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Estado de Minas SAÚDE DO NARIZ

O valor da memória olfativa

O olfato é tão importante que está relacionado com o paladar, com as lembranças, além de ser um alerta sobre alguns perigos e riscos do dia a dia


23/01/2022 06:00 - atualizado 23/01/2022 08:23

Lucele Karine Oliveira Cunha Rocha, otorrinolaringologista, observa exame de imagem da face
Lucele Karine Oliveira Cunha Rocha, otorrinolaringologista, diz que a maioria dos pacientes recuperam o olfato em até seis meses após a infecção pela COVID-19, porém em torno de 5%, pode perder definitivamente esse sentido (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
A variedade de odores que um nariz humano pode reconhecer é desmedida diante dos milhões de receptores olfativos e todos eles podem ser diferentes entre si. E eles entram em ação logo que o bebê nasce, enquanto os demais sentidos só vão funcionar perfeitamente depois de alguns dias de vida. Ao observar os pequenos, cientistas concluíram que a partir da primeira semana eles já reconhecem o cheiro da mãe. E ao longo da vida, são capazes de associar instantaneamente um cheiro com alguma situação pela qual já passaram.

Lucele Karine Oliveira Cunha Rocha, otorrinolaringologista do Hospital Vila da Serra, enfatiza que o olfato é um sentido complexo. “Perceber o cheiro depende de como as substâncias odoríferas chegarão às células olfatórias, que ficam predominantemente no teto do nariz, e das conexões que elas fazem com o córtex olfatório e outras áreas cerebrais, como o hipotálamo e o hipocampo, responsáveis pelo aprendizado, memória e comportamento.” Por isso, pessoas diferentes percebem odores de diferentes maneiras.

A médica destaca que pessoas apresentadas a um mesmo cheiro podem sentir aromas diferentes: “A sensação despertada por um odor pode trazer à tona lembranças e relacioná-lo a emoções passadas, como tristeza, medo, saudade. E isso modifica a maneira de percebermos os cheiros”.

A sensação despertada por um odor pode trazer à tona lembranças e relacioná-lo a emoções passadas, como tristeza, medo, saudade. E isso modifica a maneira de percebermos os cheiros

Lucele Karine Oliveira Cunha Rocha, otorrinolaringologista do Hospital Vila da Serra



Diante da intrincada performance do olfato, a médica lembra que é preciso cuidar muito bem do nariz, o órgão do olfato, que constitui a parte inicial das vias respiratórias e que filtra, aquece e umidifica o ar inalado, além de captar os aromas. E diz que nariz obstruído não percebe bem o olfato, por isso, em primeiro lugar, devemos buscar e tratar as causas de obstrução nasal. Lavá-lo diariamente ajuda a preservar o olfato.

ALERTA DO PERIGO  

A COVID-19 trouxe para o dia a dia das pessoas o termo asnomia, que é a perda do olfato e uma das sequelas da doença. Perder o olfato implica perder qualidade de vida. Interfere intimamente no prazer da alimentação e no apetite. Além de muitas vezes nos colocar em situações de risco. “A maioria dos pacientes recuperam o olfato em até seis meses após a infecção pela COVID-19, porém uma porcentagem pequena, em torno de 5%, pode perder definitivamente esse sentido. Por isso, vale procurar o especialista e iniciar o tratamento o quanto antes”, enfatiza.

Lucele Karine informa que, além da COVID-19, há outras situações em que a pessoa corre risco de perder o olfato. Ela pode ocorrer em diversas situações em que haja obstrução nasal ou alterações das vias olfativas neurais. Por isso, é importante não negligenciar o sintoma e procurar um otorrinolaringologista.

EMOÇÕES 

Lucele Karine explica que olfato e o paladar estão intimamente relacionados. Quando estamos resfriados, a obstrução nasal não permite que as substâncias odoríferas atinjam adequadamente as células olfatórias. Por não perceber o cheiro, também não sentimos adequadamente o gosto.
 
O olfato é tão interessante que é o sentido responsável não só pela percepção dos vários tipos de odores, mas também tem relação direta com o processamento das emoções e com o armazenamento de lembranças. “A falta dele pode gerar ansiedade, depressão e piora na qualidade de vida. O tratamento implica medicações, quando indicadas, e treinamento olfatório, que pode ser feito de forma caseira ou com kits especiais.”

CADA PESSOA, UM CHEIRO 

O olfato é  responsável por garantir sensações de bem-estar e confirmar que fisicamente está tudo certo com a saúde clínica do seu nariz. E a aromaterapia, terapia complementar natural que utiliza óleos essenciais e outros formatos de fragrâncias com o objetivo de melhorar o bem-estar físico e mental, reconhecida como prática no Sistema Único de Saúde (SUS), trabalha com a essência para restabelecer o equilíbrio integral.

