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Estado de Minas CARREIRA

Peça, livro, filme: a agitada vida do ator Gustavo Vaz na pandemia

Ator aguarda sua estreia como protagonista no cinema; escreveu um romance e prepara um monólogo a respeito da mãe, que morreu quando ele tinha 2 anos


10/03/2021 04:00 - atualizado 10/03/2021 07:29

O ator e o diretor Sérgio Rezende durante as filmagens de 'O jardim secreto de Mariana', no Instituto Inhotim, em 2019(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)
O ator e o diretor Sérgio Rezende durante as filmagens de 'O jardim secreto de Mariana', no Instituto Inhotim, em 2019 (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)
Gustavo Vaz está em todas. Nas telas do cinema (nas capitais brasileiras em que as cadeias exibidoras estão funcionando, diferentemente do que ocorre atualmente no contexto de restrição de serviços em BH), ele é visto em “Depois a louca sou eu”, longa-metragem de Júlia Rezende. No streaming, integra o elenco das séries “Aruanas” (Globoplay) e “Coisa mais linda” (Netflix).

Até o fim do ano, se tudo correr bem, voltará à telona com "O jardim secreto de Mariana", de Sérgio Rezende, pai da diretora de “Depois a louca sou eu”. O longa teve filmagens em Brumadinho, no Instituto de Arte Contemporânea Inhotim, em 2019. 

“Estou sendo acolhido por essa família incrível do cinema e estou muito feliz com isso”, afirma o ator. “Sérgio e Julia carregam uma calma inteligente de trabalhar muito impressionante. Eles sabem o que querem fazer, são muito claros. E, ao mesmo tempo, oferecem uma segurança bonita de ouvir e construir junto com o ator.” 

No filme de Sérgio Rezende, ele contracena com a mineira Andréia Horta. A protagonista de “Depois a louca sou eu” é a também mineira Débora Falabella, com quem o ator teve um relacionamento até o início deste ano.

Com Júlia, Gustavo repete a parceria de “Coisa mais linda”. Com Sérgio, faz seu primeiro protagonista no cinema. Até o momento, o ator assistiu apenas a trechos de "O jardim secreto de Mariana". Mas diz que, de acordo com os elogios de quem já viu o filme pronto, sua curiosidade só aumenta.

“Depois a louca sou eu” foi uma das vítimas do audiovisual na pandemia do novo coronavírus. Previsto para estrear em 2020, o filme só chegou às telas no fim de fevereiro passado. Por acreditar que quase nada na vida é por acaso, Gustavo Vaz achou que o adiamento fez sentido, já que o longa aborda a ansiedade, o modo como as pessoas se relacionam com as angústias da vida urbana e como resistem ao estresse. A hora para falar desse assunto é adequada, avalia o ator.

“O filme acabou ganhando uma relevância, uma importância discursiva  muito maior por estar saindo agora. Acho que é uma possibilidade  para que as pessoas que já passaram por crises como as vividas por Dani (Débora Falabella) e meu personagem (Gilberto)  se reconheçam”. 

A mineira Andreia Horta é a companheira de cena de Gustavo Vaz no longa inédito(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)
A mineira Andreia Horta é a companheira de cena de Gustavo Vaz no longa inédito (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)


''A gente precisa mesmo conquistar e construir coisas muito grandiosas? Ter uma carreira com sucesso estrondoso e ganhar muito dinheiro para a vida ser relevante? Ou podemos encontrar beleza, relevância e importância na vida nas pequenas coisas, no banal, nos encontros que a gente constrói, nos laços que a gente firma?''

Gustavo Vaz, ator e autor do inédito "Como não morrer de uma só vez%u201D


LIVRO

A pandemia  não mudou apenas o lançamento do filme, definido por Gustavo como uma "dramédia''. A vida profissional do ator também sofreu os efeitos do isolamento social. Em casa, ele retirou da gaveta o projeto do  livro "Como não morrer de uma só vez”, oficializando, como ele diz, sua grande paixão pela escrita.

Ao contar a história de um homem que, depois de morto, pede uma segunda chance para tentar entender se sua vida foi importante, Gustavo propõe uma reflexão em torno do que realmente tem valor em nossas vidas.
 
“A gente precisa mesmo conquistar e construir coisas muito grandiosas? Ter uma carreira com sucesso estrondoso e ganhar muito dinheiro para a vida ser relevante? Ou podemos encontrar beleza, relevância e importância na vida nas pequenas coisas, no banal, nos encontros que a gente constrói, nos laços que a gente firma?”, questiona. 

