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Estado de Minas

Documentários se inspiram na trajetória de grandes atores no teatro

"Migliaccio - O brasileiro em cena", sobre Flávio Migliaccio, e filmes sobre Helena Ignez e Paulo Autran se nortearam pela atuação dos atores no palco


21/07/2021 04:00 - atualizado 21/07/2021 01:11

Cena do longa 'Migliaccio - O brasileiro em cena', que tem assinatura de Marcelo Migliaccio, filho de Flávio Migliaccio
Cena do longa "Migliaccio - O brasileiro em cena", que tem assinatura de Marcelo Migliaccio, filho de Flávio Migliaccio (foto: globo filmes/divulgação)
 
Com a popularidade de personagens como Tio Maneco e à frente do seriado “Shazan, Xerife & Cia”, o ator Flávio Migliaccio, como explica o filho dele, Marcelo, sempre era interpelado na rua por fãs. Esse carinho e reconhecimento estão retratados no longa “Migliaccio — O brasileiro em cena”, que tem assinatura de Marcelo Migliaccio tanto no roteiro quanto na produção. Junto com a projeção do ator no cinema e na tevê, o teatro, movido por ensaios exaustivos, tem plano privilegiado no filme, sobretudo com as inserções da peça autobiográfica “Confissões de um senhor de idade”, que norteiam a narrativa do documentário.

"A peça foi uma espécie de despedida que meu pai fez da carreira e da vida também, porque a decisão que ele tomou (suicídio), no ano passado, era filosófica, e acho que já estava com ele há muito tempo, isso de não se deixar definhar pela velhice. A peça é uma espécie de ajuste de contas feito com Deus; ele, que era ateu. Essa última peça dele foi também uma carta-testamento”, avalia Marcelo.

Filmada em 15 ocasiões e por vários ângulos, a peça foi parar no YouTube e baliza o atual documentário que mostra as origens da verve cênica de Flávio Migliaccio: o jogo de sombras na janela, acompanhado pelo violino do pai. Depois das tentativas de ser engraxate, pedreiro e mecânico, Migliaccio se encontrou no Teatro de Arena, com a análise da realidade brasileira — “minha gente, minha língua”, como ele ressalta no filme—, e ao lado da ala “intelectual”, com Augusto Boal — com quem interpretou “Revolução na América do Sul” — e da ala “estudantil”, com Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Viana Filho, criou a vertente “do povo” ao lado de Milton Gonçalves.

“O Arena definiu o estilo de uma geração inteira de atores em contraposição ao teatrão impostado que era feito por Tônia Carrero e Paulo Autran. Vários atores daquela época vieram para o jeito brasileiro de representar, e para o Flávio, como era instintivo, caiu como uma luva naquela turma, com aquele estilo dele visceral de representar”, observa o roteirista de “Migliaccio”.

MUSA 
Outra história que saiu da coxia para as telas é a de Helena Ignez, uma das maiores musas do cinema novo. “A mulher da luz própria” é assinado por uma das filhas da atriz, Sinai Sganzerla. “O encontro com o teatro foi o encontro com a própria luz, não só a luz do projetor de cinema, mas ainda com a luz das artes e das realizações pessoais e profissionais”, avalia a diretora do longa, que já participou de mais de 40 festivais, numa rota que contemplou Cuba e Turquia. Narrado por Helena, que se assume em eterna transformação, o longa praticamente estreia na tevê (Canal Curta!), uma vez que teve o circuito comercial alterado por causa da pandemia.

“No longa, mostro o encontro da minha mãe com Martim Gonçalves, uma pessoa importantíssima para a nossa cultura. A aproximação veio na Escola de Cinema da Bahia, em 1958. Lá que houve a formação do Glauber Rocha (ex-marido de Ignez) e do Antônio Pitanga (ator de 'A idade da Terra')”, comenta a diretora. Fotos inéditas da peça “A ópera dos três tostões” (de Bertolt Brecht) trazem dinâmica para um trecho do filme em torno da atriz que esteve na vanguarda da cena teatral, ao lado de Antônio Abujamra, e dirigiu as peças “Savannah Bay” e “Cabaret Rimbaud — Uma temporada no inferno”.

PIONEIRO 
Atração do streaming da Tamandua.TV.br, o longa “Paulo Autran — O senhor dos palcos” (de Marco Abujamra) examina os bastidores de parte das mais de 80 peças em que o carioca, criado em São Paulo, se consagrou. Da estranheza de não pertencer a grupos na infância até a dedicação por 16 horas diárias de ensaios, passando pelo aprimoramento no corpo do Teatro Brasileiro de Comédia, Autran emociona diante da robustez da carreira, encerrada com a morte em 2007. Sem constrangimento de tratar de fiascos como o “Macbeth”, montado por Fauzi Arapi, nos anos 1970, Autran também apresenta o sinônimo da excelência nas atuações em “Rei Lear” (com montagem de Ulysses Cruz), “Solness” (um Ibsen recriado por Eduardo Tolentino) e na shakespeariana “A tempestade”.

Pioneiro, em 1957, ao lado de Tônia Carrero, das grandes excursões de trupe no Brasil, o filme justifica por que Autran era capaz mobilizar um público por três anos – como no espetáculo “Pato com laranja”. O filme também mobiliza grandes nomes da sétima arte, como Bibi Ferreira, relembrando de quando o aconselhou a recitar dentro da métrica em vez de cantar no musical “O homem de la mancha”, o que lhe rendeu ovações. Fernanda Montenegro traz um dos depoimentos mais emocionantes. A ex-parceira da novela “Guerra dos sexos” estipula o fim do ciclo de uma geração combativa com a partida do amigo.


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