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Estado de Minas Desigualdade social

Dia Mundial do Câncer: por cuidados mais justos

Organizações de saúde querem consicentizar as pessoas sobre as desigualdades no tratamento do câncer


04/02/2022 15:24 - atualizado 04/02/2022 15:54

Câncer
Desinformação contribui para o câncer do colo do útero ser problema de saúde pública. Doença é evitável e existe prevenção no SUS (foto: pexels-ivan-samkov)

 

Organizações do mundo inteiro, em um esforço conjunto, integram a campanha Por Cuidados Mais Justos, da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), neste Dia Mundial do Câncer, celebrado no dia 4, com a intenção de chamar a atenção para as desigualdades e mostrar que a prevenção, o diagnóstico e tratamento da doença precisam ser acessíveis a todos.

 

A Fundação do Câncer, instituição parceira da UICC nessa causa, divulgou hoje um levantamento inédito que revela que muitos casos e mortes da doença poderiam ser evitados. A pesquisa Conhecimento e práticas da população e dos profissionais de saúde sobre prevenção do câncer do colo do útero teve como objetivo identificar as barreiras e as lacunas sobre a vacinação contra HPV e o rastreamento para o câncer do colo do útero, responsável pela morte de mais de seis mil mulheres por ano no Brasil.

 

A primeira parte do estudo da Fundação do Câncer, divulgado em coletiva de imprensa na tarde de quinta (3), enfoca especialmente conhecimento, atitudes, práticas, mitos e fake news sobre a prevenção do câncer de colo do útero, tendo crianças/adolescentes, pais/responsáveis e mulheres como público-alvo.

Já a segunda etapa, em fase de finalização, abrange o conhecimento e a atuação dos profissionais de saúde relacionados à prevenção do HPV, maior causador da doença, e ao rastreamento. Os resultados apontam para as desigualdades existentes em toda a cadeia envolvida no enfrentamento contra o câncer de colo do útero.

 

O câncer de colo de útero apresenta enormes diferenças regionais, sendo os estados do Norte os primeiros colocados no ranking da doença, por falta de acesso a informações, vacinação, exames de rastreamento/confirmação diagnóstica e tratamento. “É algo inaceitável, já que vacina e exame preventivo ajudam a evitar a doença e estão disponíveis gratuitamente no SUS. Isso já é uma desigualdade extrema e injusta, e é para estas iniquidades na Oncologia que a UICC pede atenção na campanha de 2022”, destaca Luiz Augusto Maltoni, diretor-executivo da Fundação do Câncer.

 

“Nossa iniciativa com a pesquisa e a mobilização neste 4 de fevereiro faz parte das ações oficiais propostas por organizações de todo o mundo para essa campanha da UICC. A Organização Mundial da Saúde tem o objetivo de atingir, até 2030, metas que visam erradicar o câncer de colo do útero – causa de morte de mais de 331 mil mulheres por ano no mundo. Nossa ideia com esse movimento é mostrar que políticas preventivas podem mitigar o cenário de adoecimento e morte, especialmente quando já existem alternativas eficazes para prevenção”, completa.

 

A revisão sistemática da Fundação do Câncer – com base em 16 estudos que, agrupados oferece informação de qualidade a respeito da vacinação contra HPV, apontou que crianças, adolescentes e pais ouvidos desconhecem tanto a efetividade da vacina, quanto a maneira como deve ser aplicada e se rendem às fake news disseminadas a respeito. “Nosso alerta é para que haja mais informação neste sentido”, destaca a médica Flávia Miranda Corrêa, que coordenou o levantamento.

 

“Entre 26 e 37% de 7.712 crianças e jovens entrevistados, com idades entre 10 e 19 anos, não sabiam que a vacina previne contra câncer de colo de útero. Entre 53% e 76% não sabiam que previne o aparecimento de verrugas causadas pelo HPV. Especialmente quando falamos de adolescentes, é um percentual de desconhecimento muito alto”, ressaltou ela, que é doutora em Saúde Coletiva.

