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Rastros humanos

Fotógrafo mineiro Pedro Motta lança Natureza das coisas, livro que registra 10 séries de sua pesquisa sobre a presença do homem nas paisagens naturais


postado em 15/12/2018 05:04

Utilizando interferências digitais e de desenho, o artista mantém a ambiguidade e a surpresa em suas obras (foto: Fotos: Pedro Motta/Divulgação)
Utilizando interferências digitais e de desenho, o artista mantém a ambiguidade e a surpresa em suas obras (foto: Fotos: Pedro Motta/Divulgação)


Em suas fotografias, Pedro Motta utiliza desenhos, esculturas, colagem e manipulação digital para tratar da intervenção do homem na natureza. O trabalho apresenta sutil metalinguagem, já que as mãos do artista também interferem na paisagem registrada por suas lentes. A dubiedade perpassa as 10 séries registradas no livro Natureza das coisas, organizado por Rodrigo Moura, que reúne produções recentes do fotógrafo mineiro, acompanhadas de resenhas de críticos de arte.

O lançamento põe fim a uma lacuna na carreira de Motta, cujo último livro, Temprano, saiu em 2010. Nesse hiato, o artista deixou Belo Horizonte e foi morar em São João del-Rei, no Campo das Vertentes. Suas exposições passaram a apresentar outra ótica, voltada para a paisagem rural em detrimento da urbana. “Senti necessidade de abranger, em um livro, essa nova fase do meu trabalho”, afirma.

“A pesquisa que vinha desenvolvendo era muito próxima à cidade, ao ambiente urbano e suas incertezas. Mas já se manifestava uma inquietude de artista, que sempre tive, de trabalhar o jogo de forças entre o homem e a natureza. Nos trabalhos recentes, me dediquei menos ao indivíduo e mais ao rastro deixado por ele. Hoje, mesmo no meio rural, quase não temos mais ambientes naturais. O rastro do ser humano está em toda parte”, avalia Pedro Motta.



INTERVENÇÕES

Nas séries que compõem Natureza das coisas, o homem não aparece diante da câmera. Para falar de sua intervenção no meio em que vive, o artista o tira de cena. “No momento em que é criada a fotografia, já existe uma presença humana”, atenta Motta. As intervenções diretas do autor, em cada um de seus registros, também colocam a humanidade no subtexto de seu trabalho.

Na série Flora negra, o artista inclui desenhos de personagens dos filmes Aguirre (1972) e Fitzcarraldo (1982), dirigidos pelo cineasta alemão Werner Herzog, em que a dicotomia entre homem e natureza também se manifestava. “São referências diretas aos trabalhos do diretor, inseridas em uma paisagem que é minha, criando-se uma narrativa cinematográfica, não só fotográfica”, observa. “Com essas interferências, várias camadas são colocadas, o que permite várias possibilidades de abordagem.”

Em outras fotografias, veem-se erosões em montanhas, mas não é possível afirmar se as imagens são reais ou passaram por tratamento digital. “Cria-se um atrito: aquilo foi feito por mim ou por terceiros? A imagem está manipulada ou não? A manipulação entra como um segundo plano e gera curiosidade nos espectadores. As fotografias poderão ser mentalizadas e recriadas por eles. São portais que vão se abrindo a partir dos questionamentos feitos, sempre com mais perguntas do que respostas”, avalia Motta.

FICÇÃO

Em Paisagem suspensa, ele apresenta balões flutuantes que retiram pedaços de terra do solo. Como atenta Rodrigo Moura em sua análise da série, o fotógrafo ficcionaliza a realidade para ampliar o diálogo com o público. Motta prefere deixar para a imaginação do espectador decifrar se suas fotografias contam com manipulação digital ou não.

“Dou indícios e sugestões, mas nunca certezas. A beleza das artes plásticas está justamente em deixar o outro interpretar e completar o pensamento da obra. A interlocução é o que existe de mais importante nesse trabalho”, define.

Para o fotógrafo, é dos espectadores leigos em artes visuais, sem qualquer estudo aprofundado das linguagens, que surgem as mais ricas observações. “Isso mostra a potência das artes plásticas, até onde elas podem chegar. A arte pode criar um espaço de incertezas, nesse mundo tão castrado e ditado pela ordem.”

SINTOMAS

Paisagem suspensa nasceu em uma residência artística do Ja.Ca, em 2010, no Jardim Canadá, em Nova Lima. Em Nova York, onde fez outra residência, em 2011, deu prosseguimento à série com registros no Bairro do Brooklyn e em Manhattan. Já em Jardim do ócio, Motta fotografou casas da periferia de São João del-Rei, entre construções sofisticadas, com algum requinte estético, e outras absolutamente precárias. Em várias delas, notou que um padrão inusitado se repetia: fragmentos de construções inacabadas acima do primeiro andar.

Seus trabalhos costumam revelar sintomas sociais do ambiente retratado, além de evocar questionamentos acerca de especulação imobiliária, exploração mineral, desigualdade econômica, entre outros temas. “O trabalho não tem esse cunho, mas acaba apresentando coisas inevitáveis da nossa realidade”, avalia.

“Não sou um fotógrafo viajante. Todas as paisagens presentes no livro são espaços com os quais já tive alguma relação”, revela. “Muitos acham que saio fotografando incessantemente, mas sequer ando com câmera. Vou colecionando mentalmente as paisagens e, só quando tenho o trabalho formatado em minha cabeça, parto para fotografar.”

CICLO

Motta diz que sua carreira se desenvolve de forma cíclica. Jardim do ócio, sua produção mais recente, retoma a pesquisa de onde partiu: a paisagem urbana. “Não que agora eu queira trabalhar obrigatoriamente o ambiente urbano ou o rural. Na verdade, o próprio trabalho dita o que vou fazer”, afirma.

Aos 41 anos, ele considera cedo para investir em uma biografia. Por isso, concordou com a proposta de Rodrigo Moura de convidar 10 profissionais ligados à arte para que cada um comentasse uma das séries registradas pelo livro. Além de Moura, marcam presença no livro Ricardo Sardenberg, Eduardo de Jesus, Agnaldo Farias, Ana Luisa Lima, Luisa Duarte, Nuno Ramos, Kátia Hallak Lombardi, Cauê Alves e José Roca.

“Escolhi cada série para cada um a partir da afinidade que eles teriam com os temas. São autores que já trabalharam comigo ou têm conhecimento sobre o meu trabalho”, diz Motta, que conta ter ficado muito satisfeito com as análises dos convidados. “A ideia não era simplesmente falar sobre as séries, mas das questões que partiriam delas. Dessa forma, cada um, com suas particularidades e questionamentos, informam o leitor de maneira muito abrangente.”


PEDRO MOTTA: NATUREZA DAS COISAS


. Organização: Rodrigo Moura
. Ubu Editora
. 272 páginas
. R$ 89

LANÇAMENTO

Neste sábado (15), das 10h às 14h, na Celma Albuquerque Galeria de Arte. Rua Antônio de Albuquerque, 885, Funcionários. (31) 3227-6494. Entrada franca.


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