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Estado de Minas

Musical inspirado em clássico de Clarice Lispector chega a BH

''A hora da estrela ou O canto de Macabéa'' estreia temporada híbrida nesta quarta-feira. Laila Garin, voz marcante do teatro musical, protagoniza montagem


13/07/2021 04:00 - atualizado 13/07/2021 09:34

 
Uma das vozes mais marcantes do teatro musical, Laila Garin diz que encenar
Uma das vozes mais marcantes do teatro musical, Laila Garin diz que encenar "A hora da estrela ou O canto de Macabéa" é um dos grandes desafios de sua carreira (foto: Daniel Barboza/Divulgação)
 
A hora da estrela ou O canto de Macabéa” estreia temporada híbrida no CCBB-BH, nesta quarta-feira (14/07). A atriz Laila Garin vive a protagonista Macabéa na montagem musical, mesclando o papel de personagem e narradora na adaptação de André Paes Leme. A trilha sonora é assinada por Chico César, que compôs as faixas inspiradas na obra “A hora da estrela” (1977), de Clarice Lispector (1920-1977).

“A hora da estrela” é o último romance publicado por Clarice, sendo lembrado como a obra com maior teor social na trajetória da escritora. A trama narra a saga de Macabéa, uma nordestina que migra para o Rio de Janeiro e não atrai a atenção de ninguém. Ela é oprimida pelo patrão, ganha menos de um salário e divide o quarto com quatro pessoas. Na obra, a invisibilidade da personagem atrai os olhares de um escritor, que decide contar a história dessa mulher, que, segundo ele, não tem nem “pobreza enfeitada”.

Laila Garin não esconde a emoção com a oportunidade de interpretar a protagonista no ano que marca o centenário de Clarice Lispector. Ela conta que a personagem é uma referência em sua carreira, desde que assistiu ao filme “A hora da estrela” (1985), de Suzana Amaral.

“Foi uma inspiração para vários trabalhos, pesquisas de personagens que fiz ao longo da vida, que nem eram Macabéa. Acaba sendo a realização de um sonho. É um ícone para mim quase inatingível, que eu tinha essa referência dessa personagem. Macabéa é um mergulho na empatia, no amor, na não reatividade. É um privilégio grande poder fazer uma homenagem, encenar um clássico desse no centenário de Clarice”, afirmou Laila, de 43 anos.

''Macabéa é um mergulho na empatia, no amor, na não reatividade. É um privilégio grande poder fazer uma homenagem, encenar um clássico desse no centenário de Clarice''

Laila Garin, atriz


CAMISA DE FORÇA

A atriz acredita que “A hora da estrela” representa todas as pessoas inviabilizadas na sociedade brasileira. “Existe uma opressão velada, que faz com que as pessoas não sonhem, não cobicem as coisas, porque acham que não têm direito. Macabéa acha que não tem direito de desejar, de sonhar, e essa é a maior camisa de força, a maior opressão que a gente tem, sem querer minimizar a violência real e concreta”, explica.

Ela afirma que a obra também dialoga com certas realidades presentes no país. “Muita gente ainda acha que não tem o direito de sonhar, então nem ousa desejar, por exemplo, ser curado, ter uma vacina, ir para a escola. Acha que é inferior, assim como Macabéa.”

Neste sentido, a atriz diz que a peça transmite uma mensagem de empoderamento. “A Macabéa fala que não acha que é gente. Na hora de morrer, ela vê que o sangue dela é vermelho, igual ao de todo mundo. Mas ela foi tão oprimida que achava que não. É uma mensagem de empoderamento para todos”, destaca.

Na adaptação de André Paes Leme, o papel de narrador se mistura com o de atriz. Em vez de um escritor acompanhando a jornada de Macabéa, a contextualização e a encenação da história ficam a cargo de Laila. Ela conta que trabalhou em conjunto com o diretor para fazer a tradução da metalinguagem proposta em “A hora da estrela”. Na montagem, a artista surpreendentemente vai se apaixonando pela personagem, que, assim como no livro, é maltratada pelo patrão, invisibilizada pela sociedade e não reage à opressão.

