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Estado de Minas BICICLETAS

Grupos de pedal, e de amizade, reunidos em torno das pedaladas

Apaixonados pelas bicicletas encontram uma nova forma de olhar o mundo, se exercitar e explorar outros caminhos


03/01/2021 04:00 - atualizado 03/01/2021 07:31

Danielle Delgado, de 49 anos, advogada, diz que a bicicleta te leva para lugares onde nenhum esporte pode te levar(foto: Fotos: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Danielle Delgado, de 49 anos, advogada, diz que a bicicleta te leva para lugares onde nenhum esporte pode te levar (foto: Fotos: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Praticar o ciclismo faz bem para a saúde, física e psicológica. Para quem pode dispor de tempo para as pedaladas, os benefícios são incontáveis. 

Não é à toa que os adeptos da bicicleta aumentam a cada dia. E essa é uma atividade que agrega, promove a troca e a amizade.

Os grupos de pedal acabam se tornando grandes famílias, em um movimento de bem-estar, satisfação e felicidade. Explorar novos caminhos, estar em sintonia com a natureza, perceber a própria capacidade de superação e encarar os desafios com sabedoria são alguns dos ensinamentos da magrela.

A advogada Danielle Delgado, de 49 anos, lembra da bicicleta com um cestinho onde levava quitutes para piqueniques com a irmã, quando viviam em Pedro Leopoldo.

Foi diagnosticada com câncer de pâncreas em 2013, e submetida a três cirurgias, em 2013, 2015 e 2018. Sempre praticou atividades físicas, mas precisou interromper por ordem médica, no primeiro momento.

Mais tarde, quando o médico a liberou para o esporte, em 2017, um amigo lhe apresentou a bicicleta dizendo que ia gostar. Pedalou algumas vezes, mas depois deixou de lado.
 
Quando resolveu vender a bicicleta, o funcionário da loja onde pretendia repassá-la questionou a decisão. "Eu disse que não tinha companhia para pedalar, e foi aí que ele me apresentou o grupo de pedal da Juliane. Foi paixão à primeira vista", lembra.

A mudança de hábitos foi uma transformação instantânea. Ela acorda mais cedo, agora prefere o dia à noite, se alimenta melhor, o corpo está sempre em movimento – a vida está mais saudável de maneira geral. "A bicicleta te leva para lugares onde nenhum outro esporte poderia te levar."

O empresário Wolfgang Palha Montes, de 61, terminou há pouco mais de um mês um tratamento de câncer de próstata. Está curado. Adepto na bicicleta, que faz parte de sua vida mais intensamente há 10 anos, não parou de pedalar, mesmo com a doença.

Estava obeso, sedentário, quando começou a andar de bike na Avenida dos Andradas, e teve a oportunidade de conhecer outros ciclistas. Marcavam de sair juntos e era um compromisso firme, não podia falhar, era sagrado. Daí o nome Sagrado Pedal, grupo que Wolf criou há nove anos.

CICLOVIAGENS 

Hoje, o grupo tem entre 100 e 200 integrantes, que se dividem para pedais noturnos fixos em BH e, pelo menos uma vez ao mês, para cicloviagens. Às terças e quintas, eles saem às 20h da Praça Floriano Peixoto, no Santa Efigênia, e percorrem em média de 25 a 30 quilômetros, por cerca de duas horas, dentro da cidade.

Quando ocorrem as viagens, as distâncias algumas vezes chegam a 500 quilômetros percorridos. Com a pandemia, a frequência de algumas pessoas diminuiu, mas muitas se mantêm presentes.

Wolf gosta de bicicleta desde criança. Por um tempo fez natação, mas a rotina de trabalho muitas vezes impossibilitava a atividade. Com a flexibilidade de horário, entre outros motivos, voltou para a magrela.

"A bike me traz prazer, além dos benefícios para a saúde em geral. Converso com as pessoas, faço networking, não é um esporte solitário. As pessoas estão sempre se ajudando. E a disputa é com você mesmo. Você mesmo se supera, se sente melhor, vai aumentando a performance, sem as cobranças de fora. De brinde, perdi 35 quilos", conta.

Christiana Quady Firmato tem 51, é artista plástica e professora de pintura. Faz parte do Bike de Elite e do Sagrado Pedal. Conheceu o primeiro grupo por indicação de uma amiga, logo no início da pandemia.

Confessa que, a princípio, ficou temerosa, por ser muita gente ou pelo receio de não saber andar. Começou como iniciante e agora subiu de nível. "São pessoas acolhedoras. Fui tão bem orientada, guiada, que senti segurança em continuar", declara.

Em uma descida no Taquaril, ela sofreu uma queda e fraturou costela e escápula. Mas isso não foi motivo para parar, pelo contrário. "O tombo me fez ficar mais consciente, me fez querer aprimorar e dominar melhor a bicicleta. Agora, tenho ainda mais incentivo para pedalar", continua.

Christiana se divorciou há 1 ano e meio. A bicicleta, para ela, é um grande suporte nesse sentido. "Além do aspecto físico, tem o social, a troca, a sensação de conquista, depende só de você. É como uma matilha. Você se sente pertencente. É muito bom, difícil descrever. Não tem como explicar."

A bike me traz prazer, além dos benefícios para a saúde em geral. Converso com as pessoas, faço networking, não é um esporte solitário”

Wolfgang Palha Montes, coordenador do Grupo Sagrado Pedal

O restaurador Givanildo Cesário Silva de Souza, de 43, conta que começou a pedalar por brincadeira, fazia passeios, mas a diversão tomou novas proporções há cerca de oito anos. Ele participa do Bike de Elite e do Sagrado Pedal, e também sai para pedais com amigos, outras vezes sozinho, além de viagens.

