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Estado de Minas MÚSICA

Singles ganham 'simpatia' de artistas, que apostam no novo formato

Com a popularização das plataformas de streaming, álbuns perdem espaço para músicas individuais


16/11/2020 04:00 - atualizado 16/11/2020 08:20

Em seu projeto solo, Sérgio Britto, do Titãs, quer lançar duas canções a cada três meses, até completar um álbum de estúdio(foto: PABLO PORCIUNCULA BRUNE/afp)
Em seu projeto solo, Sérgio Britto, do Titãs, quer lançar duas canções a cada três meses, até completar um álbum de estúdio (foto: PABLO PORCIUNCULA BRUNE/afp)
Das várias mudanças provocadas pelo surgimento e popularização das plataformas de streaming de música, uma das principais é o hábito de consumo. O catálogo desses serviços é abastecido diariamente com lançamentos de todo tipo, o que enfraquece a chegada de álbuns cheios e fortalece a presença das músicas individualmente, que ganham destaque em playlists temáticas.

Pensando nisso, artistas veteranos têm repensado a maneira como seus trabalhos chegam ao digital, dividindo-os em singles para, no final, lançar o conjunto.

Esse é o caso do novo projeto solo de Sérgio Britto. Integrante da banda Titãs, ele planeja lançar duas canções a cada três meses até completar um total de 12 músicas, que formam um disco de estúdio. A primeira amostra, lançada em 6 de novembro, é tratada pelo músico como ''compacto'' e conta com as músicas Epifania  (no lado A) e Tradição (no lado B).

''Quando começamos a pensar a chegada desse trabalho, partimos de uma estratégia que funciona melhor para a maneira como as pessoas estão consumindo músicas hoje. Com o lançamento aos poucos, a gente consegue atrair mais atenção para cada música e não deixar que ela desapareça na tracklist do disco'', explica o músico.

Para não liberar somente uma música por vez, a decisão tomada foi lançá-las aos pares, resgatando uma característica própria dos vinis. ''No lado A, que é a primeira faixa, está uma música mais acessível. Na segunda, ou o lado B, pude trabalhar uma música mais conceitual'', conta Britto.

"Com o lançamento aos poucos, a gente consegue atrair mais atenção para cada música e não deixar que ela desapareça na tracklist do disco'"

Sérgio Britto, músico


É por isso que Epifania, produzida por Sérgio Fouad, traz uma pegada mais pop. Segundo o músico, ela é sobre o momento da descoberta, quando se encontra a solução para um problema. A canção nasceu durante a quarentena, período no qual ele não paralisou a produção do disco, mas a transferiu para dentro de casa.

Epifania ganhou clipe gravado na pandemia, no litoral norte de São Paulo. “Tive a ideia de gravar com o que era possível e parti do princípio de fazer alusão a dois versos carregados de significados na música: ‘Não se esconda mais em meio ao lixo que o mar traz’ e ‘Não se esconda mais na sombra que seu muro faz’’’, detalha Britto.

A primeira parte é toda gravada na praia e a segunda em frente a muros. ''As pessoas que aparecem no clipe são meus filhos, quem filma sou eu e meu filho, José Britto'', completa. A edição ficou a cargo de Edu Burger.

Já Tradição, produzida por Guilherme Gê, não é exatamente inédita. A música foi gravada por Elza Soares no disco Planeta fome (2019) e, antes disso, quase entrou no repertório de Nheengatu (2014), 14º álbum do Titãs. ''Como ela não se encaixou no disco, deixei guardada e resolvi retomá-la agora. Ela tem muito a ver com meu trabalho solo e o arranjo final me agradou muito'', diz o músico.

Desde A minha cara (2000), Sérgio Britto lançou outros três discos solo: Eu sou 300 (2006), Sp 55 (2010) e Purabossanova (2013). Neste último trabalho, o músico gravou com Rita Lee, já aposentada dos palcos. Ao Estado de Minas, ele revelou que a dobradinha irá se repetir no quinto álbum, só não soube dizer a que altura a música com a roqueira virá a público.

“Sou imensamente fã dela e Rita Lee sempre demonstrou muito carinho pelo trabalho dos Titãs. No meu disco anterior, convidei e ela topou. Dessa vez, ela me mandou uma letra para musicar, então é uma coisa tão especial quanto'', comemora o músico.
Questionado sobre o futuro dos álbuns completos, Britto analisa que os singles não anulam a existência do formato. ''Tanto que estou lançando os singles, mas eles formam um disco completo. Acredito que existam pessoas que consomem música de jeitos distintos. Existem aquelas que só ouvem o que o aplicativo sugere, e esse tipo de audição, talvez a mais comum, não favorece a existência dos álbuns. Mas isso não significa que eles deixarão de existir, na minha opinião.''
Marcos Preto é produtor de Gal Gosta: disco celebrará os 75 anos da cantora, mas, antes do álbum completo, músicas já estão sendo lançadas (foto: ARQUIVO PESSOAL)
Marcos Preto é produtor de Gal Gosta: disco celebrará os 75 anos da cantora, mas, antes do álbum completo, músicas já estão sendo lançadas (foto: ARQUIVO PESSOAL)

"O álbum traz conceito. E quebrá-lo em singles é uma maneira de apresentá-lo, tanto para uma geração mais nova quanto para quem acompanha o artista há mais tempo. Afinal, é música, só muda o formato"

Marcus Preto, produtor


ATIVOS E PASSIVOS 

O produtor Marcus Preto concorda com essa afirmação. Para ele, nas plataformas de streaming existem os consumidores ''ativos'' e os ''passivos''. ''Os primeiros são aqueles que vão atrás dos discos e ouvem o trabalho completo. Já os segundos estão à mercê do que está fazendo sucesso e tocando em todos os lugares. A música chega até eles, não são eles que procuram as músicas'', explica.

