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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Mudança do hábito alimentar deixa prato do brasileiro mais saudável

Sem radicalismo, muitas pessoas têm reduzido, gradualmente, o consumo de carne e proteína animal, prática chamada de flexitarianismo


08/11/2020 04:00 - atualizado 08/11/2020 01:25

(foto: congerdesign/Pixabay )
(foto: congerdesign/Pixabay )

Impulsionado ou não pelo caos da pandemia do novo coronavírus, ao longo dos últimos anos, o brasileiro, aos poucos, tem revisado e mudado o hábito alimentar.

Ainda que o churrasco seja preferência nacional para grande parte das pessoas, o consumo de carne vermelha no dia a dia tem reduzido e dado espaço não só para as hortaliças, como sendo substituído pelo frango, peixe, ovo, soja, quinoa e tantos outros alimentos também ricos em proteínas e que podem assumir o papel da carne.

Desse comportamento, surge a prática alimentar chamada flexitarianismo. Não é radicalizar e eliminar a proteína animal do prato, mas dosá-la. Diferentemente do vegetariano e do vegano, os adeptos desse movimento gostam de carne, mas se sentem bem com o menor consumo.

A redução gradual do consumo de alimentos de origem animal nas refeições diárias é a marca do flexitarianismo. A palavra, flexitarian nasceu da junção em inglês de “flexível” e “vegetariano” e foi popularizada pela nutricionista norte-americana Dawn Jackson Blatner.

Os seguidores destacam não só os benefícios à saúde como também ao meio ambiente, ainda que este efeito tenha opiniões polêmicas e divergentes. Há quem acredite e discorde.

Estudo da Nature Getty aponta que, para impedir que a temperatura global suba mais de 2oC até 2050, é fundamental a diminuição do consumo de alimentos de origem animal. A pesquisa recomenda o aumento da ingestão de leguminosas, legumes, verduras e nozes, visando reduzir o impacto de sistemas de produção que geram maiores danos ambientais devido à alta emissão dos gases de efeito estufa.

Por outro lado, há quem saliente o alto risco de lidar com os transgênicos (produtos geneticamente modificados) e os inúmeros pesticidas usados no cultivo dos vegetais. No Brasil, em 2020, até agora, o governo já liberou 346 substâncias; em 2019, foram 474, recorde histórico desde a divulgação pelo Ministério da Agricultura, que começou em 2005.

Crítico de modismos e a favor da alimentação equilibrada e balanceada, o médico endocrinologista Adauto Versiani Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais (SBEMMG) e membro do corpo clínico do Hospital Felício Rocho, enfatiza: “Mamíferos e carnívoros.

Essa é a origem do ser humano. Por isso, tiramos todos os nutrientes essenciais da proteína animal. É possível tirar da proteína vegetal? Não todas, vai precisar de suplementação, complementação de aminoácidos e vitaminas, como B12, ferro e leucina”.

Adauto Versiani explica que, para manter a massa magra, é preciso que a pessoa consuma 1g de proteína por quilo do peso. Para recuperar ou ganhar massa magra, a regra é de 1,2g a 1,5g de proteína e, caso seja um atleta de elite, a recomendação é de 2g de proteína por quilo de peso, que vai depender da atividade que desempenha.

O endocrinologista alerta ainda que, em caso de pacientes com doença renal, é preciso reduzir a ingestão diária de proteína para 0.8g por quilo de peso.

Mas, para quem quer mesmo diminuir gradativamente o consumo de proteína animal, Adauto Versiani cita substitutos como soja, feijão, lentilha e tofu. Mas avisa: “Cuidado para não incorrer no risco de aumentar a ingestão de carboidratos e, assim, ganhar peso. O carboidrato dá uma hora de saciedade, a proteína quatro, tem a digestão mais lenta”.

O ideal, alerta o endocrinologista, é que ao consumir carne sempre escolha as frescas e magras. Nunca processadas, além de evitar linguiça, presunto, salsichas, entre outros. O ideal é que de duas a três vezes por semana consuma carne branca, frango ou peixe.

