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Estado de Minas MÚSICA

No disco 'Terreiro zen', mantras dialogam com congado, umbanda e candomblé

Saberes ancestrais da Índia e da África inspiraram o álbum que Renato Motha, Patrícia Lobato e Maurício Tizumba lançam neste sábado, com live no YouTube


01/05/2021 04:00 - atualizado 01/05/2021 09:08

Renato Motha, Patrícia Lobato e Maurício Tizumba desenvolveram por 20 anos o projeto de 'Terreiro zen'
Renato Motha, Patrícia Lobato e Maurício Tizumba desenvolveram por 20 anos o projeto de "Terreiro zen" (foto: Cláudio Andrade/divulgação)

"São pontos de terreiro em posição de lótus, diálogo entre músicas das comunidades tradicionais e a sonoridade mântrica"

Renato Motha, cantor e compositor


Batuques e mantra se encontram no disco “Terreiro zen”, que Maurício Tizumba, Patrícia Lobato e Renato Motha lançam neste sábado (1º/5), em live transmitida pelo YouTube. Tizumba destaca a importância do projeto musical ecumênico neste momento em que aumenta a violência contra os negros e a perseguição a comunidades ligadas às religiões de matriz africana, com a destruição de seus terreiros.
 
No disco, mantras orientais dialogam com pontos afro-brasileiros. “Nestes tempos, vivemos muita dificuldade de reação. Estamos numa pandemia, com racismo e machismo assolando o mundo. Então, misturamos essa coisa do mantra com cânticos das manifestações de raízes africanas, candomblé, umbanda e congado. É uma forma de resistir, denunciar, buscar um lugar no qual as pessoas possam entender o porquê da raça negra em nosso país”, afirma Tizumba.

O músico destaca a dimensão política de “Terreiro zen”, dizendo que o trio espera contribuir com seu trabalho para “convocar, por meio da música, as forças da natureza em defesa de um Brasil de todas as cores.”

DENÚNCIA 
Tizumba chama a atenção para o assassinato de mulheres no Brasil e a execução de negros por brancos. “Queremos deixar uma denúncia, porém ela não pode ser zen, macia. Precisamos gritar”, enfatiza. “Estamos aqui, vivos na luta, para buscar melhor condição de vida para o povo preto.”

Com oito faixas, o álbum vem acompanhado de e-book com 100 páginas e textos assinados pelo músico e poeta Guilherme Trielli, professor de português e literatura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gravado de fevereiro de 2020 a março de 2021 no home studio de Renato Motha e Patrícia Lobato em Casa Branca, distrito de Brumadinho, o repertório explora vários ritmos – congo de ouro, ijexá, barravento, folia de reis, serra-abaixo, samba e pontos de candomblé e umbanda, entre outros.

O projeto começou há 20 anos. Na época, Patrícia Lobato aprendia a tocar atabaque e tambor mineiro com Tizumba, que ensinava os alunos a dançar, apresentando a eles os ritmos da umbanda e do candomblé. “Patrícia mostrava aquelas canções ao Renato, que as harmonizava lindamente”, relembra o percussionista.

Dali a algum tempo, os três fizeram uma apresentação no espaço cultural Tambor Mineiro, em BH. “Foi o embrião da história. Nasceu a 'Suíte dos santos pretos', os dois passaram a me convidar para participar dos shows de mantras deles”, conta Tizumba.

Pesquisadores da cultura indiana, Patrícia Lobato e Renato Motha se tornaram mestres de ioga, o que influenciou profundamente o trabalho do trio. “Pontos de candomblé, umbanda e congado têm a mesma força, vibram no mesmo nível da coisa da cura”, comenta Tizumba. Apostando nisso, o trio criou canções inspiradas no diálogo de saberes ancestrais da África e do Oriente.

O percussionista mineiro teve de se moldar para poder cantar “zen”, suavemente. “Convivendo com Renato e Patrícia, estou aprendendo a cantar assim, usando a música de outra forma, de maneira mântrica”, diz. “Isso não quer dizer que minha forma mais aguerrida de tocar e cantar não tenha também poder de cura.”

O processo coletivo de composição e de gravação foi também espiritual. “De repente, o disco começou tomar uma cara interessante. Renato e Patrícia têm muitos amigos ligados à ioga e à positividade. Eles têm essa coisa mântrica de buscar saúde na natureza e nas energias do universo, o que inspirou o projeto”, revela Tizumba.

