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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Empatia, aflorada na quarentena, é a regra de ouro da inteligência emocional

Identificar-se com o sofrimento do outro e ajudá-lo é um dos efeitos desta pandemia. Deixar de enxergar só a si e buscar o altruísmo


postado em 26/04/2020 04:00 / atualizado em 24/04/2020 14:54

Renata Mafra, psicóloga, diz que a pandemia tem feito o mundo sair do umbigo e olhar pela janela(foto: Arquivo Pessoal)
Renata Mafra, psicóloga, diz que a pandemia tem feito o mundo sair do umbigo e olhar pela janela (foto: Arquivo Pessoal)


É possível pensar que a pandemia do novo coronavírus deixará um legado? Será que existirá uma transformação sólida enquanto sociedade e a empatia estaria neste contexto?
Como as respostas a tais questões só serão formuladas no futuro, por ora, é possível analisar possíveis efeitos. A psicóloga Renata Mafra, coordenadora do curso de psicologia da Estácio, propõe uma análise sobre um tripé: empatia, altruísmo e felicidade.

Renata Mafra explica que, mais do que se colocar no lugar do outro, empatia é sentir o que o outro sente, ainda que imaginariamente. Ela destaca a abordagem do psicólogo Daniel Goleman, considerado o pai da inteligência emocional: “A empatia é a regra de ouro da inteligência emocional para experimentar a emoção do outro, se sensibilizar, ter consciência, contextualizar, enxergar e estar, de alguma forma, em equilíbrio com as emoções”.

No entanto, Renata Mafra destaca que o mundo pré-pandemia vivia no piloto automático: “Ela chega e obriga todos a prestarem atenção à vida. A sociedade mundial foi convocada, forçosamente, a enxergar o entorno. O piloto automático leva as pessoas para o egoísmo. Egocentradas, não escutam o outro. De repente, entre tantos exemplos, têm de lidar com a desigualdade social, com a situação do SUS, com a violência doméstica. Tudo que sempre esteve aí, presente, mas que parecia não nos atingir – ‘Ah, isso não é comigo’”.

Para Renata Mafra, a pandemia tem feito o mundo sair do umbigo. “E não há metáfora melhor do que as janelas. Elas ganharam um lugar quase artístico. O olhar para fora do próprio umbigo, ver o vizinho, a árvore em frente ao prédio, o cantor que, sem palco, encontra a plateia na varanda”, diz.

O altruísmo, ensina Renata Mafra, é o contraponto do egoísmo: “A empatia leva ao altruísmo, o se voltar para o outro. Não há como ser altruísta sem a empatia. Resta saber se a pandemia despertará um altruísmo que já estava ali e foi aflorado pelo momento ou, na verdade, ninguém dava visibilidade a ele. O importante é que os dois podem ser desenvolvidos e tornar inspiração e motivação, na presença ou ausência de uma pandemia, para que mais pessoas ocupem o espaço além das janelas”.

Segundo a especialista, nunca é tarde para assumir um papel que é transformador tanto para quem recebe quanto para quem se doa. É quando compreendemos que não estamos sozinhos, conforme nos ensinou Carl Rogers, pai da psicologia humanista: ‘A empatia é um modo de ser, que me permite experimentar temporariamente a vida, os sentimentos, a experiência do outro e assim, há uma transformação de si e do outro que se sente escutado, compreendido, percebido. Não há invisibilidade na empatia’. O que não pode é o falso altruísmo, alerta a psicóloga: “Aquele que ajuda para se livrar da própria angústia, dos olhares de julgamento, que atua mais no palco do que no bastidor”.
 

TRANSITORIEDADE 


Para destacar a felicidade, com interpretações rasas e banalizadas no mundo de hoje, Renata Mafra começa pela visão de Aristóteles que a associava com a prática do bem, e também a do monge budista Matthieu Ricard, que no livro Felicidade – A prática do bem-estar, Editora Palas Athena, lembra que “a visão de felicidade desafia as nossas noções cotidianas de alegria, constituindo um convincente argumento em favor do contentamento, em vez da busca da diversão; em favor do altruísmo, em vez da saciedade autocentrada”.

