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Saiba quem é Gustavo Tubarão, o mineiro 'raiz' da internet

De botina e chapéu, digital influencer conquistou 6 milhões de curtidas no Tik Tok com causos da roça e orgulho de seu jeito caipira de ser. Vídeos o ajudaram a superar a depressão


23/11/2020 04:00 - atualizado 23/11/2020 09:31

Atleticano desde os 8 anos, Gustavo Tubarão diz que o Mineirão, %u201Csalão de festas do Galo%u201D, é o seu lugar preferido em BH(foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A. PRESS)
Atleticano desde os 8 anos, Gustavo Tubarão diz que o Mineirão, %u201Csalão de festas do Galo%u201D, é o seu lugar preferido em BH (foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A. PRESS)
Mineiridade enraizada na simplicidade. É com esse conceito que um jovem de 21 anos estourou na internet. De botas, chapéu e sotaque caipira, Gustavo Almeida Freire – o Tubarão, como é conhecido – salvou a quarentena de milhares de fãs nas redes sociais, que acompanham vídeos gravados diretamente da roça em Cana Verde, no Centro-Oeste de Minas.

No Tik Tok, Gustavo Tubarão coleciona mais de 6 milhões de curtidas. No Instagram, acumula mais de meio milhão de seguidores. Conseguiu tal proeza resgatando o “mineiro raiz” com o seu jeito natural – e muito engraçado – de ser.

No primeiro diálogo, a resposta para “Como vai você?” é o divertido “Bão. E ocê, uai?” O “dialeto” sincero de quem vem de uma cidade interiorana de 5 mil habitantes arranca risadas, garantindo a identificação do público com o “mineirês” do digital influencer.

“Obviamente, ninguém vai saber o que é Cana Verde. Então, tem que falar sempre que é perto de Lavras, de Varginha – a cidade do  ET, é bom ressaltar”, explica Gustavo, que também criou o bordão “ram tchê tchê tchê”.

Embora o rapaz tenha se mudado para Belo Horizonte em 2014 por causa do emprego do pai, ele nunca cortou a ligação com Cana Verde. Sempre visitou os parentes durante as férias e feriados. Com o isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, ele voltou de vez para a roça. Hoje, mora com seus bichos e uma Pampa, que também ficaram famosos na internet.
 
Sem muito apego pela capital, Gustavo Tubarão lista os três lugares de que mais gosta em Belo Horizonte: Mineirão, Arena Independência e a tradicional lanchonete Rei do Pastel.

O mais especial é o estádio da Pampulha, local escolhido por ele para conversar com o Estado de Minas. Sentindo-se em casa, o digital influencer falou sobre sua trajetória e o amor pela vida caipira, revelando como transformou o bullying, a depressão e a síndrome do pânico em superação.

"Gosto demais de Cana Verde. Voltava todo fim de semana para lá e recuperava as energias, sentia o cheirinho da bosta de vaca. É bão"


Por que o Mineirão é o lugar com o qual você mais se identifica em BH?
Em 2008, meu pai me trouxe aqui pela primeira vez. Nem sabia o que era futebol, na verdade, e ele me colocou na torcida do Galo. Tinha 8 anos e virei atleticano depois disso. Gostei demais da conta. Em 2014, quando mudei pra cá... Pensa: sair de uma roça de 5 mil habitantes e mudar para uma cidade gigante. Isso me deu depressão. O Galo, o Mineirão, o futebol em geral me ajudaram a sair da depres- são. O Independência também. Mas escolhi o Mineirão porque é o salão de festas do Galo, né?

O que prende você à roça é a simplicidade?
Sim. Sempre gostei de roça, a vida inteira. Pelo fato de ter mudado pra cá, comecei a ter vergonha de usar botina, chapéu. O pessoal zoava meu sotaque. Sofri muito bullying aqui em BH.

Onde você cursou o ensino básico?
Sempre gostei de escola pública, apesar do meu pai ter condição de pagar particular. O povo de escola particular é muito metido, não gosto de povo metido. Sempre fiquei indo e voltando de escola em escola.