 

Rastreamento

 

Dados de 52 estudos, incluindo 54.617 mulheres de 14 a 83 anos, apontam para conhecimentos e práticas inadequadas entre 40% e 71%, respectivamente. Os principais motivos apontados pelas mulheres que nunca realizaram o exame preventivo foram: “não achavam necessário” (45%), “não foram orientadas” (15%) e “tinham vergonha” (13%).

 

O levantamento da Fundação do Câncer concluiu ainda que baixa renda, menor escolaridade, cor da pele parda ou negra, residência em áreas urbanas pobres e rurais estão mais associadas ao conhecimento insatisfatório e práticas equivocadas referentes à vacinação contra HPV e ao rastreamento do câncer do colo do útero, o que reforça a importância da luta contra a iniquidade.

 

Desinformação

 

Outro aspecto que mostra a desinformação é o fato de 82% dos entrevistados acreditarem que a vacina previne outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), além do HPV. “Isso é um perigo! Precisamos esclarecer que a vacina tem a função específica de evitar os danos do HPV: verrugas, lesões precursoras e o próprio câncer de colo de útero. Doenças como sífilis, contágio por HIV e demais DSTs não estão contemplados nessa imunização”, alerta a médica.

 

Outros resultados revelam um possível problema relacionado a mitos e fake news. Entre 36 e 57% do público-alvo acharam que o imunizante contra HPV não é seguro. E de 35 até 47% que pode incentivar a iniciação sexual precoce.

 

“Precisamos tratar desse tema com naturalidade e estudar maneiras de levar a informação segura e séria para esse público e suas famílias”, destaca Flávia.

 

A visão dos pais/responsáveis também demonstra o mesmo problema de desinformação: 17% disseram que não sabiam que a vacina previne câncer do colo do útero e 33% que não tinham ideia sobre a prevenção de verrugas anais e genitais; 74% imaginavam que a vacinação previne outras DSTs e 20% achavam que o imunizante poderia ser prejudicial à saúde; 22% achavam que a vacina poderia incentivar a iniciação sexual precoce dos filhos.

 

Para combater o problema, a médica Flávia Miranda diz: "Em 2014, ano da incorporação da vacinação contra HPV ao SUS, ocorreu a parceria educação-saúde para a aplicação da primeira dose, tanto nos serviços de saúde como nas escolas. "Talvez essa seja uma medida crucial a ser retomada, para que, além de facilitar o acesso à imunização, auxilie pais, alunos, professores e toda a comunidade a entender verdades, esclarecer mitos e promover realmente a saúde nas escolas, atualizando até mesmo outras vacinas", sugere.

 

Conclusões e campanhas

 

Veja as principais barreiras apontadas pela primeira parte do estudo Conhecimento e práticas da população e dos profissionais de saúde sobre prevenção do câncer do colo do útero, apresentado pela Fundação do Câncer.

 

- Conhecimento insatisfatório sobre segurança, efetividade, eficiência, população-alvo e o número de doses das vacinas

 

- Conhecimento insatisfatório sobre as recomendações para o devido rastreamento

 

- Práticas equivocadas

 

- Baixa renda, menor escolaridade, cor da pele parda ou negra, moradias em áreas urbanas pobres e rurais estão mais associadas ao conhecimento insatisfatório e práticas equivocadas

 

A participação da Fundação do Câncer na campanha mundial contra as iniquidades abrange ainda a mobilização do tema no site da Fundação (página sobre o assunto, disponível a partir de hoje – www.cancer.org.br), nas redes sociais no Dia Internacional de Conscientização sobre o HPV (4 de março) e a apresentação da segunda etapa do levantamento no Dia Mundial de Prevenção do Câncer do Colo do Útero (26 de março), ocasião em que também será lançado o curso para Profissionais da Atenção Básica em Saúde.

 

Participaram da coletiva de imprensa os consultores médicos da Fundação do Câncer, Alfredo Scaff e Flávia Miranda Corrêa, que coordenou a pesquisa, que pode ser acessada em https://bit.ly/3HvUheT, assim como a gravação da coletiva de imprensa.

 

 


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