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Estado de Minas VACINA PARA TODOS

Designers e coluna Hit lançam camisetas para ajudar artistas de Minas

UsePronta lança linha com estampas criadas para a campanha Vacina para Todos. Dinheiro das vendas vai para trabalhador da cultura prejudicado pela pandemia


06/06/2021 04:00 - atualizado 06/06/2021 09:49

(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)

Nem me lembro do número exato de espetáculos de teatro e dança a que já assisti. Muito antes de pensar em trabalhar neste caderno, nada me escapava na agenda de artes cênicas de BH. Fosse nos “tijolinhos”, nas reportagens ou em anúncios informando sobre as temporadas tão esperadas.

Ainda não morava em Belo Horizonte, e por isso quebro a cabeça para saber como fui parar no Teatro Francisco Nunes, em meados dos anos 1980, para ver “Galileu, Galilei”, com a direção impecável de Pedro Paulo Cava.

Guardo na memória a cena do ator Javert Monteiro no alto de um dos arcos do cenário giratório. Era um momento importante da peça. Três horas de espetáculo, com intervalo, e 24 atores. Imaginem, uma grande produção mineira. Ali descobri a beleza e a mágica do teatro.
Criação de Marcos Guimarães (@Designorama)
Criação de Marcos Guimarães (@Designorama)

De lá pra cá, ir ao teatro se transformou em programa obrigatório. Vi tudo, sem preconceito. De clássicos às peças mais “cabeçudas”, passando por grandes produções e montagens que valiam mais pelo esforço de quem estava ali no palco.

Como esquecer a beleza da cena do abajour lilás no musical “Ela por elas”, estrelado por Marília Pêra? E anos depois, no mesmo Palácio das Artes, a emoção na estreia de “Lecuona”, do Grupo Corpo? Os bailarinos, o cenário, a enorme caixa preta que se transformou, num passe de mágica, naquele momento de extrema delicadeza e poesia...
(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)

“Amor de vampira”, sucesso de Carl Schumacher, eu vi.! “Beijo no asfalto”, de 1996, dirigido por Wilson Oliveira, também. Perdi “Decameron”, de Carlos Rocha, que entrou na história do teatro mineiro com as filas dobrando quarteirão, lá em 1992.
Criação de Gustavo Greco (@grecodesign)
Criação de Gustavo Greco (@grecodesign)

Eu me diverti muitas vezes com Lolô e Vicente em “Acredite, um espírito baixou em mim”. Aqui, o fascínio chegou a outro patamar. Já como repórter deste caderno, deixei de ser, digamos, só espectador. Pude, assim, registrar muitos lançamentos. “O espírito...” foi um deles.

Em 1990, fiz a matéria da estreia da peça. Vinte anos depois, lá estava eu cobrindo a apresentação comemorativa no Sesc Palladium. Vi montagens com alunos do Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado, o Cefar. A garotada com sangue nos olhos para dar tudo pelo personagem.
(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)

Parece que foi ontem, mas o tempo voou. Há mais de um ano, recorro a essas e a tantas outras lembranças em busca de lampejos de alegria nestes dias com “cor de burro fugido”. A pandemia da COVID-19 e a incompetência deste país para lidar contra a peste, mais que fechar teatro, tirar espetáculos de cartaz e adiar montagens prontas para estrear, apagaram sonhos, levando muitos profissionais, mas muitos mesmo, para o lado oposto das alegrias que eles nos ofereceram por tantos anos.
Criação de Luciano Ferreira (@seulu)
Criação de Luciano Ferreira (@seulu)

Como várias categorias castigadas pela crise sanitária, artistas do palco e da lona tentam sobreviver, a duras penas.

Para tentar amenizar o drama de atores, atrizes, bailarinos, bailarinas e famílias circenses que nos deram tantas alegrias e emoções, a Coluna Hit, que assino na página 3 deste caderno, reúne um grupo de artistas para criar uma ação em apoio ao Sated-MG, o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de Minas Gerais.

(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
Criação de Victor Gallupo (@copo.company)
Criação de Victor Gallupo (@copo.company)


A ideia surgiu das criações de nove designers mineiros para a campanha Vacina para Todos, publicada às sextas-feiras na Hit. As imagens foram transformadas em estampas da linha de camisetas assinada pela UsePronta. A marca, de Teresinha Santos e do filho dela, Rodrigo, criou não só os modelos como toda a estrutura de venda on-line (https://www.usepronta.com.br/vacina-para-todos).