Natália Reis, aromaterapeuta e acupunturista, entrega a uma cliente papel com um cheiro de óleo essencial
Natália Reis (E), aromaterapeuta e acupunturista, explica que os óleos essenciais são a interpretação de um aroma, então ele não é o mesmo para cada pessoa (foto: Natália Mapa/Divulgação)
Natália Reis, naturóloga, aromaterapeuta e acupunturista, ressalta os óleos essenciais como veículos para tais estímulos. “Os óleos essenciais são concentrados e têm uma estrutura química variada e complexa, e por isso fazem com que eles tenham efeitos tanto em nível físico quanto emocional. Essa composição permite que eles atuem como anti-inflamatório, antifúngico e, às vezes, como antibacteriano. Além de outros efeitos, como analgésico e anestésico.”

Na área emocional, Natália Reis destaca o óleo essencial de lavanda: “Ele é mais ansiolítico, sedativo, acalma, e vai atuar diretamente sobre o sistema nervoso central. Pode auxiliar também no processo de insônia. Os óleos essenciais têm características emocionais e aspectos específicos, alguns favorecem a pessoa ter foco mais no positivo, a entrar em contato com diferentes aspectos do seu ser e, assim, fazem com que obtenham um estado físico e emocional mais harmônico”.

Os óleos essenciais são a interpretação de um aroma, então ele não é o mesmo para cada pessoa. Cada um percebe aquele cheiro de forma diferente e a interpretação vai ser individual. Tem a ver com os processos que a pessoa viveu. Além disso, uma pessoa pode gostar muito de um cheiro em determinado momento da vida e, em outro, já não gostar mais porque está ligado a questões emocionais que ela está vivendo.  

Conforme Natália Reis, a anamnese da aromaterapia mostrará quais questões a pessoa traz e devem ser trabalhadas, além dos desafios que enfrenta na vida naquele momento. Geralmente, escolhem-se alguns óleos essenciais para fazer um teste olfativo para trabalhar as questões emocionais e simbólicas naquele momento”, diz.


PALAVRA DE ESPECIALISTA

Luciano Moreira, médico otorrinolaringologista

Olfato e o envelhecimento

“Aproximadamente, 5% da população apresenta alguma alteração do olfato. Assim como para a audição e a visão, essas alterações aumentam com o envelhecimento. Acima dos 50 anos, um quarto das pessoas têm algum grau de dificuldade com o olfato. Esse aumento pode ser causado pelo envelhecimento, mas também pelo maior tempo submetidos a infecções, traumas, medicamentos e outros agentes tóxicos. Entretanto, embora a presbiosmia (perda do olfato com a idade) seja comum, ela não pode ser considerada inevitável, mas antes um marcador da saúde geral. Paciente que envelhece bem e sem tomar medicações costuma não apresentar alterações do olfato. Além disso, é sabido que doenças degenerativas do sistema nervoso podem estar relacionadas à diminuição do olfato. No caso da doença de Parkinson e também do Alzheimer, a perda do olfato é uma queixa importante e pode anteceder os demais sintomas em 4-6 anos.”


Mulher cheira frasco de perfume
Perfume apura o cheiro (foto: Damir Spanic/Unsplash )

DOENÇAS DO OLFATO

Podem ser causadas por fator externo, ou estar relacionadas com algum distúrbio do organismo
  • Anosmia: representa a perda total ou parcial do olfato
  • Hiposmia: é a baixa sensibilidade olfativa

  • Hiperosmia: é a sensibilidade excessiva aos odores


    CÓDIGO DOS CHEIROS - CAUSAS DE PERDA DO OLFATO*

  1. Trauma craniano: por secção do nervo olfatório
  2. Infecções virais: por lesão das fibras do nervo olfatório
  3. Polipose nasal e sinusite: por inflamação da mucosa nasal e obstrução do fluxo aéreo
  4. Envelhecimento e doenças neurológicas como Alzheimer e Parkinson
  5. Alguns medicamentos
*Fonte: Portal Otorrino  
 
 

INOVAÇÃO E PESQUISAS VISANDO O BEM-ESTAR

Laboratório do Centro de Pesquisa do Olfato criado pelo Grupo Boticário. Imagem com duas pesquisadoras
O Grupo Boticário, conglomerado de beleza, anunciou a criação do Centro de Pesquisa do Olfato, área dedicada ao estudo do sentido (foto: Grupo Boticário/Divulgação)


A pandemia do novo coronavírus gerou consequências que perduram na vida dos infectados, sendo uma delas a perda de olfato durante e após o diagnóstico. O cenário lançou luz sobre a importância do sentido e a falta que ele faz no dia a dia, não apenas por seu desempenho fisiológico, mas também afetivo. Neste contexto, o Grupo Boticário, conglomerado de beleza, anunciou em novembro de 2021 a criação do Centro de Pesquisa do Olfato, área dedicada ao estudo do sentido, que, por meio do desenvolvimento tecnológico e científico, tem como objetivo fomentar e difundir conhecimento em torno do tema. Ele reunirá profissionais multidisciplinares que atuam em áreas como ciência e inovação para gerar conhecimento e incentivar pesquisas visando ao bem-estar e qualidade de vida.