O trabalho contou com a participação do percussionista Abel Borges, do baixista Kiko Mitre e da pintora e cantora Leonora Weissmann. “Ela havia visto uma de nossas lives no ano passado e resolveu desenhar o trio. Quando nos mandou o desenho, dissemos: aí está a capa do disco”, conta o compositor. Estudioso da língua portuguesa, o professor Guilherme Trielli se juntou ao grupo.

Patrícia Lobato conta que vem recebendo relatos elogiosos sobre “Terreiro zen”. “As pessoas dizem sentir uma música curativa, emocionante, que eleva e transforma.”

A cantora destaca o legado africano presente no sangue brasileiro. “É de fundamental importância ressignificarmos a cultura negra como potência de expressão artística, religiosa e cultural”, afirma, defendendo a criação “de um Brasil inclusivo e regenerado” para as futuras gerações.

"Queremos deixar uma denúncia, porém ela não pode ser zen, macia. Precisamos gritar. Estamos aqui, vivos na luta, para buscar melhor condição de vida para o povo preto"

Maurício Tizumba, cantor, instrumentista e compositor


Encruzilhada de cantos

O cantor e compositor Renato Motha afirma que “Terreiro zen” é “encruzilhada de saberes ancestrais”, fruto tanto de pesquisas sobre o cancioneiro afro-brasileiro quanto do kirtan yoga, uma linha de meditação cantada. “São pontos de terreiro em posição de lótus, diálogo entre músicas das comunidades tradicionais e a sonoridade mântrica”, diz.

Motha assina produção musical, arranjos, mixagem e masterização do álbum. Tocou e cantou em todas as faixas ao lado de Patrícia e Tizumba. E também compôs “A festa dos orixás” e “Terreiro zen” em parceria com Guilherme Trielli.

Com Tizumba, autor de “A criação”, Motha adaptou pontos da “Suíte dos santos pretos”. A dupla assina também “Samba pra Xangô”, “Aiorerê” e “Adeus, adeus”. O espanhol Víctor Sakshin participou do disco com a autoral “Mama água”.

Professor de ioga, Motha afirma que sua obra é marcada pela liberdade musical. Há muitos anos ele desenvolve trabalhos com artistas ligados às sonoridades afro-mineiras, como Tizumba, Sérgio Pererê e Titane.

"As pessoas dizem sentir uma música curativa, emocionante, que eleva e transforma"

Patrícia Lobato, cantora

SAGRADO 
A mistura de pontos africanos com mantras indianos se tornou comum em recitais de Renato e Patrícia Lobato. “Na verdade, é tudo mantra, tudo sagrado, tudo ponto. Só a linguagem se diferencia”, diz Renato. “Todo trabalho que fizermos para fortalecer a sensibilidade, assim como a liberdade da cultura e da arte, precisa ser enaltecido. 'Terreiro zen' ganhou vários adeptos justamente por causa disso.”

A live deste sábado funcionará como uma espécie de pré-venda de “Terreiro zen”. Às 20h, o show será transmitido pelo canal de Renato e Patrícia no YouTube. “Vamos colocar um link da plataforma Hotmart para que a pessoa possa baixar o áudio do disco e o e-book”, informa. “Queremos aproveitar o momento para a pré-venda, pois isso é muito importante para o artista, que vem tendo pouca oportunidade de vender o seu produto.”

Renato Motha promete uma live diferente. “Será uma sala aberta com roda de conversa, enquanto o disco será mostrado o tempo todo. Faremos audição comentada, queremos contar com a participação do público”, convida.
(foto: Leonora Weissmann/reprodução )

“TERREIRO ZEN – UM BATUQUE DE MEDITAR”
>> De Maurício Tizumba, Patrícia Lobato e Renato Motha
>> Projeto reúne álbum, com oito faixas, e e-book
>> Live de lançamento neste sábado (1º/5), às 20h, no canal de Patrícia Lobato e Renato Motha no YouTube. 
O disco será lançado em breve nas plataformas digitais.

REPERTÓRIO

“Suíte dos santos pretos”
. Domínio popular. 
Adaptação de Renato Motha e Maurício Tizumba

“A festa dos orixás”
. De Renato Motha

“A criação”
. De Maurício Tizumba

“Mama água”
. De Victor Sakshin

“Samba para Xangô”
. Domínio popular. Adaptação de Renato Motha e Maurício Tizumba

“Terreiro zen”
. De Renato Motha e 
Guilherme Trielli

“Aiorerê”
. Domínio popular. Adaptação de Renato Motha e Maurício Tizumba

“Adeus, adeus”
. Domínio popular. Adaptação de Renato Motha e Maurício Tizumba


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