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Viúva de Antonio Gades comenta relação do coreógrafo com o Brasil

Eugenia Eiriz veio ao país com a turnê de 'Carmen', que termina neste fim de semana, com duas apresentações em BH. Ingressos estão esgotados


postado em 12/04/2019 05:07

A turnê da Compañía Antonio Gades pelo país termina em BH, depois de passar pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. Ingressos estão esgotados (foto: Javier del Real/Divulgação)
A turnê da Compañía Antonio Gades pelo país termina em BH, depois de passar pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. Ingressos estão esgotados (foto: Javier del Real/Divulgação)


Quando levou Carmen ao Festival de Cannes, em 1983, Carlos Saura recebeu os prêmios de melhor contribuição artística e realização técnica. Com a história de uma companhia de flamenco que ensaiava uma encenação da Carmen de Prosper Mérimée, Saura fez mais do que um filme sobre os bastidores de uma criação artística – ele provou que sua câmera podia dançar e também que o modo como Antonio Gades compreendia e executava o flamenco correspondia a um verbete único no dicionário da dança.

O sucesso do filme contribuiu para expandir mundialmente o nome de Antonio Gades como sinônimo de flamenco. Essa marca não perdeu força, mesmo com a morte do coreógrafo, em 2004, aos 68 anos, vítima de câncer. É a versão para o palco de Carmen que a Compañía Antonio Gades traz a Belo Horizonte neste fim de semana, em duas apresentações no Sesc Palladium, nesta sexta (12) e sábado (13), com ingressos esgotados.
Eugenia Eiriz, viúva de Gades e diretora-geral da fundação que leva seu nome, e Stella Arauzo, diretora artística da Compañía, acompanham o elenco neste giro pelo Brasil, que incluiu apresentações no Rio de Janeiro, em São Paulo, Porto Alegre e Curitiba, antes de chegar à capital mineira, seu ponto final.

Na entrevista a seguir, Eugenia Eiriz fala sobre a “simplicidade assombrosa” dessa montagem e de como o despojamento de recursos foi a solução criativa de Antonio Gades para levar a sua arte a “todos os teatros do mundo, dos mais humildes aos mais suntuosos”.

Num contexto de emergência de um novo feminismo, ela comenta sobre a recepção de uma obra cuja história gira em torno de um feminicídio e deixa para Stella Arauzo a avaliação sobre como a influência da street dance mudou o corpo e a habilidade dos bailarinos.

Evitando um comentário direto sobre o contexto social e político brasileiro, Eugenia reitera que a Compañía Antonio Gades, cujo fundador se alinhava à esquerda no espectro político, está disposta a continuar trazendo ao Brasil “essa mensagem de amor à liberdade e ao ser humano que é a dança” do coreógrafo.


Como você faz para assegurar que a Compañía Antonio Gades continue levando ao público a visão artística de Gades, mesmo sem sua presença física? Ou seja, acho que a pergunta é: como a Compañía consegue manter a alma de Antonio Gades no palco?.

É claro que se trata de um trabalho conjunto de profissionais que, em maior ou menor medida, tiveram contato com Antonio Gades diretamente ou por meio do nosso trabalho. A presença de Stella Arauzo na transmissão artística aos bailarinos; a filosofia da companhia, que buscamos manter desde a produção; um diretor técnico que traz em si mesmo todas as formas de compreender o palco e um patronato que vigia a realização dos objetivos da fundação. Gades não está mais fisicamente, e isso é insubstituível, mas seu trabalho como coreógrafo e diretor teatral foi imenso. Eu diria que é uma referência e continua moderno, embora tenha se tornado um clássico do flamenco.

Sem dúvida, Carmen é um clássico. Um clássico sobre o assassinato de uma mulher por um homem. No momento em que uma nova onda feminista, diferente daquela que se levantou nos anos 1960, se espalha pelo Brasil, pela Espanha e por todas as partes do Ocidente de que se tem notícia, você acha que as pessoas terão uma reação diferente a essa história?