O piloto automático leva as pessoas para o egoísmo. Egocentradas, não escutam o outro. De repente, entre tantos exemplos, têm de lidar com a desigualdade social, com a situação do SUS, com a violência doméstica

Renata Mafra, coordenadora do curso de psicologia da Estácio

Ela cita ainda Freud, que disse a um amigo poeta, deprimido, no período da guerra: “A flor que dura apenas um dia não é menos bela daquela que dura mais”. Ou seja, é preciso reconhecer a beleza diante da transitoriedade: é justamente porque as coisas são transitórias que mais a amamos, mesmo sabendo que iremos perdê-las porque “o sentimento que fica conosco, incorporado, é a lembrança de que a felicidade é sempre possível, e que pode ser buscada a todo instante”.

Para Renata Mafra, a felicidade no mundo atual virou mercadoria, objeto de consumo. “Ninguém veio ao mundo para sofrer, buscamos a felicidade, é inerente à condição humana. Mas felicidade não é ausência de sofrimento, é um estado de equilíbrio e harmonia, de se sentir pleno, em paz, apesar do sofrimento. É saber atravessar a dor ciente do processo transitório, tudo tem começo, meio e fim... a própria existência.”


Trabalhos voluntários para fazer sem sair de casa



Diante da impossibilidade de sair de casa, o voluntariado on-line ganha força e se mostra como ótima forma de 
ajudar quem precisa sem ter que se deslocar até uma organização social. Marcelo Nonohay, voluntário e diretor da MGN 
Consultoria, empresa especializada em gestão de projetos para transformação social, aponta ações possíveis.

1 – Adote uma pessoa idosa: converse virtualmente com alguém que precisa ficar isolado. A pesquisadora Marília Duque criou uma campanha “Tem um anjo da guarda no meu WhatsApp” para incentivar a população a fazer companhia virtual aos idosos. A ideia é que você pratique isso com a sua própria rede de contatos, com foco na máxima “pense pequeno, comece por perto”. Pergunte aos amigos, preste atenção nos vizinhos. Com certeza, perto de você, existe uma pessoa idosa que mora sozinha e que vai ficar feliz em ser sua protegida. Como agir? Mande mensagens de manhã, à tarde e à noite. Pergunte como está, se dormiu bem, se comeu, se teve febre, se teve tosse. Esteja disponível para conversar e pronto a orientá-la sobre como buscar orientação médica. Pode também mantê-la informada com notícias de fontes confiáveis.

2 – Compartilhe algo que você saiba fazer e ofereça às pessoas: você é professor de ioga? Grave aulas e as distribua gratuitamente. Essa prática tem forte poder de acalmar a mente e o corpo. O mesmo para quem é personal trainer e pode ensinar exercícios para fazer em casa. Ou para quem é nutricionista e pode dar dicas de uma alimentação saudável para aumentar a imunidade. E se não trabalha com nada disso, pode pensar em algo que saiba fazer e oferecer esse serviço, seja por meio de vídeos e/ou textos de forma on-line. Aulas de reforço escolar, ensino de línguas, iniciação musical, artesanato, até mesmo fazer planilha de orçamento e organização financeira.

3 – Escolha uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI) e faça uma campanha de arrecadação: as ILPIs são instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania. A MGN fez um levantamento on-line e são mais de 230 ILPIs contactadas, nos 26 estados e Distrito Federal, todas com necessidades imediatas. A ideia é acolher uma delas na cidade onde você vive e planejar uma campanha de arrecadação de materiais de higiene pessoal, roupas, alimentos ou dinheiro para doar à organização.

4 – Doe notas fiscais para organizações sociais: uma forma de ajudar as organizações da sociedade civil (OSCs) a aumentarem sua renda e dar continuidade aos seus projetos sociais é doar suas notas fiscais e/ou registrar diretamente o CPF de entidades participantes do programa de notas fiscais do seu estado. E isso pode ser feito em casa. Treze estados brasileiros têm esse programa com regras específicas. É preciso consultá-las para efetuar a doação. São eles: Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo e Sergipe.

5 – Receita do bem: compartilhe receitas que ajudam a reaproveitar alimentos e acabar com o desperdício. Muito se tem falado sobre a necessidade de estocar alimentos, mas não é necessário. Todas as reações em cima do isolamento social, contudo, estão levando a reflexões sobre sustentabilidade e desperdício de alimentos. Por isso, se é um assunto que o atrai, por que não usá-lo como trabalho voluntário? Há inúmeras receitas que ensinam a reaproveitar alimentos. Aprenda e ensine por meio das suas redes sociais, utilizando a sua própria rede de contatos. Escolha receitas que sejam saudáveis, baratas e que aproveitem ao máximo os ingredientes.


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