Desde 2013, ele trabalha lado a lado de Gal Costa, tendo assinado a direção artística dos dois últimos discos da artista, Estratosférica (2015) e A pele do futuro (2018). Agora, o produtor está à frente do álbum em comemoração aos 75 anos da cantora. As músicas também serão lançadas aos pares e, no final de janeiro do ano que vem, formarão um disco cheio – a ser lançado em LP e CD.

O repertório do projeto é composto por 10 regravações de sucessos que marcaram os 55 anos de carreira da artista. Transformadas em duetos, as canções unem a voz de Gal às de um elenco masculino que inclui Tim Bernardes, Criolo, Silva, Rubel e Seu Jorge, além do cantor português António Zambujo e do artista uruguaio Jorge Drexler.

''Não é de hoje que a Gal vem se aproximando dos cantores de uma nova geração. No início do ano, ela se apresentou com Rubel na Fundição Progresso, no Rio, e um dos últimos shows que fez, antes da quarentena, foi em Salvador, que teve a presença do Silva'', relembra Marcus Preto.

A ideia do álbum surgiu no começo do segundo semestre, em meio à qua- rentena. Ao telefonar para o produtor, Gal comentou sentir que os jovens estavam ouvindo mais a música de sua geração do que antes da pandemia. Preto confirmou a impressão com dados: o consumo de música ''de catálogo'' de fato aumentou sensivelmente durante esse período, provavelmente pelo conforto que os clássicos proporcionam.

A isso soma-se o fato de que não havia possibilidade de produzir um álbum de inéditas. ''Isso envolve muitas pessoas dentro de um estúdio e não é possível dentro do contexto que estamos vivendo. De qualquer forma, seria irresponsável'', afirma.

Outra questão levantada é a presença unicamente masculina. Por que não convidar mulheres para duetos com Gal Costa? ''Quando pensamos a lista de convidados, colocamos os mais próximos da Gal. É óbvio que chegamos a pensar em cantoras incríveis, mas Gal achou melhor reservar um disco só para elas, que será feito no futuro'', revela o produtor.

COMPARTILHAMENTO 

Os dois primeiros singles chegaram às plataformas digitais na última sexta-feira (13). São eles Avarandado, com Rodrigo Amarante, e Nenhuma dor, com Zeca Veloso.
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'Outra justificativa para lançar as músicas separadamente é para ganhar destaque na página dos artistas. Se lançássemos elas num disco, não apareceriam na página dos convidados. Como singles, aparecerão na página de Gal e na página do Amarante e do Zeca, por exemplo. Isso é bom tanto para a Gal quanto para eles'', analisa.

Ainda que os singles estejam cada vez mais populares, Marcus Preto não descarta a importância dos álbuns cheios. ''Não é preciosismo. Um álbum conta uma história e só com ele é possível pensar um show artisticamente. Uma artista como Anitta, por exemplo, está completamente dentro da lógica dos singles. É por isso que as apresentações dela são sempre dentro de uma festa, tendo ela como atração principal. O álbum traz conceito. E quebrá-lo em singles é uma maneira de apresentá-lo, tanto para uma geração mais nova quanto para quem acompanha o artista há mais tempo. Afinal, é música, só muda o formato.''

Billie Eilish aposta e é adepta do “conta-gotas”

Cantora e compositora norte-americana, Billie Eilish tem investido em singles inéditos em 2020(foto: AFP/Tolga AKMEN)
Cantora e compositora norte-americana, Billie Eilish tem investido em singles inéditos em 2020 (foto: AFP/Tolga AKMEN)

Após colher os louros de When we all fall asleep, where do we go? (2019) – álbum com o qual ganhou cinco prêmios Grammy –, Billie Eilish tem investido em uma série de singles inéditos. No final de 2019, a cantora e compositora norte-americana lançou Everything I wanted, gravação minimalista de pegada sentimental. Poucos meses depois, já em 2020, foi a vez de No time to die, música produzida para a trilha sonora do novo filme da franquia 007, o ainda inédito Sem tempo para morrer. E em julho passado, liberou My future, canção que fala sobre crescimento pessoal e flerta com a soul music.

Na última quinta-feira (12), Billie entregou ao público outra gravação inédita: Therefore I am. Diferentemente dos singles anteriores, a nova faixa se assemelha aos primeiros trabalhos da cantora. Produzida por Finneas O'Connell, irmão e parceiro musical da jovem artista, a música conta com batidas distorcidas, sintetizadores e vozes ora sussurradas, ora cantadas. O lançamento chegou acompanhado de um clipe dirigido pela própria artista. Nele, Billie Eilish se diverte sozinha em um shopping. 


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