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Estado de Minas Entrevista/Isabela Capelão - terapeuta e gestora do estresse

Como tornar a vida mais leve no Natal e réveillon

Diante da pandemia, terapeuta sugere uma postura mais positiva mesmo quando sentimentos negativos e tristezas invadam o coração


06/12/2020 04:00 - atualizado 06/12/2020 12:45

(foto: Ryan Pascoal/Divulgação)
(foto: Ryan Pascoal/Divulgação)


A terapeuta Isabela Capelão, especialista em gestão do estresse e fundadora da Meus Miolos, empresa especializada em soluções personalizadas para uma melhor qualidade de vida, alerta que a aceitação, e não o negacionismo, é o primeiro passo para não se frustrar e nem deixar que os sentimentos negativos e de tristeza invadam o coração. Nesta conversa com o Bem Viver, ela aponta caminhos que podem aliviar e entregar certa leveza diante da pandemia que dilacera tantos e priva a todos.
 
Como não deixar que o isolamento social tire a alegria e a esperança das festas do fim do ano, mesmo com as restrições de convívio?

As restrições de convívio já estão presentes há um tempo. É uma realidade e a primeira coisa é aceitar o que não se pode mudar e nem controlar, por mais frustrante que seja. Isso também não impede que sentimentos negativos e tristeza invadam o coração. É desagradável sim, porém não podemos deixar que a situação abale a emoção mais ainda, a ponto de piorar as coisas. Ou seja, não podemos controlar os fatores externos, mas temos controle sob a maneira de lidar com eles. Segundo estudos de Sonja Lyubomisky, professora de psicologia da Universidade da Califórnia, os fatores que influenciam a felicidade estão divididos da seguinte forma: 50% genéticos, 40% são as atividades que dependem da escolha individual e apenas 10% são as circunstâncias externas às quais o indivíduo está sujeito. Então, o que fazer? Tirar um pouco o pensamento do que está ruim, do negativo e pensar por um lado positivo, os aprendizados, ampliar a visão, apesar de parecer difícil. Além disso, em vez de deixar prevalecer a reclamação, uma boa pedida é exercer a gratidão: pensar e escrever pelo menos as coisas pelas quais você é grato diariamente e tudo de bom que ocorreu na sua vida ao longo deste ano. Além disso, conversar com as pessoas queridas – mesmo que on-line, resgatar as memórias afetivas. Não há quem nunca tenha dito a frase “esperança é a última que morre”, faça planos. Todos temos alguma história de esperança, pense bem. Sabe aquela sensação de que “isso tem jeito”!?
 

"É importante ter um propósito para se tornar a razão para seguir em frente. Além disso, a consciência da finitude faz pensar com responsabilidade sobre o sentido da vida"

 

Pensando em quem teve de lidar com alguma perda em 2020, como encontrar esperança para viver o Natal e o ano-novo? O que exercitar para encontrar uma razão para seguir em frente?

Uma coisa é fato: todos foram impactados emocionalmente pela pandemia. Otimistas podem ter ficado tristes em alguns momentos, os pessimistas podem ter vivenciado situações alegres. A diferença é que, quando a pessoa é otimista, ela tem mais esperança e acredita que tudo se resolverá e ficará bem, por pior que pareça a situação. E em todos os casos é preciso viver o período de luto, período que tem vários estágios e não é linear. Além disso, é conveniente observar os próprios sentimentos e reações para que haja maior clareza sobre esse processo e os recursos internos para o enfrentamento. Nesse tipo de situação, buscar apoio, encontrar e conversar com pessoas nas quais se pode confiar e se abrir para se sentir emocionalmente seguro são de extrema importância. O professor, médico neurologista e psiquiatra Viktor Frankl, após sobreviver aos horrores dos campos de concentração nazistas, escreveu o livro Em busca de sentido, criou a Logoterapia e a teoria sobre o sentido da vida. Ele relata que não podemos evitar o sofrimento, porém podemos escolher como vamos lidar com ele e encontrar um sentido nisso. E ainda evidencia a capacidade do ser humano de enfrentar e superar as piores situações possíveis. É a pessoa que determina o quanto resiste e o que se tornará após o acontecimento. Isto é: a essência da existência humana está na responsabilidade do indivíduo. Por isso, é importante ter um propósito para se tornar a razão para seguir em frente. Além disso, a consciência da finitude faz pensar com mais responsabilidade sobre o sentido da vida.
 
Diante dos sentimentos exacerbados nesta época do ano, como lidar com este turbilhão diante da pandemia? Do estresse ao relaxamento? Da ansiedade à resignação?