"O Galo, o Mineirão, o futebol em geral me ajudaram a sair da depressão (%u2026) Gravar vídeo, pra mim, é uma terapia que virou trabalho"


Você tem orgulho de ser mineiro?
Tenho demais da conta, uai. Gosto da Minas “raizão” porque o povo daqui é muito humilde. O mineiro que eu gosto é o da humildade.

Do que você mais gosta em Cana Verde?
Ir pra roça com a minha Pampa e cuidar dos meus galos, meus bichos lá.

Você sempre faz vídeos enaltecendo sua Pampa. Qual é a história desse carro?
Não tem história (gargalhadas). Meu pai comprou uma Pampa pra ir pra roça, um carro muito velho, e eu peguei amor. Porque também ele não teve condição de comprar uma Hilux, né? No começo, também tinha vergonha de falar que tinha uma Pampa, aí usei isso a meu favor. Comecei a gostar e tocar o foda-se.

"Sempre gostei de roça, a vida inteira. Pelo fato de ter mudado pra cá (BH), comecei a ter vergonha de usar botina, chapéu"


O que o impulsionou a fazer vídeos e publicá-los na internet?
Sempre tive muita vergonha, mas sempre quis gravar vídeo. Em 2017, perdi um amigo e entrei em depressão. Eu precisava inovar, fazer o que tinha vontade, porque vi que a vida é um sopro. Naquela época, não tinha ninguém me apoiando. Gravei e deu certo, graças a Deus.

Você imaginava todo esse sucesso?
Faz cinco meses que deu certo, foi no início da quarentena. Comecei no YouTube. Quando completei dois anos, hackearam meu canal. Sempre tive vergonha de postar no Instagram, porque tinha muitos familiares, mas falei que, infelizmente, teria que postar lá. Isso foi em outubro do ano passado, eu tinha 2 mil seguidores.

O que a família pensa agora de sua nova carreira?
Antigamente, todo mundo criticava, né? Primo já chegou a falar que eu ia passar fome. Sou diferente. Minha irmã faz medicina na federal, a outra é advogada e mora fora do país. O jacu aqui, por influência do pai – “ah, você tem que fazer direito porque sua família inteira é de advogados” –, chegou a fazer, mas tranquei no terceiro período. Foi a coisa mais difícil: falar que ia trancar direito para fazer tea- tro. Fiz um ano (de teatro) e depois tranquei também, porque não gosto muito de palco, mas sei que peguei a experiência de que precisava.

Você tem intenção de morar definitivamente em Belo Horizonte?
Não tenho intenção de morar. Tenho vontade de comprar um rancho aqui perto, mexer com gado, esses trem. É porque gosto demais de Cana Verde. Voltava todo fim de semana pra lá e recuperava as energias, sentia o cheirinho da bosta de vaca. É bão.

"Primo já chegou a falar que eu ia passar fome. Sou o diferente. Minha irmã faz medicina na Federal, a outra é advogada e mora fora do país"


Em redes como o Tik Tok você também é conhecido como “agroboy”. Como lida com esse assédio?
Não vou mentir. É bão, eu gosto. Já tive namorada em Campo Belo, dos 13 aos 15 anos, depois nunca mais. Não me relaciono com quem não sei a índole. Hoje em dia, recebo muito nude. Só que não pretendo namorar tão cedo, sou muito focado nos meus trem. Olha, eu prefiro ficar solteirão mesmo.

Quais são seus planos para o futuro?
Sempre gosto de ajudar o próximo. Quando batia a síndrome do pânico, em 2017, eu queria – e quero até hoje – ajudar pessoas que também sofrem com isso. Gravar vídeo, pra mim, é uma terapia que virou trabalho. Muita gente manda mensagem falando que ajudei o dia, que passava por crise de ansiedade. Não posto só coisas engraçadas, falo de pânico e depressão. Vejo que, falando isso, ajudo muita gente. Se ficar rico, pretendo criar alguma coisa de psicologia de graça para as pessoas.


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