uma empresa petrolífera, Petrogreen, quer comprar a área onde está localizado o bar Paraíso do Mar, casa e sustento de Carminha (Fernanda Montenegro), seu filho Omar Sharif (Irandhir Santos) e seu neto Ramsés (Francisco Assis). A atividade petrolífera impossibilitou o banho e a pesca naquela praia, que não tem mais os turistas do passado.

Agora, as pessoas se veem encurraladas com o assédio de um peixe pequeno da Petrogreen, mas um tubarão diante da ameaça que carrega. Aurélio (Matheus Nachtergaele) é um executivo que vai tentar um acordo com a população local. Joga sujo, trazendo uma perda familiar à tona, personificado na figura de Sandro (Cauã Reymond), o dono de um cinema pornô, pai de Marlon Brando (Gabriel Leone), um ativista que luta contra a presença da petrolífera no local. O drama do filho perdido foi algo tirado da história da própria família de Assis. 

"A vida é assim e o filme foi feito das coisas que estamos vivendo, com que convivemos todos os dias. E nada está às mil maravilhas, com o presidente falando besteiras, destruindo tudo. Vivemos em um mundo que não tem saída. Estamos ali para o tubarão pegar mesmo, já que estamos enquadrados"

Cláudio Assis, cineasta


PANDEMIA 

Lançado em 2019 no Festival de Cinema de Brasília, “Piedade” teve algumas exibições on-line no ano passado, pela impossibilidade de chegar às salas, devido à pandemia. “Lançar agora significa certo arremesso. Um projeto desses você tem que mostrar, mas, enfim, estou aqui em Olinda e não vou acompanhar o lançamento do filme nos cinemas. Com essa loucura da pandemia, não tem muito tesão”, diz Assis.  

Por outro lado, a narrativa leva para o espectador uma mensagem clara de um país à deriva – o que diz muito sobre o tempo presente. Ainda que seja o melodrama o fio condutor da história, aqueles que têm familiaridade com o tom visceral da obra de Cláudio Assis reconhecerão em “Piedade” também o submundo de “Amarelo manga” (2002) e “Febre do rato” (2011). 

Cabines para encontros sexuais para os frequentadores do cinema de Sandro – que leva o nome de Mercy (piedade, em português) – têm câmeras, e o proprietário acompanha o ir e vir de corpos “por causa de segurança”. O cheiro de sexo impregna todo o lugar.

As presenças de Matheus Nachtergaele e Irandhir Santos não são novidade na filmografia de Assis. Aqui, são Fernanda Montenegro e Cauã Reymond que chamam a atenção. E os dois foram convidados praticamente ao mesmo tempo, conta o cineasta. 

“Imaginei Dona Fernanda como a mãe, e ela aceitou numa boa. Estava no Rio de Janeiro conversando com ela quando quem senta do outro lado de onde estávamos? Cauã Reymond. Eu fui até ele, me apresentei, e perguntei: ‘Não quer fazer parte do meu filme, não?’ Ele topou na hora.”

O filme traz uma anunciada sequência de sexo entre os personagens de Nachtergaele e Reymond. “A gente coloca os atores para fazer a sequência. A gente imagina, como é que vai ‘enganar’ o espectador, como vai montar. Aí discuto com os atores. Não sou um diretor de dizer ‘tem que fazer assim’, sempre chego num senso comum”, diz Assis, que mostra um longo plano do corpo de Reymond – quando chega no traseiro, a câmera explora o desejo que Sandro desperta em Aurélio (Nachtergaele).

“Piedade” é um filme sobre resistência, mas com um viés realista, pessimista, o que fica claro na sequência final. “A vida é assim e o filme foi feito das coisas que estamos vivendo, com que convivemos todos os dias. E nada está às mil maravilhas, com o presidente falando besteiras, destruindo tudo. Vivemos em um mundo que não tem saída. Estamos ali para o tubarão pegar mesmo, já que estamos enquadrados”, afirma Assis. 

“PIEDADE”
 (Brasil, 2019, de Cláudio Assis, com Irandhir Santos, Cauã Reymond, Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele) – A rotina dos moradores da cidade de Piedade é abalada pela chegada de uma grande empresa petrolífera. Em cartaz no Cine Belas Artes 1, às 16h, 18h e 20h, a partir desta quinta-feira (05/08).





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