O fato de aceitar-se e permitir-se ser humano é primordial. Não há por que se obrigar estar bem e feliz o tempo inteiro. É natural em um momento ou outro experimentar emoções negativas, sobretudo diante da situação vivida neste período. O importante é não deixar com que elas permaneçam e nem dominem. É preciso estimular as emoções positivas, que servem como antídotos para as negativas, ajudando a limpar e desintoxicar a negatividade. A pesquisadora da Universidade da Carolina do Norte Barbara Fredrikson afirma que as emoções positivas são elementos fundamentais para o bem-estar humano. Diante disso, a pesquisadora identificou 10 classes, consideradas emoções-chave: contentamento, alegria, interesse, amor, gratidão, esperança, orgulho, sensação de divertimento, inspiração, enlevo (sentir-se maravilhado). Elas são capazes de nos libertar da prisão emocional e seu impacto na saúde física e mental. Um dos caminhos para fortalecer essas emoções positivas é relembrar momentos em que tenha experimentado tais emoções e vivenciar na mente, trazer à tona, relatar para alguém essa situação e o sentimento, deixar aquela sensação presente por um tempo. Rir junto com alguém é uma ótima forma de amenizar o estresse, a raiva e outras emoções negativas, já que a risada, além de aumentar o bom humor, permite que o indivíduo enxergue as coisas sobre outras perspectivas. Além disso, se dominado por emoções negativas, é importante buscar ajuda profissional médica ou terapêutica.
 

"Rir junto com alguém é uma ótima forma de amenizar o estresse, a raiva e outras emoções negativas, já que a risada permite que o indíviduo perceba as coisas sobre outras perspectivas"

 

O isolamento é necessário e responsável. No entanto, pode intensificar a sensação de solidão. O que tira o sentido das festas. Como agir?

O desânimo e essa sensação de solidão são uma forma de luto, que é considerado na psicologia como perder algo conhecido e que era importante. Essa situação intensifica a incerteza, a insegurança, e traz à tona os medos e sensação de desamparo. O isolamento e a solidão podem ser vistos como um momento de pausa para dar um passo adiante em seguida, um momento propício para refletir e pensar sobre si mesmo. Porém, o ser humano é um ser social e precisa se relacionar com outras pessoas. Então, torna-se importante que o indivíduo busque os contatos e vá ao encontro dos outros, sem ficar apenas esperando. Escolha as pessoas mais relevantes para conviver neste momento. Algumas sugestões é usar a criatividade – uma grande aliada. Trocar presentes, afetividade e carinho de forma diferente, buscar alternativas junto às pessoas para se divertirem – mesmo que de forma on-line ou a distância, ser gentil com as outras pessoas, como cozinhar algo gostoso e oferecer aos outros, e dar risadas. A solitude é um termo usado na literatura e na filosofia e se define como a capacidade de se isolar de maneira positiva e produtiva. Tal capacidade torna-se praticamente obrigatória, pois ela proporciona o crescimento. Pode ser feita a partir da leitura de um bom livro, de ouvir músicas animadas, dançantes ou relaxantes; praticar o autocuidado e fazer coisas para si mesmo. Sem a necessidade constante de estar junto aos grupos e a um grande número de pessoas. É preciso haver um equilíbrio entre solidão e solitude.

Além da confraternização, como passar pelo fim de ano sem carregar mais desafios e peso? O que sugere? 

Diversas pesquisas evidenciam que atos de bondade e ações de cunho social aumentam as emoções positivas, a vitalidade e o bem-estar. Nesse momento, têm diversas pessoas precisando de algo, seja atenção, solidariedade, demonstração de afeto até as mais carentes que precisam do básico para viver. Uma proposta: escolha cinco diferentes atos de bondade – um por semana, simples e sinceros, e que possam ser feitos com pessoas conhecidas ou desconhecidos, sem esperar nada em troca. No final, quem mais sai ganhando é você. Outra boa pedida para o fim do ano é fazer planos para daqui um ano ou mais, quando tudo estiver bem. E imaginar as conquistas em detalhes, tanto materiais quanto experiências e sensações que gostaria de alcançar. Aproveite e coloque no papel essa lista dos desejos e faça planos de ação para colocá-las em prática e concretizá-los. Fim de ano também é momento de reflexão, então aproveite para pensar tudo de bom que aconteceu, os aprendizados gerados por essa pandemia, as habilidades desenvolvidas, agradeça por estar vivo e identifique aquilo que pode melhorar no próximo ano. Além disso, é interessante aproveitar o fim de ano para fazer atividades relaxantes e descansar, descobrir um novo hobby, encher a casa de flores, provar novos sabores e viver novas experiências de forma positiva e engrandecedora. 


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