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Estado de Minas

Denise Fraga vive a vida dos outros na peça 'Eu de você', que vem a BH

No monólogo que estreia nesta sexta (6), atriz interpreta 25 relatos pessoais de cidadãos comuns, entremeados por trechos de música, literatura e poesia


postado em 05/03/2020 04:00 / atualizado em 04/03/2020 18:49

Atriz fica em cena durante 80 minutos e interage com a plateia (foto: Cacá Bernardes/Divulgação)
Atriz fica em cena durante 80 minutos e interage com a plateia (foto: Cacá Bernardes/Divulgação)
Em tempos bem menos conectados que os atuais, no início dos anos 2000, quando tudo era menos compartilhável, Denise Fraga fez sucesso com o humorístico Retrato falado. No programa exibido semanalmente pela revista dominical Fantástico (Globo), ela interpretava histórias pitorescas vividas pelo público, que as enviava ao programa.

Quase 20 anos depois, a atriz tem as narrativas do dia a dia novamente como matéria-prima de um trabalho seu, mas desta vez no palco e com uma perspectiva mais profunda. O monólogo Eu de você, com o qual ela está em turnê pelo país desde o ano passado, chega nesta sexta-feira (6) a Belo Horizonte para uma temporada que irá até o próximo dia 22, no CCBB, na Praça da Liberdade. 

Apesar da inevitável lembrança do quadro televisivo, que rendeu até um livro na época, publicado pela Editora Globo, a atriz afirma que são propostas diferentes, embora tenham o mesmo ponto de partida. Segundo Denise, Eu de você não consiste em histórias completas, com começo, meio e fim, contadas separadamente por seu caráter cômico ou desfecho inusitado.

“Nossa real proposta é falar sobre se colocar no lugar do outro e sobre ouvir o outro”, diz ela, que, em 80 minutos em cena entrelaça com trechos de literatura, música e poesia os 25 relatos selecionados entre 300 que recebeu de pessoas comuns narrando as próprias histórias.

“Como atriz, me colocar no lugar do outro é o meu ofício. O que queremos é propor isso a quem assiste. A palavra empatia já está até desgastada, mas, diante de um país tão dividido, com discursos acirrados sobre diferenças, o que nos une? O que arrebata todos nós? O que temos em comum?”, questiona a atriz.

Em vez de “uma história engraçada de alguém que perdeu a mala no aeroporto, contamos sobre vulnerabilidades”, afirma Denise, que teve colaboração de Cassia Conti, André Dib, Fernanda Maia e Rafael Gomes na concepção da dramaturgia, além do marido, Luiz Villaça, que dirige o espetáculo.

''Como atriz, me colocar no lugar do outro é o meu ofício. O que queremos é propor isso a quem assiste. A palavra empatia já está até desgastada, mas, diante de um país tão dividido, com discursos acirrados sobre diferenças, o que nos une? O que arrebata todos nós? O que temos em comum?''

Denise Fraga, atriz



As histórias em cena, enviadas à equipe por texto, vídeo ou mensagem de voz depois de uma campanha publicada em um jornal e nas redes sociais, incluem narrativas extremamente cotidianas. Uma professora sobre um de seus alunos, um psicanalista sobre uma paciente ou o caso de um amor abusivo, sem que haja um tema central em comum.

“Notamos nelas uma amostra de uma melancolia que assola o país. Pessoas falando de suas solidões, como quem pede para ser ouvido”, avalia a atriz. Apesar desse viés, a montagem se aproxima da comédia, gênero que consagrou Denise Fraga.

“Nossa grande bandeira foi falar com leveza do terrível, da tragédia cotidiana. Essa é minha grande bandeira sempre, de procurar esse lugar onde seja possível chorar e rir ao mesmo tempo”, afirma ela, que passou a enxergar a peça como “um laboratório antropológico”. “Sempre falei que uma pessoa vive melhor quando acompanhada da arte. Quem lê Dostoiévski ou Fernando Pessoa, no mínimo, sofre mais bonito, se tem a obra deles para se agarrar. Essa é a grande função da arte, fazer você se sentir pertencente a um todo, entender que não está sozinho e se reconhecer como pertencente a essa coisa chamada humanidade. É isso que tentamos fazer ao trançar pequenas histórias com a música, poesia e literatura. O que a Cláudia pensava quando o Chico Buarque escreveu tal música? E quem estava chorando pelo amor perdido enquanto Clarice Lispector ganhava um prêmio?”

Segundo ela, houve um cuidado com a montagem para “não virar um drama, nem uma comédia, que não é”. A chave do espetáculo é “conseguir ver o ‘extra’ no ordinário e criar algo extraordinário”. “Atualmente, parece repetitivo quando fazemos essa defesa pessoal da atividade artística, em função de como as coisas estão no Brasil, mas, quando me perguntam, é o que respondo: quem vive perto da arte tem mais instrumentos para compreender melhor a imperfeição da vida, justamente porque pegamos uma história cotidiana e a devolvemos iluminada pela arte”, diz.

''Nossa grande bandeira foi falar com leveza do terrível, da tragédia cotidiana. Essa é minha grande bandeira sempre, de procurar esse lugar onde seja possível chorar e rir ao mesmo tempo''

Denise Fraga, atriz

 
Denise Fraga começa e termina a peça no meio da plateia e tem outros momentos de interação com o público ao longo do espetáculo. Excepcionalmente neste domingo, dia 8 de março, data internacionalmente dedicada às mulheres, haverá um bate-papo entre a atriz e o público antes da sessão.

Embora esse tipo de conversa seja comum na turnê, desta vez terá a ver com a temática da data. Sobre isso, ela avisa que será também “um momento para tratar dessa necessidade de aumentar nosso grau de escuta sobre o outro”. O encontro será às 15h, no CCBB.


Eu de você
Monólogo com Denise Fraga. Desta sexta (6) a 16/3 e de 20 a 22/3, de sexta a segunda, sempre às 20h, no CCBB Belo Horizonte – Teatro I (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria local e no site Eventim. Classificação indicativa: 12 anos. Mais informações: (31) 3431-9400.


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