O mundo que (a obra) reflete é bem terrível – Carmen apunhala Manolita numa briga entre mulheres, Don José mata o marido de Carmen depois de um carteado e termina matando Carmen. Esta nossa versão consegue fazer com que o espectador aceite tanto crime porque ela deixa entrever em várias cenas que, na verdade, se trata de uma companhia flamenca que está ensaiando um espetáculo, como no filme de Gades e Saura. Mas sempre digo que Carmen não daria a menor chance a Don José. Ela tem orgulho de sua classe, de sua liberdade e de sua paixão pela vida, que exerce sem se esconder. Por isso ela é uma referência para milhões de mulheres e homens no mundo todo. Don José mata Carmen traiçoeiramente. Se ele tivesse se revelado em algum momento, ela teria rapidamente se livrado dele.

O que os anima a voltar ao Brasil? Estrangeiros que conhecem o país há décadas dizem não reconhecer mais o Brasil nesta nação beligerante e convulsionada. Qual é a sua opinião?


Para Antonio Gades, o Brasil era uma referência musical e artística. Ele tinha grandes amigos fraternais com quem ainda hoje nos encontramos, como a pianista e produtora Myrian Dauelsberg (fundadora da Dell’Arte, que traz essa turnê ao Brasil). Uma das últimas viagens de Gades foi ao Brasil. Consciente de que a morte estava próxima (com o avanço do câncer), fez sua última travessia em seu veleiro (Luar 040) a Cuba (com oito pontos de parada previstos na travessia do Atlântico), cinco meses antes de morrer (partiu da Espanha em novembro de 2003). Sempre que nos convidarem, continuaremos vindo com essa mensagem de amor à liberdade e ao ser humano que é a dança de Antonio Gades.

Como é a encenação desta versão de Carmen e o que considera nela o mais bonito e original?

A encenação é de uma simplicidade que assombra. Formam-se várias cenografias diferentes com os elementos presentes numa aula de ensaio de um baile flamenco – cadeiras, mesas e espelhos. E são sabiamente combinados e rodeados por uma luz. Nesta turnê nos acompanha o iluminador-fetiche de Antonio Gades, Dominique You, que dá a chave de cada momento. Gades dizia: ‘Eu comecei a criar porque não tínhamos dinheiro para pagar coreografias de terceiros nem para grandes montagens’. Ele quis criar o mundo mais simples possível para poder sair em turnê por todos os teatros do mundo, dos mais humildes aos mais suntuosos. E assim continuamos fazendo, com orgulho e com a sua assombrosa simplicidade. A força está na coreografia, na clareza da história e na magistral mistura da música erudita com a música popular: o flamenco.

Nas comemorações dos 40 anos do Grupo Corpo, uma das observações que se fizeram é que, com o passar dessas décadas, pode-se notar uma mudança no corpo dos bailarinos, talvez proporcionada pelo contato mais próximo das novas gerações com os movimentos do funk e da street dance, que se tornaram muito populares. Vocês têm uma experiência parecida? Como enxerga hoje a relação dos bailarinos com o flamenco? Algo substancial mudou com o tempo?

(Responde Stella Arauzo, diretora artística da Compañía Antonio Gades). No caso do flamenco, não há tanto contato com a street dance. Talvez haja uma tendência maior para corpos masculinos musculosos e corpos femininos com muita magreza. No caso da Compañía Antonio Gades não costuma ser assim. Tentamos ter uma variedade de físicos muito grande – altos, gordos, baixos, calvos, bonitões, de personalidades variadas. Hoje em dia, os bailarinos também conhecem o flamenco. Antes, era mais exclusivo dos bailaores. Percebo uma mudança com a aparição da internet. Talvez haja muita informação nas redes e menos informação transmitida de geração a geração e pela vivência de momentos especiais, de festa, no dia a dia com os mais velhos. Há muita impaciência por alcançar objetivos, o que, no fim das contas, é um reflexo da vida atual. Todas as modas passam rapidamente e sempre querem mais e mais, sem considerar que, para amadurecer, é preciso ter bases sólidas e muita paciência. Mas, ao mesmo tempo, eu os considero muito corajosos por quererem defender ser artistas, algo que é muito complicado, ao menos na Espanha.

Carmen
Com a Compañía Antonio Gades. Sexta (12) e sábado (13), às 21h, no Grande Teatro do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3270-8100). Ingressos esgotados para as duas apresentações.


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