“Acaba que essa metalinguagem se mistura mesmo com a realidade. Essa personagem que eu faço, na verdade, sou eu mesma”, revela Laila. Ela afirma que a experiência foi um desafio pelo fato do papel ser muito diferente dos seus últimos trabalhos. A atriz ficou famosa por fazer mulheres fortes e que reivindicam seu espaço, como Joana, em “Gota d'Água”, e Elis Regina, no musical “Elis”.

“Pra mim, essas coisas se confundem (o personagem e atriz). Por que é paixão minha fazer essa personagem (Macabéa)? Ela me incomoda, ela não reage. Aos poucos, ao longo da peça, ela vai se apaixonando e entendendo que é uma outra via de revolução. Macabéa, através dessa não reatividade, acaba me ensinando muito sobre o amor, a delicadeza e está sendo transformador”, afirma.

Montagem que chega ao CCBB-BH, presencial e on-line, tem trilha sonora assinada por Chico César em faixas inspiradas em trechos do livro de Clarice(foto: Ariel cavotti/divulgação)
Montagem que chega ao CCBB-BH, presencial e on-line, tem trilha sonora assinada por Chico César em faixas inspiradas em trechos do livro de Clarice (foto: Ariel cavotti/divulgação)

PERSONALIDADES

Laila acredita que a adaptação para uma atriz que interpreta a personagem, em vez de um escritor narrando a história, foi o ideal. “Às vezes, para ser fiel, você tem que mudar, porque o suporte não é mais livro, é o teatro, o palco. Então, nada melhor do que ser atriz nessa tradução”, confessa.

A atriz afirma que o acúmulo de papéis gera o desafio da “não atuação”. “É falar diretamente para o público aqui e agora. Tem o texto, que é todo memorizado, de Clarice, mas como se fosse meu e como se estivesse improvisando, naquela hora. É o mais direto, o mais simples, o mais não atuado possível”, relata.

Neste processo, Laila teve que se esforçar para viver uma personagem que possui uma personalidade absolutamente oposta à sua. “Sou reativa, que é mais colérica, então, pra mim, é trabalhar o meu oposto fazendo a Macabéa, que é tuberculosa, frágil, magra. Ela não é reativa, é muito diferente de mim”, confessa.

A trilha sonora do musical é assinada pelo cantor e compositor Chico César. O diretor André Paes Leme passou para o artista paraibano trechos do livro “A hora da estrela” para serem musicados. As  faixas – cantadas por Laila Garin, Claudia Ventura e Claudio Gabriel – fazem parte da dramaturgia.

“Muitas vezes, os personagens contam coisas que não estão no texto. Às vezes, falam do estado de um personagem, mas a música está absolutamente dentro da dramaturgia, contando a história. Algumas vezes, são letras da Clarice mesmo, outras do Chico”, esclarece Laila.

“A hora da estrela” estreou no Rio de Janeiro, em março de 2020. Por causa da pandemia de COVID-19, a temporada foi suspensa e retomada agora em 2021, de forma híbrida (mesclando on-line e presencial), cumprindo as normas de segurança. As mudanças também surtiram efeito no palco. Os atores ficam durante todo o espetáculo de máscara e inclusive cantam utilizando a proteção.

TEMPORADA EM BH

Antes de chegar a BH, o musical ficou em cartaz no CCBB do Rio e de Brasília. A temporada mineira começa amanhã, às 20h, com sessões on-line e presenciais, em meio a retomada das atividades em espaços culturais de Minas Gerais.

“Adoro Belo Horizonte, é uma cidade muito efervescente culturalmente. Nesse início de retomada (do público em BH), imagino que as pessoas estejam sedentas e, por outro lado, receosas. Está todo mundo com saudade e precisando dessa troca, tanto o público quanto os artistas. Essa é a vantagem de a gente ter também uma temporada on-line para que as pessoas possam ver em segurança, dentro da sua casa”, conclui Laila.

A HORA DA ESTRELA OU O CANTO DE MACABÉA
Estreia nesta quarta (14/07) e segue em temporada até 26 de julho, sempre de quarta a segunda, às 20h. As sessões de 23 de julho contarão com intérprete de libras. Ingressos pelo site eventim.com.br a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Sessões on-line gratuitas nos mesmos dias e horários das presenciais pelo canal do YouTube do Banco do Brasil (www.youtube.com/bancodobrasil) e da BB Seguros (www.youtube.com/bbseguros

* Estagiário sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro


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