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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Disputa entre irmãos: rivalidade é um arquétipo

Grau de distanciamento dependerá da criação somado ao entendimento da diversidade humana que circulou em casa, seja por expressões religiosas, sexuais e outras


08/08/2021 04:00 - atualizado 05/08/2021 11:31

Para psicanalista Olinta Fraga, entre irmãos pode ter diferenças, muitas vezes, irreconciliáveis. Ao mesmo tempo, há um laço tão forte, que é difícil ser indiferente ou ignorado
Para psicanalista Olinta Fraga, entre irmãos pode ter diferenças, muitas vezes, irreconciliáveis. Ao mesmo tempo, há um laço tão forte, que é difícil ser indiferente ou ignorado (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )


Ao pensar na relação entre irmãos, nas diferentes relações, uns são inseparáveis, outros não conseguem se aproximar, sempre vem a pergunta. A culpa é de quem? Da mãe, dos pais, dos responsáveis pela criação? Aliás, existe “culpa” nesta história?

A psicanalista Olinta Fraga, analista junguiana, lembra que, em qualquer situação da vida comumente as pessoas procuram fazer o melhor porque é da natureza o desejo de reconhecimento pelo outro.
 
Conforme explica, essa necessidade tende a diminuir à medida que se restaura o amor-próprio, o que implica se aceitar por completo, com as virtudes e as dificuldades.

“Quando se trata de educar filhos também buscamos fazer o melhor, por nós mesmos e por amor aos filhos, porém somos seres imperfeitos e, obviamente, por mais que queiramos não faremos o ideal. Assim podemos, por meio do autoconhecimento, crescer no sentido de melhor compreender nossas atitudes e dessa forma ter mais clareza em relação às demandas reais dos filhos.”

Para Olinta Fraga, a competição entre os filhos muitas vezes foi ingenuamente aguçada pelos pais.

“Sabe aqueles momentos que por desejo de estimular um dos filhos que é mais lento, mais introvertido, às vezes agressivo, tem medo de ir à escola etc., os pais, na melhor das intenções falam do irmão que come de tudo, que vai para a escola sem receios, que é mais corajoso, mais afetivo etc. Isto parte não só dos pais, mas também dos avós, tios, professores, babás. Está posto um estímulo a mais para a competição. Por que amais? Porque a rivalidade entre irmãos é um arquétipo, isto é, um padrão da natureza humana.” A rivalidade entre irmãos é um dos temas mais antigos do mundo. “Os educadores mais próximos se não atentarem para isto podem 'soprar' esta brasa”, alerta.

Conforme a analista junguiana, cada ser humano é único, entendimento que é preciso ter clareza. “Temos personalidades diferentes e por mais que os pais insistam que os filhos foram criados iguais, haverá diferenças. Nas relações entre os irmãos, esse fator vai ter um peso na maior aproximação ou na distância um do outro”.

Se os pais compreendem bem isso, vão tentar respeitar e ensinar o respeito às diferenças entre os filhos e isto é importantíssimo, pois essa relação horizontal é um aprendizado para lidar com as diferenças lá fora, na sociedade.

Temos personalidades diferentes e por mais que os pais insistam que os filhos foram criados iguais, haverá diferenças. Nas relações entre os irmãos, esse fator vai ter um peso na maior aproximação ou distância um do outro

Olinta Fraga, psicanalista



No entanto, ela diz que um aspecto deve ser enfatizado: não rotular características pessoais como se fosse algo fixo. Do tipo ele é “bravo”, ele é “tímido”, ele é “esperto”, “responsável” etc. Essas características provavelmente vão sofrer mudanças ao longo da vida. A questão é aprender a ouvir e desenvolver o diálogo com os filhos.


INTOLERÂNCIA AFETIVA 


Para cada fase da vida, há tipos distintos de conflitos. Olinta Fraga enfatiza que, em qualquer família, a chegada do segundo filho inaugura uma série de conflitos para o primogênito. São mudanças que ocorrerão naquele ambiente a começar pela perda da atenção exclusiva dos pais. Para esta criança vai dar início um aprendizado na lida com emoções diversas.

É a primeira experiência da diversidade, a construção de um piso emocional para lidar com as diferenças no decorrer da vida em todas as relações, algo extremamente complexo nos dias de hoje onde tem vigorado um alto índice de intolerância nas relações afetivas, no trabalho, na diversidade sexual etc.

“A condução da educação pelos pais e educadores é fundamental para o sucesso dessa aprendizagem. Os filhos crescem e as diferenças podem ser compreendidas ou não conforme o piso que vai se consolidando somado ao entendimento da diversidade humana que circulou em casa (expresso claramente ou não) pelas diferentes expressões religiosas, sexuais, aptidões profissionais, acrescido do reforço coletivo do que é ou não sucesso pessoal. Entendendo que uma boa estrutura familiar pode ser mais forte do que os valores sociais de época”, destaca.