Em 1º de novembro, foi comemorado o Dia Mundial do Veganismo, o que ocorre desde 1994, uma iniciativa de Louise Wallis, presidente da The Vegan Society na época, na Inglaterra, com o intuito de homenagear o 50º aniversário da organização e a criação dos termos vegano e veganismo.

Dados de uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), em 2019, apontam que o Brasil já tem quase 30 milhões de vegetarianos, cerca de 14% da população total.

Esses números são gerais e englobam tanto os ovolactovegetarianos, ou seja, que incluem na alimentação ovos e laticínios, quanto os veganos, que excluem da dieta todos os produtos de origem animal.

Esse desejo de mudança é registrado em pesquisas por diversos países. Em uma delas, a da ADM, empresa global em nutrição, identificou seis mudanças comportamentais emergentes. Dados da pesquisa ADM OutsideVoice mostraram que 77% dos consumidores têm a intenção de manter-se saudáveis no futuro, muitos influenciados pela pandemia da COVID-19.

Entre os pontos, chama a atenção os alimentos à base de plantas, que se tornam mainstream. A pesquisa revelou que, nos EUA, 18% dos consumidores de proteínas alternativas compraram sua primeira proteína vegetal durante a pandemia, e quase todos (92%) relataram que continuarão comprando produtos alternativos à carne.

Na Alemanha, no Reino Unido e na Holanda, 80% dos consumidores afirmam que, provavelmente, continuarão consumindo carne vegetal depois do novo coronavírus.

Danielle Morreale, publicitária e mestre em educação e relações institucionais do Sebrae/MG, revela que cresceu em um lar onde a alimentação sempre foi uma preocupação.

“Quando criança, meus pais seguiam uma dieta macrobiótica. A minha mãe é italiana, de origem siciliana, trouxe também uma base alimentar do Mediterrâneo, que é uma das melhores do mundo. Então, fui acostumada a comer de forma equilibrada. Ao longo da adolescência, me perdi e passei a comer bastante carne, fast-food, açúcar de forma exagerada, diariamente.”


INTESTINO, HUMOR E DISPOSIÇÃO 


Além de eu ter perdido bastante peso, percebo claramente como melhoraram a minha disposição e o meu humor. Sem falar na melhora do funcionamento do meu intestino, associado aos outros hábitos da própria dieta %u2013 como a substituição também do trigo, mais ingestão de água e fibras. Outro destaque que vale a pena ressaltar é a pele, que melhorou muito

Danielle Morreale, publicitária

O sinal de que precisava resgatar as boas origens da alimentação ressurgiu para Danielle em 2016, depois que teve seu filho: “Reduzi o consumo de carne e comecei a ter um acompanhamento mais severo com a minha nutricionista. Depois de alguns testes, descobri que o funcionamento do meu intestino (peristáltico lento) estava totalmente relacionado à ingestão de carne”.

Danielle enfatiza que não gosta de nada que seja radical, então a diminuição do consumo de carne e derivados ocorreu de forma gradativa.

“Fui retirando aos poucos a carne vermelha e a de frango, e passei a consumir apenas a de origem orgânica. O maior desafio é encontrar os substitutos certos, sobretudo em restaurantes.”

A publicitária conta que o objetivo da mudança é assegurar o bem-estar, saúde e longevidade. “Então, a redução da carne é completamente benéfica para o funcionamento do meu corpo, além da questão física. Quanto menos consumo, me sinto melhor e mais disposta. Meu desejo no futuro é zerar, mas não tenho como meta me tornar vegetariana como estilo de vida ou ativista.”

Danielle passou a consumir mais cogumelos, “que é uma fonte incrível e saborosa de proteína”, e também alguns substitutos do leite e derivados, como leites vegetais, requeijão e queijo de castanhas, “que são deliciosos”.

Danielle está feliz com sua escolha: “Além de eu ter perdido bastante peso, percebo claramente como melhoraram a minha disposição e o meu humor. Sem falar na melhora do funcionamento do meu intestino, associado aos outros hábitos da própria dieta – como a substituição também do trigo, mais ingestão de água e fibras. Outro destaque que vale ressaltar é a pele, que melhorou muito”.



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