"Amizade, saúde, aventura, adrenalina. A vontade de liberdade", diz, sobre o que mais lhe encanta sobre a bicicleta, que começou a explorar primeiro por curiosidade. "Via muita gente junta pedalando, fui me aproximando, quis ter uma experiência diferente. É uma atividade gostosa, tranquila. Sempre com atenção e os equipamentos de segurança em dia."

A mãe de Givanildo lutou por três anos contra um câncer de mama, mas perdeu a batalha há sete meses. No tempo de cuidado dedicado a ela, o restaurador parou com a bicicleta e outras atividades, e só agora começa a retomar a vida como era antes, incluindo os pedais.

Ele diz que, com foco no trabalho e com a bicicleta, a superação da morte da mãe foi mais natural, por assim dizer. "Era muito ligado à minha mãe. Perdê-la me fez mais frágil. Se não fosse o trabalho e a bicicleta, provavelmente teria entrado em depressão. A união de todos e a amizade fortalece", diz.

BENEFÍCIOS DA BICICLETA 

 
» Emagrece
» Melhora o tônus muscular 
» Proporciona bem-estar
» Combate depressão, ansiedade e estresse
» Aumenta o fôlego
» Melhora a resistência física e muscular
» Não prejudica as articulações por ser de baixo impacto
» Reduz o colesterol 
» Controla a pressão arterial
» Melhora a coordenação motora
» Auxilia na recuperação de lesões ósseas e artrite
» Controla a glicemia no sangue e ajuda a prevenir e controlar o diabetes
» Elimina toxinas do corpo
» Melhora a circulação sanguínea
» Rejuvenesce
» Economiza dinheiro
» Ajuda a criar relacionamentos
» Previne más condições de saúde mental
» Aumenta a estamina, a capacidade de uma pessoa resistir por um longo período de atividade, sem se cansar, e ainda pedir mais

Exercício sem impacto

O ortopedista do Núcleo de Ortopedia e Traumatologia (NOT) Daniel Oliveira explica que, no aspecto físico, o exercício da bicicleta trabalha uma série de musculaturas, como as regiões do abdômen, lombar, glúteo e pernas, e sem o inconveniente de algumas atividades como, por exemplo, a corrida, que muitas vezes causa sobrecarga nos joelhos. "Por ser um movimento cíclico, não tem impacto, o que é bom principalmente para quem tem problemas ortopédicos, como no joelho ou na coluna", ensina.

Em outro espectro, por ser geralmente uma atividade feita ao ar livre, invariavelmente ligada à natureza, também favorece a mente, relaxa e reduz o estresse. "São várias rotas, locais de lindas paisagens, ambientes favoráveis, ainda mais nesse momento conturbado que estamos vivendo. As pessoas estão fechadas em casa, e a bike é uma válvula de escape." As atividades físicas, especialmente as aeróbicas, liberam endorfina, hormônio responsável pela sensação de prazer, bem-estar e relaxamento.

(foto: Ellen Casadonte/Divulgação)
(foto: Ellen Casadonte/Divulgação)
São várias rotas, locais de lindas paisagens, ambientes favoráveis, ainda mais nesse momento conturbado que estamos vivendo. As pessoas estão fechadas em casa, e a bike é uma válvula de escape"

Daniel Oliveira, ortopedista

O ortopedista observa o crescimento da procura pelo esporte, com um número cada vez maior de ciclistas, as oficinas de manutenção lotadas e o mercado de vendas superaquecido. "Dá para andar de bicicleta mesmo com a pandemia. É em grupo, mas com distância segura." O especialista explica que, antes de iniciar com a bicicleta, é importante primeiro fazer uma avaliação cardiológica e ortopédica, principalmente quem já tem questões cardiovasculares, limitações ou riscos, ou sente dores. "É fundamental entender quais são esses problemas para direcionar a prática adequada do esporte. Também saber que o corpo leva tempo para se adaptar e ganhar condicionamento. Comece sem exageros. Vá ganhando condicionamento e se preparando para uma atividade mais intensa."

Uma das indicações da bicicleta é nos casos de estenose, um estreitamento no canal por onde passam os nervos da coluna. Quando o paciente se inclina para trás, a compressão piora, refletindo em dores nas pernas, e, em efeito contrário, melhora na inclinação para frente, justamente a posição sobre a bicicleta. "Isso acontece principalmente com os idosos. É um processo degenerativo e de desgaste da coluna, um envelhecimento mesmo das articulações", ensina o médico. "Quando o idoso perde a capacidade de andar e para de se exercitar, eu indico a bicicleta. Reduz a dor e o incômodo", acrescenta.

Daniel Oliveira tem experiência própria com ciclismo. Começou aos 15 anos, parou por um período, passou para a corrida, mas há 18 anos teve uma lesão na cartilagem do joelho e voltou a trocar de esporte, novamente para a bicicleta. "Não provoca dor, não tem risco de derrame nas articulações, fortalece grupos musculares importantes na perna, é bom para a estabilização dos joelhos."

TREINAMENTO 

Existem grupos de ciclismo com professores e educadores físicos, que podem montar planilhas de treinamento, e são vários tipos de treinos: de força, resistência, intervalados, outros mais direcionados para diminuir peso. "O profissional vai direcionar o treino conforme o objetivo individual", orienta Daniel. Tudo sem esquecer dos equipamentos de proteção, já que, por outro lado, é um esporte sujeito a acidentes: capacete e luva, sinalizadores, se for à noite e, para quem faz ciclismo de aventura, mais radical, joelheiras e cotoveleiras.


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