LAÇO FORTE 


Adultos, há diferenças, muitas vezes, irreconciliáveis. Ao mesmo tempo, um laço tão forte é difícil ser indiferente ou ignorado. Daí os ruídos entre irmãos que são mais bem-sucedidos que outros. Um vendo que o outro, melhor na vida, tem obrigação de ajudar quem não é.

Para Olinta Fraga, é uma questão complexa e um bom instrumento é o bom senso e em alguns casos uma análise psicológica para aqueles que se sentem culpados por estarem melhor que os outros.

“É natural que haja diferenças por escolhas profissionais, no modo de conduzir a vida, por dificuldades na administração das finanças etc. Teremos aqueles que escolhem fazer tudo que lhes apetece e não economizam absolutamente nada e na falta do dinheiro creem que o outro de maior poder aquisitivo poderia lhe ajudar. Outros escolhem uma vida singela, vivem bem assim e não se comparam. Ou seja, existem muitas diferenças nestes caminhos que precisam ser compreendidas.”

Cada história é uma história. É preciso cuidado porque, às vezes, a rivalidade entre irmãos pode virar patologia: “E é muito comum se as partes não procuram uma ajuda. A psicologia identifica um mecanismo de defesa de nome 'projeção'. Por este mecanismo comumente vemos o problema no outro e não o vemos em nós. Uma análise psicológica ajudará o indivíduo a identificar o que é dele nesta relação e o que de fato é do outro. Isto independe de haver um fato claro para justificar meus motivos, obviamente estando aí excluídas as atitudes de um membro psicopata. Para nós, neuróticos normais, deve-se procurar responder o porquê não consigo digerir isto? O que é meu que somente vejo no outro e vendo não o suporto? Antipatias muitas vezes gratuitas. Isto exige um exercício constante de humildade e autoconhecimento. Pessoas narcisistas não dão conta desta reflexão”.


PARA ASSISTIR... RELAÇÃO ENTRE IRMÃOS NA TELA

 


1 -  “Entre irmãs”, de 2017, direção de Breno Silveira

(foto: Globo Filmes/divulgação)

Pernambuco, década de 1930. Luzia (Nanda Costa) e Emília (Marjorie Estiano) são irmãs que vivem na pequena Taguaritinga do Norte, ao lado da tia Sofia (Cyria Coentro), que lhes ensinou o ofício de costureira. Enquanto Emília sonha em se mudar para a cidade grande, Luzia se conforma com a realidade ao mesmo tempo em que lida com as dificuldades de ter um braço atrofiado, por ter caído de uma árvore quando criança. A vida destas três mulheres muda por completo quando o cangaceiro Carcará (Júlio Machado) cruza seu caminho, obrigando-as a costurar para o bando que lidera.

2 -  “Blue Jasmine”, de 2014, direção Woody Allen

(foto: Imagem Filmes/Divulgação)

Jasmine (Cate Blanchett) vive na alta sociedade em Nova York. Sua vida muda completamente quando ela se separa do marido e perde todo seu dinheiro. Com isto ela é obrigada a ir morar com sua modesta irmã em São Francisco. Agora, distante de seu luxuoso universo, Jasmine precisará reorganizar toda sua vida.


3 - “Lendas da paixão”, de 1994, direção de Edward Zwick

(foto: Divulgação)

Três irmãos, três destinos. Alfred (Aidan Quinn) é o reservado, o caçula Samuel (Henry Thomas) é o protegido, e o do meio, Tristan (Brad Pitt), aprendeu com os índios a ter um espírito aventureiro. Ao trazer de volta para o rancho do pai (Anthony Hopkins) uma bela jovem (Julia Ormond), Samuel inicia um conflito de paixões que pode terminar em tragédia para sua família.


4 - “Hannah e suas irmãs”, de 1986, direção de Woody Allen

(foto: divulgação)

Vencedor de três prêmios Oscar e apresentando um elenco de astros brilhantes, “Hannah e suas irmãs” conta a história de três mulheres inesquecíveis e exibe Allen em momento emocionalmente expansivo. A filha mais velha de um casal de artistas, Hannah (Mia Farrow) é uma dedicada esposa, mãe carinhosa e atriz de sucesso. Uma leal defensora de suas duas confusas irmãs Lee (Bárbara Hershey) e Holly (Dianne Keaton), ela é também a espinha dorsal de uma família que parece se ressentir de sua estabilidade quase tanto quanto dependem da mesma. Mas quando o mundo perfeito de Hannah é silenciosamente sabotado pela rivalidade fraterna, ela finalmente começa a ver que está tão perdida quanto todos os outros, e para poder se encontrar, ela terá que escolher entre a independência e a família sem a qual ela não pode viver.

 



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