Gustavo Dieamant, diretor-executivo de P&D do Grupo Boticário, afirma que o olfato é o mais complexo dos cinco sentidos. “Entre todos, é o que mais nos conecta às memórias, sensações, emoções sejam positivas ou negativas, que nos conectam ao presente, ao passado e a um possível futuro. Por natureza, somos seres essencialmente relacionais e, neste contexto, o sentido do olfato desempenha um importante papel de conexão com nós mesmos e com a sociedade, gerando identificação e emoção. Além de seu papel e desempenho fisiológico, que é responsável por nos avisar sobre o que está ocorrendo ao nosso redor e detectar ameaças de perigo, além de melhorar a nossa qualidade de vida.”
 
Ao pensar nos perfumes, que capturam intimamente as pessoas, César Veiga, expert em avaliação de fragrâncias do Núcleo de Inteligência do Olfato, enfatiza que tanto no desenvolvimento de fragrâncias, destinadas para o público feminino ou masculino – ou mesmo as fragrâncias genderless, leva-se em consideração o público-alvo, bem como suas particularidades.

“Há algumas teorias, porém, existe muito ainda para ser estudado para desvendar a complexidade que é o comportamento de cada indivíduo. Nós do Centro de Pesquisa do Olfato do Grupo Boticário acreditamos que o estudo do sentido pode levar ao entendimento mais profundo do comportamento de como nos relacionamos com nós mesmos e com a sociedade em que vivemos. O Centro atua com renomadas instituições autorizadas, que, por sua vez, conduzirão pesquisas nesta e em outras áreas e disponibilizaremos os resultados para o conhecimento da área acadêmica e da população em geral.”

Gustavo Dieamant ressalta que o olfato é objeto de estudo do Grupo Boticário há muitas décadas, especialmente pela marca-mãe, O Boticário, ser expert em perfumaria. “Dispomos de uma estrutura altamente tecnológica para o desenvolvimento das fragrâncias que estão na vida dos consumidores há décadas, além de desenvolver os tão aguardados lançamentos em perfumaria feminina e masculina da marca. No entanto, com a pandemia da COVID-19, refletimos muito sobre como poderíamos transferir nosso conhecimento de forma acessível para o nosso consumidor e para a sociedade como um todo. Podemos dizer que o que nos motivou e sensibilizou para a criação do Centro de Pesquisa do Olfato (CPO) foi a o crescente aumento de casos de anosmia, que pode ocorrer por lesão do nervo olfativo, obstrução das cavidades nasais ou ainda sem qualquer lesão aparente. Sabemos que a ausência da percepção de cheiros atingiu cerca de 86% das pessoas com casos leves da COVID-19, segundo uma pesquisa publicada este ano, no Journal of Internal Medicine.”

IDENTIDADE 

Conforme Gustavo Dieamant, a perspectiva é que o Centro de Pesquisa do Olfato contribua a curto e longo prazos à sociedade e às estratégias do Grupo Boticário. “Atualmente, contamos com cerca de oito centros de pesquisa e universidades parceiras no Brasil e no mundo, com as quais desenvolvemos estudos que estão em andamento. No entanto, por sigilo contratual, não podemos mencionar o andamento dos trabalhos até sua publicação. O que podemos dizer é que temos uma estrutura de laboratórios bastante moderna e diferenciada, conduzida por um time multidisciplinar – médicos, neurocientistas, farmacêuticos, pesquisadores, experts em perfumaria –, a fim de trazer uma visão holística de todas as vertentes técnicas.”
 

QUATRO PILARES PARA ESTUDAR O OLFATO


Laboratório do Centro de Pesquisa do Olfato criado pelo Grupo Boticário
(foto: Grupo Boticario/Divulgação)


  1. Ciências das emoções: vai se amparar na neurociência como recurso para relacionar sentidos, ativar memórias e apurar o olfato.
  2. Diversidade sensorial: terá como premissa a investigação de diferentes percepções do olfato influenciadas pela diversidade populacional, como gerações, etnias, deficiência auditiva e visual, promovendo iniciativas de inclusão.
  3. Futuro do olfato: atuará no aperfeiçoamento científico como forma de desvendar o sentido em todas suas camadas, mesmo as intangíveis.
  4. Disseminação do conhecimento: vai liderar e apoiar pesquisas acerca do tema no intuito de disseminar e democratizar conhecimento e informação para profissionais de outras áreas e sociedade. 
Fonte: Centro de Pesquisa do Olfato



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