A campanha prossegue às sextas. E a primeira leva de camisetas foi estampada com trabalhos de Victor Galuppo (@copo.company), M Vianna (@preta_onca), Mariana Hardy (@hardydesign), Bruno Nunes (@ohcoelho), Gustavo Greco (@grecodesign), Mariana Misk (@a_oeste), Renata Polastri (@estudiobogota), Marcos Guimarães (@designorama) e Luciano Ferreira (@estudiotriciclo).

(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
Criação de Mariana Misk (@a_oeste)
Criação de Mariana Misk (@a_oeste)

Sem marmelada, arroz e feijão

Magdalena Rodrigues, presidente do Sated/MG, está preocupada com o grave problema que a categoria enfrenta na pandemia. “Não sei como atender os pedidos de profissionais cadastrados que nos ligaram querendo saber se haveria cesta básica. Não temos nada até agora”, queixava-se ela, na segunda-feira passada. A angústia a acompanha desde março de 2020, quando foi decretada a pandemia no Brasil.

“Naquele momento, foi acesa a luz vermelha para a categoria. Sabíamos que o caminho não seria nada confortável para muita gente, inclusive para os artistas, especialmente os profissionais do circo, mais vulneráveis”, afirma.

(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
Criação de Matheus de Souza Viana (@preta_onca)
Criação de Matheus de Souza Viana (@preta_onca)


Colega de Magdalena no Sated, Sula Mavrudis, diretora de circo do sindicato, revela que a situação das famílias circenses é de penúria. “Há casos em que prefeituras expulsaram circos das cidades do interior. Um artista com problema sério no coração só conseguiu atendimento hospitalar porque alguém pagou a consulta médica. Sem endereço fixo, ele não conseguiu atendimento público, negado pela prefeitura.”

Outros problemas agravam ainda mais a penúria, como a manutenção das lonas circenses (desmontadas, apodrecem ao relento), das estruturas de ferro que sustentam lonas e até mesmo dos trailers, parados há mais de um ano e necessitando de revisão. “Muitos já 'comeram' os veículos”, diz Sula Mavrudis, referindo-se a famílias circenses que venderam trailers, ferramentas de trabalho para pôr comida na mesa.

(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
Criação de Bruno Nunes (@ohcoelho)
Criação de Bruno Nunes (@ohcoelho)


A doação de cestas básicas é urgente. Porém, para atender circos espalhados pelo estado é preciso não só de logística, mas de boa vontade. Em vários casos, a equipe que trabalha na distribuição de alimentos tenta descobrir quando o veículo da secretaria de saúde municipal vem a Belo Horizonte para que ele possa transportar as doações para a cidade onde os artistas se encontram.

Dos 71 circos mineiros, quatro são fixos e 67 itinerantes. A população estimada de artistas do setor é de quase 1 mil pessoas – 600 delas maiores de 18 anos.

Sula Mavrudis diz que a solução para que o circo não desapareça depois da pandemia é a criação de editais “com valores decentes” para que os artistas possam recuperar o patrimônio de trabalho. Já Magdalena Rodrigues tenta encontrar a resposta para a pergunta “O que será de nós?”, recorrente entre os afiliados do Sated.

(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
(foto: Henrique Gualtieri/Divulgação)
Criação de Renata Polastri (@estudiobogota)
Criação de Renata Polastri (@estudiobogota)


“Neste momento, deve-se discutir seriamente a crise tendo em vista as relações e condições de trabalho dos artistas”, defende a presidente do Sated-MG, destacando questões como seguridade, proteção social e tributação diferenciada.

“Quando dizemos isso, muito interpretam quase como uma fala criminosa, outros acham que somos melhores do que os outros. Mas não é assim. É pela especificidade do nosso trabalho no teatro, no circo e na dança. Se não forem abertas discussões urgentemente, não haverá um bom caminho”, adverte Magdalena Rodrigues.

Fotos: Henrique Gualtieri
Modelos: Lara Chierci e Raphael Gurgel
Maquiagem: Leo Batista


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