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Estado de Minas A longo prazo

COVID-19 pode gerar sequelas como dor, ansiedade e depressão

Pesquisa da Faculdade de Medicina da UFMG, em parceria com Hospital das Clínicas e outras instituições de saúde, investiga possíveis efeitos futuros e prolongados da infecção pelo novo coronavírus


09/09/2020 11:06 - atualizado 09/09/2020 11:30

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
A batalha contra o novo coronavírus pode não estar completamente vencida após a alta hospitalar. Isso porque alguns sintomas podem persistir por meses e até anos, comprometendo a qualidade de vida dos recuperados da doença. É o que indica a literatura já existente sobre o assunto e o que tem sido observado em pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da UFMG com pacientes internados no Hospital das Clínicas da universidade.

Um primeiro grupo de 35 pessoas que vem sendo acompanhado pelos pesquisadores desde julho deste ano relatou, um mês após a alta, sentir dor e impactos no estado emocional com sintomas de ansiedade e depressão, além de fraqueza nos braços, fadiga e falta de ar. E pelo menos um terço teve capacidade reduzida para realizar esforço físico. A expectativa é de que, até o final da pesquisa, que tem duração prevista de um ano e meio, cerca de 400 pacientes sejam acompanhados.

A professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, Carolina Marinho, coordenadora do estudo, explica que alguns desses sintomas, como dor e falta de ar, podem estar relacionados especificamente com a COVID-19. "A doença acomete o tecido pulmonar, lesionando o alvéolo, unidade que faz a troca de oxigênio por gás carbônico", esclarece.

Quanto à fraqueza muscular, não é possível dizer se a sequela tem relação com a doença ou se é consequência da imobilidade durante o período de internação hospitalar, que costuma ser de pelo menos uma semana. "Por um lado, o processo de inflamação aguda da COVID-19 ativa uma resposta inflamatória, que pode produzir lesão direta em nervos periféricos e músculos, produzindo fraqueza. Por outro lado, temos o descondicionamento físico que é provocado pela imobilidade", explica Carolina Marinho.

A pesquisa ainda está no início, mas já é possível observar que algumas das sequelas da COVID-19 identificadas nesse primeiro grupo de pacientes persistam por até dois anos. Isso se o novo coronavírus seguir a mesma tendência da SARS-CoV, outra doença causada por vírus da mesma família, identificada em 2002. "Estudos relataram que 30% dos pacientes da SARS-CoV tiveram problemas pulmonares por até dois anos", compara a especialista.

Após esse período, são os casos considerados crônicos, quando as sequelas são permanentes, o que também é uma possibilidade para a COVID-19. Existem ainda casos de pacientes que estiveram no Centro de Terapia Intensiva (CTI) por outros motivos e permanecem com condições relacionadas à internação até cinco anos depois.

Até o momento, a percepção de dor, ansiedade e depressão foram as mais prevalentes entre os participantes do estudo. Carolina Marinho percebe que a saúde mental pode sofrer impactos devido ao isolamento do paciente durante a internação, em que paciente fica privado de visitas familiares e, em alguns casos, sem contato por celular com os entes e amigos.

Pacientes relatam ainda sentir medo de se contaminar no ambiente do hospital e, quando a COVID é confirmada, o medo passa a ser da incerteza da evolução da doença. Já aqueles que precisam ir para o CTI, usam ventilação mecânica e não ficam conscientes durante todo o período de internação, podem apresentar lacunas na memória. "Essa falta do entendimento do que aconteceu naquele período é outro fator relacionado a internação que pode alterar a saúde mental", complementa a professora. Além dos pacientes que permaneceram internados, é possível que aqueles que tiveram a doença, mas se trataram em casa, também manifestem sintomas persistentes.

Pesquisa recente divulgada no Journal of the American Medical Association (JAMA) analisou 143 pacientes na Itália. Desses, apenas 12,6% foram internados em UTI, mas 87,4% relataram persistência de pelo menos um sintoma por mais de dois meses, como fadiga e falta de ar. As estatísticas gerais da pandemia mostram que 80% dos infectados apresentam a forma leve, cerca de 20% são graves e precisam ir para hospitais e por volta de 5% vão para a terapia intensiva.


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