Ele diz que o livro é ficcional, mas observa que traços biográficos, de uma certa forma, são inevitáveis. “Buscamos nas nossas experiências de vida algo que contribua para deixar o trabalho honesto. Essas perguntas existenciais, essas perguntas sobre a vida são coisas que me acompanham desde muito tempo.” 

Esse tipo de questionamento faz parte também dos trabalhos da ExCompanhia de Teatro, da qual Gustavo é diretor, dramaturgo e cofundador.

Apesar de estar em busca de respostas, o ator considera que as perguntas são sempre mais importantes. “A pergunta faz a gente caminhar para a frente. A resposta estagna e deixa a gente no mesmo lugar.  Às vezes, tenho algumas respostas; e, às vezes, eu as perco e tenho que fazer de novo as perguntas. Acho que é uma dialética, um processo que não acaba até encontrarmos algo que tenha sentido. E aí logo depois a gente perde. A graça está na busca por essa coisa toda.”

Gustavo também prepara pesquisas para o monólogo “A voz de Yara”,  uma homenagem à memória de sua mãe, que morreu quando ele tinha apenas 2 anos. O ator tem pouquíssimas lembranças dela, como fotos e memórias do que lhe contavam a respeito de sua mãe. Não há nenhum registro em vídeo ou áudio. A ideia é montar a peça no fim deste ano, se as condições sanitárias permitirem.  

''A pergunta faz a gente caminhar para a frente. A resposta estagna e deixa a gente no mesmo lugar.  Às vezes, tenho algumas respostas; e, às vezes, eu as perco e tenho que fazer de novo as perguntas. Acho que é uma dialética, um processo que não acaba até encontrarmos algo que tenha sentido. E aí logo depois a gente perde. A graça está na busca por essa coisa toda''

Gustavo Vaz, ator e autor do inédito "Como não morrer de uma só vez%u201D


FAMÍLIA

O gosto pelo teatro e a literatura vem da mãe e do avô, Nelson Vaz, nome presente na cena carioca entre os anos 1940 e 1960 com a companhia Os Comediantes. “Minha mãe quis ser atriz, mas aí eu não posso te contar, senão vou te dar um spoiler (da peça)”, despista, com humor. 

O avô tinha o hábito de escrever. Deixou dois ou três livros recheados de pesquisa sobre o idioma português, algo que lhe encantava. No acervo, fotos, cartas trocadas com atores e atrizes da época, que, segundo o neto, são raridades. 

“Ele tinha um diário onde anotava coisas. E aí tinha uma frase que era maravilhosa: ‘Quando eu escrevo, só eu e Deus sabemos o que está escrito. Depois de 15 minutos, só Deus sabe’, porque a letra dele era muito difícil de ler. Ele é um personagem interessante, com a sua complexidade, que eu talvez também inclua nesse monólogo.” 

Para 2022, Gustavo Vaz planeja a comemoração dos 10 anos da Ex-Companhia de Teatro. Ele pretende celebrar a data remontando obras do repertório do grupo, encenando novos projetos e promovendo workshops de pesquisa teatral. 

Com sede em São Paulo, o grupo tem no trabalho transmídia uma de suas características e surgiu a partir de encontro de Gustavo, que vinha da Kompanhia do Centro da Terra, e Bernardo Galegale. “Tínhamos o ambiente propício, onde havia uma discussão sobre as potencialidades do teatro e da experiência ao vivo. A partir dali, acho que a gente foi contaminado por isso. Começamos a nos perguntar como seria possível fazer teatro, ampliar as possibilidades de experiência para o público contemporâneo.”

O primeiro trabalho, "EU – Negociando sentidos", foi uma experiência de 30 dias consecutivos reunindo 25 pessoas. O público adicionava três personagens no Facebook, conversava com eles durante algumas semanas e depois todos – atores e público – participavam de três encontros presenciais em uma casa de São Paulo.

Havia também encontros individuais entre o personagem e alguém do público, que se reuniam para tomar um café e falar sobre aspectos da dramaturgia. “E tudo era dramaturgia, ou seja, tudo era predeterminado. Isso em 2012, hein, não foi agora, não. Parece projeto feito on-line para a pandemia, mas não era.”

O ator conta que havia uma discussão em torno dos limites entre realidade e ficção na época, entre criação das nossas identidades e do nosso eu, do nosso selfie na rede social, na internet. “Fomos com esse projeto para a Alemanha, fizemos uma residência lá e o apresentamos com outra dramaturgia. A partir dali, esse projeto ditou muito da nossa pesquisa e até, de certa forma, da radicalidade das propostas do grupo”, comenta


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